Patrícia Pires Pacheco, a nossa adorada PPP, é amiga de longas datas. Ainda não é loba, mas eu precisava de um título, né... E como hoje é dia das mães, publico aqui seu depoimento emocionado, sobre suas recordações feministíscas sobre o futebol e sobre a iniciação de seu filho macho Bahêa no ritual do futebol. De quebra, umas palavrinhas saudosistas do papai de Jerônimo, mais uma baêazinho retado.
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Eu não gosto de futebol.
Mas já foi pior... até pouco tempo atrás eu odiava futebol.
Na infância acho que meu desgosto era um tipo de solidariedade à minha mãe que até hoje acha o futebol uma grande besteira. E assim, mesmo durante as tais copas do mundo eu e ela não estávamos nem aí. Além disso, eu sempre associei o esporte à violência, rivalidade, competição, conflito, palavrões e essas coisas não levam ninguém pro céu... Por que eu fazia essas associações? Talvez pelos tipos de cenas que eu observava na TV, ou quem sabe pelas vezes em que meu pai voltava (e ainda volta) machucado do babas domingueiros.
Comunidade do baba domingueiro promovido por meu pai. |
http://www.orkut.com.br/Community?cmm=90115380
Mais crescidinha, entre a adolescência e a vida adulta eu até tentei não ser tão rígida... me vestia de verde-amarelo na copa, me deixava contaminar pela alegria do povo, tentava entender as regras e coisa e tal mas... nada.
Acho que meu “ódeo” começou a perder força quando passei a acompanhar o programa ROCKGOL na MTV
Gente, eu me divertia muito com aqueles comentaristas esdrúxulos, cômicos e inteligentes. Adorava!
Daí, acho que comecei a relaxar, continuava sem gostar de futebol, mas ele não mais me irritava tanto. Junto com isso acredito que meus estudos durante a graduação em antropologia me fizeram ver aqueles aspectos culturais do esporte, os significados para o ser brasileiro e tal e coisa e coisa e tal. Sem contar que comecei a perder o medo de não ir pro céu e admitir que afinal “violência, rivalidade, competição, conflito, sangue, suor e lágrimas” é também coisa de deuses.
Fase 1 - Primeiro uniforme completo aos 3 anos. |
Posso dizer que hoje o único engasgo que ainda permanece em mim, mesmo nesse âmbito da compreensão acadêmica do futebol como fenômeno sócio-cultural (uau!), é essa coisa do dito-cujo ser uma representação do universo machista. E sendo assim, penso que pior do que nós mulheres estarmos de fora dele é estarmos dentro mas em cantos determinados pra nós: ora como enfeites nas arquibancadas, ora no papel das chamadas “maria-chuteira”.
Mas, ranços feministas a parte, tem uma coisa que atualmente é responsável por essa minha (quase) simpatia por esse complexo cultural chamado futebol: a paixão da minha amiga querida Adriana Amorim. É lindo ver ela torcendo, se envolvendo , comentando, participando, analisando... E é tão interessante essa relação entre teatro e futebol e as dinâmicas entre espetáculo e espectador. Hoje, Diana é uma referência futebolística pra mim (rsrs), tanto que só lembrei dela quando eu e Heron fomos levar nosso filho de 5 anos para o seu ritual de iniciação no universo futebolístico – fase 2 - ir ao estádio (a fase 1 é vestir o uniforme completo e expor a criança para que todos saiba pra que time afinal ela torce, e a fase 3 é ir ao estádio em dia de clássico – que pretendo “liberar” daqui uns 10 anos...)
Infelizmente Diana não estava lá nesse dia, bem, nem ela nem quase ninguém já que escolhemos um jogo “morninho” só para gatos-pingados. Mesmo assim, cheguei tensa imaginando mil-maluquices-de-uma-mãe-neurótica que poderiam acontecer naquele espaço enoooorme, imponente, palco de espetáculos sangrentos... ops, isso eram nos coliseus rsrsrs
Chegamos cedo(bem cedo, na verdade), e achei lindo aquela bandeirona estendida do lado de fora.
Entramos e aprendi que antes de cada jogo tem um outro jogo(ninguém merece! rsrs) dos mesmos times só com jogadores aprendizes, não profissionais, de base ou coisa parecida.
E enquanto a bola oficial não rolava o pai aproveitou para levar o filho pra dar uma voltinha no estádio.
