sexta-feira, 26 de março de 2010

ENTRE O LICEU PÚBLICO E O LICEU DO POVO - texto de Nádia Barreto Rosário


Caríssimos e caríssimas. A seguir algumas importantes considerações sobre o interesse pelo Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, mais do que seu prédio, sua importância social, cultural e educativa. Por Nádia Barreto Rosário



O Paço/Cine Liceu pode sim ser um puta equipamento cultural, desde que seja um espaço de produção, fruição, comunicação e aprendizado cultural e artístico... desde que seja um LUGAR vivo... desde que seja dinâmico e produtivo... desde que seja daquilo que já era o Liceu para mais... desde que seja da cidade, com a cidade, para a cidade... desde que seja democraticamente acessível à todos...


...e seria muito louvável que uma Secretaria de Cultura pudesse fazer aquilo reflorescer como tal, explorando a sua vocação de tribuna popular, de ambiente educativo, de espaço de experiência e construção de tecnologias educacionais atualizadas e oportunidades educativas reais e democráticas...


... talvez isso se desse até mediando a ocupação do prédio por uma instituição cultural engajada na luta pela educação, afirmação e desenvolvimento sustentável da comunidade negra e que pudesse cumprir função social similar à cumprida pelo Liceu por mais de um século (o Instituto Cultural Steve Biko, por exemplo... )...


...ou, quem sabe, levantando o próprio Liceu... por que não?!?

Lembro que quando descobrimos as falcatruas administrativas, até sonhamos com a intervenção do Estado no Liceu para que não sucumbisse aos seus tantos e tamanhos parasitas... uma ação de Estado para que a cidade não perdesse um equipamento cultural tão valioso - uma organização histórica da sociedade civil com grande acúmulo de capital simbólico e enorme potencial de renovação e crescimento... uma ação para promover o Liceu trazendo a vocação do seu nascimento, das Conferências populares com José do Patrocínio... da luta pela aboliação e pela afirmação sócio-política-econômico-cultural do povo negro, através da educação e da atualização da sua capacidade produtiva gabaritada... o Liceu das Conferências capitaneadas pelos jovens talentos... o Liceu vocacionado para adaptar-se às novas realidades e necessidades da cidade e da população jovennegradeclassespopulares... inclusive o Liceu do Projeto Arte, Talento e Cidadania e da tecnologia de educação pela arte ...


... só não acredito que o Paço/Cine Liceu possa realizar sua vocação como equipamento educativo-cultural da cidade, passando a ser sede de órgãos do serviço público... não acredito que, sem um projeto de ser Liceu, gestado e discutido com a sociedade, essa ocupação do Paço/Cine vá salvaguardar a estrutura física ou a "entidade/identidade cultural" do Liceu


...creio que ocupar o Paço desta forma dissociada do Liceu é subtrair suas possibildades, é só ocupar e zelar pelo IMÓVEL e sonegar à cidade o verdadeiro BEM CULTURAL e sua DINÂMICA, e seu potencial movimento criativo, produtor de arte e conhecimento


...é negar à cidade a oportunidade de fruí-lo como espaço educativo e como LUGAR de gozo e aprendizado artístico-cultural... afinal, a sede administrativa de uma secretaria de cultura pode coMviver com a entidade/identidade Liceu? ocupar este LUGAR tão prenhe de si com uma burocracia institucional não seria abortar a POSSIBILIDADE que o Liceu ainda é?


... a imagem que me vem é de sobreposição, de sepultamento... onde pode brotar novo rebento, você planta uma árvore adulta que já existe grande e bem noutro lugar...


...porém... não cabe a nós agora, trabalhadores sérios e traídos, abrir mão de direitos em função de... que proposta? ... e penso que também não cabe ao Estado que não interviu no saneamento administrativo e não impediu a queda do Liceu, agora se ocupar do seu "caixão"... a partir do momento que o Paço é garantia de direitos trabalhistas, é bem provável que aqueles que se acham "donos" do Liceu estejam usando de uma manobra para dar calote nos trabalhadores, manipulando o Estado e a opinião pública com esse repentino e suspeito zêlo pelo imóvel e pelo patrimônio da humanidade... querem mais é garantir que o bem imobiliário caríssimo não saia do seu alcance...


... por mais louvável que seja a intenção da SECULT, por mais que se pense em salvaguardar os direitos da sociedade soteropolitana de ter seu patrimônio preservado, não se há de fazê-lo em detrimento dos direitos dos trabalhadores, operários, educadores, artistas e produtores culturais da "maior categoria" (com a licença poética sérgiosouteana) que foram enganados e roubados até aqui... ...


... também cabe cobrar da Secretaria de Cultura, com todo o respeito, que não se envolva na lama que tem rolado ali e seja lá qual for a sua posição, não prejudique os trabalhadores já tão prejudicados...


...por que não pensar numa saída que inclua a reativação do Liceu e a solucão para o impasse trabalhista, ao invés desta que ameaça perpetuá-lo?


Por que o Estado não adquire o imóvel, se o quer, através da quitação dos débitos do liceu para com os trabalhadores...?


Por que não faz, em parceria com a Secretaria de Educação e trabalhdores do Liceu, uma intervenção que reative o Liceu como um projeto educacional piloto, escola-modelo, implementando a tecnologia de educação pela arte que foi desenvolvida no Programa Educacional do Liceu?


A juventude soteropolitana agradeceria por um modelo de educação mais prazeroso, criativo, participativo, eficaz, eficiente e efetivo!


...não podemos, nós, sair dessa história como algozes insensíveis, mercenários que só pensam no seu dinheiro...


...somos sim, junto com os jovens, a cidade e a própria entidade/identidade Liceu, duplamente vítimas dos verdadeiros crimes contra este patrimônio, ao que tudo indica, mal administrado, e degrado por incompetência, improbidade administrativa, sonegação de impostos, estelionato, etc.


E tenho dito... EPA BABÁ!


Nádia é mestra em Sociologia e atuou como coordenadora de Sistematização do Projeto Cuida Bem de Mim do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia

4 comentários:

  1. Fico muito triste em ver o Liceu nesse estado. Minha formação pessoal e artística passou pelo Paço e sou muito agradeciso a ele. Amigos fiz e conquistei passeando pelos corredores mo Saldanha. Espero que o governo de todo "nós" pos sa resolver isso.

    Welington Junior
    Jornalista

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  2. Obrigada, Welington. DÊ uma força aí pra gente, que jornalista é bicho influente. Abraços.

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  3. Passo pelo Paço, coração em descompasso!
    Beijão e axé, Dri!
    PS: fiquei massageado com a "licença poética sergiosouteana", viu Nádia?

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  4. Oh, grande Sérgio, saudade, querido.

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