A partida de verdade rolou finalmente, era Bahia x Serrano. O pai se encarrega de explicar algumas coisas específicas do jogo e eu mostro pra ele um pouco dos bastidores como a repórter que vemos na TV, etc. Lá pelas tantas uma jogada infame do Bahia é seguida pelos esbravejos de alguns torcedores esbravejam e meu filho diz gritando: “Ô, não fala assim com o Bahia!” Todos riram do que ele ainda não aprendeu.
O jogo antes do jogo ou “se não guenta, pra que vêio!!”. |
Aí então, já quase no final do primeiro tempo começou a chover. E foi aquele corre-corre danado, muda de lugar, se esconde nas barracas, mas não teve jeito, ficamos encharcados.
Mas tudo bem, não pode ter “batizado” sem água, né?
Começamos a assistir o segundo tempo mas o nosso pequeno iniciado - que já tinha visto tudo que tinha que ver, comido tudo que tinha que comer - já estava exausto e impaciente para ir embora. Para convencê-lo a esperar mais um pouco enquanto o pai debruçava seu olhar de esperança sob o campo, improvisei uma bola com uma garrafa de água mineral vazia e, acreditem, mãe e filho se divertiram muito trocando alguns passes. Por fim, para garantir a tranqüilidade de todo o rito, saímos pouco antes do fim do evento.
E foi assim Diana, a estréia de Jerônimo no estádio, espero que você e seus leitores gostem!
P.S.: Dedico esse texto ao meu pai, torcedor do Santos e que até hoje joga seu baba domingueiro.
P.S.2: Gente era só pra falar da estréia do meu filho e eu acabei fazendo um “Essa é a minha vida” falando de futebol... tá vendo só o poder do dito-cujo!
Não basta ser mãe, tem que vestir a camisa. |
DEPOIMENTO DE HERON, O PAI
Filho mascarado e pai orgulhoso. |
Bi,
Minhas memórias daquele dia são muito agradáveis. Foi a segunda vez que fomos juntos a um jogo do Bahêa, e desta vez com Jerônimo. Foi um dia onde tudo deu certo, desde o local do estacionamento, travessia da av.Paralela, compra de ingressos, lanches e bombons! O estádio estava calmo. Repeti com a nossa cria o ritual da apresentação ao futebol que recebi de meu pai. Assim como eu, ele fez um reconhecimento do espaço físico do estádio, da atitude e postura das pessoas, da energia da torcida, da sensação de ver o jogo ao vivo, de interpretar o placar eletrônico, etc. Viu Paulo Sergio com Dandan, também todo vestido de Bahêa. Adorou chamar os ambulantes mercando bombons, pipoca, água, sorvete, etc. Reagiu quando os próprios torcedores do Bahêa chingaram o time. Viu a carga viva de um gol do Bahêa, que ganhou o jogo!!
A chuva, que causou aquele reboliço inicial, acabou me levando ao prazer de reencontrar Davi, um antigo, e querido , colega de trabalho de meu pai, o qual tive o prazer de conviver quando fiz estágio na Petrobrás (em 1988), por 6 meses, no próprio ambiente de trabalho deles. Quando eu ainda era bebê, e tive uma virose, esse mesmo colega deu grande auxílio a meu pai nos levando a um hospital, numa época que meus pais ainda não possuíam automóvel. Foi profundamente emocionante reconhecê-lo ali na lanchonete do estádio, depois de ser (novamente) amparado por ele, para quem eu havia me prostrado de costas, e que só pude reconhecer quando me virei para agradecer o pequeno recuo que aquele cidadão havia dedicado a nós três, ali ao amparo da chuva. Coletei o número do celular dele e entreguei a meu pai, que emocionou-se juntamente com suas lembranças.
Já no final, encontrei Vavá, amigo, colega de especialização e de mestrado, que me comunicou da primeira gravidez de sua esposa, enquanto olhávamos você e Jerônimo brincando de futebol com uma garrafa de plástico.
Saímos antes do final do jogo. Uma saída tranqüila de volta pra casa. Enfim, foi um dia muito feliz mesmo!
bj,
Bê
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É bolada, mamãe-torcedora!
Dianaaaaaaaaaaa, que massa ver o texto aqui!! A-d-o-r-e-i o título, afinal a Loba está nas redondezas... e adorei a sincronicidade com o dia das mães! Obrigada amiga e... FELIZ DIA DAS MÃES!!!! Beijos.
ResponderExcluirEu também ameiii!!!
ResponderExcluirbeijo na Loba e na Camaleõa