terça-feira, 27 de julho de 2010

CAFONICE REzIDêNchiAL CLâB EM CARTAZ no CREDICá RóL

Já se foi o tempo em que cafonice era um dos poucos privilégios de pobre. A moda agora parece que é ser cafona em termos imobiliários.Quanto mais chique, mais cafona, permitam-me a antítese.

Edifício, agora, é mais que isso, É impossível. Impossível compreender porque essa obsessão de rico por prédios com nomes estrangeiros. Eu sei que essa discussão é mais velha que andar pra frente, mas é que já tá ficando engraçado andar de ônibus pelas ruas de Salvador - sobretudo pelas bandas da Paralela - e ficar olhando os out-doors (ai, ai) de lançamentos imobiliários. Claro que dá tempo de ler tudo, nada se move na Paralela...

E o que se vê é uma sucessão de nomes em outras línguas, uma mistura de inglês com francês e um portuguesinho de vez em quando. Parece uma música tosca tocada insistentemente em nossos ouvidos, porque são tantos out-doors, e bus-doors e tudo-doors que a gente não tem nem o direito de não ler nada. Não deveria ter um limite pra isso, não? Até caminhão no acostamento com TV LED fica enchendo o saco da gente agora nos engarrafamentos. Para não ler nada, meu amigo, só fechando os olhos. Os publicitários ainda não perceberam, mas eu tenho pra mim que é tanta coisa pra ler que a gente já não lê quase nada. Ou melhor, lê mas bota a informação naquele quarto escuro que só vai ser acessado quando a gente estiver caducando. Mas, voltemos aos nossos empreendimentos imobiliários. Tem que ser poliglota pra falar tudo certinho.


Vamos à cantilena:

Le Parc Residential Resort (Eu nem vou entrar no mérito de que isso é uma cidade a parte, para quem quer fugir de Salvador e seus problemas urbanos e sociais)
Paralela Place
Art Residence
Acupe Exclusive
Art Ville
Forest Ville
Garden Ville
Palm Ville (todos de Alpha Ville - o mundo perfeito, sem ralé, terra dos teletÂbies)
Iluminato Residence
City Park
Boulevar Side
CEO - Corporate Executive Shopping (morar dentro de um shopping center, deus é mais!!!)
Quintas Private Residences...

Cansou??? Isso é só uma amostragem, um show-room, se preferirem, ou seria uma show-list??? E isso é pra ficar só nos 'residential', viu, não falei dos 'business' e 'corporates' e 'trade center' da vida...


Eu não consigo entender essa obsessão. Só pode ser cafonice aguda, porque temos uma Língua tão linda, meu Deus, com tantas possibilidades, com uma melodia maravilhosa. Agora a gente tem que ficar rodando a língua pra falar esses nomes horrorosos... Parece que a gente não tem palavras que substituam essas aí. Sinceramente, viu. Tenho um carisma pelos nomes brasileiros: Morada das Mangueiras, Conjunto Residencial Arvoredo, Solar do Garcia, Edifício Vila Real, Condomínio Residencial Ipê, e até do CHOPM II que eu morei no Cabula e nem sei o que quer dizer. Deve ser Conjunto Habitacional sei lá o que da Polícia Militar, apesar de que eu morei lá e nunca fui polícia. Hoje em dia nem Mansão é mais coisa chique, veja só. Tem que ser Maison, que na língua original é só casa mesmo.

E aproveitando a deixa, acho que a crise dos nomes fica mais grave ainda quando os patrocinadores de espaços culturais colocam seus próprios nomes nos teatros e casas de cultura. Tudo bem que tem que divulgar, mas daí a botar o nome no espaço já é um pouco demais, né, não. Credicard Hall, Teatro Vivo (esse pelo menos quando a empresa morrer, aproveita-se o nome...). O Tom Brasil em São Paulo virou HSBC Brasil. Alguém tem que fazer isso parar. E aqui em Salvador: Espaço Cultural LG & Insinuante. LG é marca de eletrodoméstico e Insinuante é uma loja de móveis que faz aqueles comerciais gritados que enchem o saco dia e noite. Merecem ter o nome num espaço cultural, só porque deram uma graninha? Aff. Não dá nem gosto entrar em cartaz num lugar com um nome desses. Pelamordedeus. Um nome que não diz nada de relevante, que não homenageia ninguém, que só diz quem foi que deu o dinheiro.


Onde é que a gente vai parar com valores como estes? Uma língua que ninguém respeita. Uma cultura onde quem dá o dinheiro é o grande homenageado (homenageado por si mesmo - cabotinismo). Eu fico imaginando quem deu essa GRANDE idéia e a equipe executiva adorou e a moda pegou e ninguém reclamou e ficou por isso mesmo, essa tristeza.

No futebol não é diferente. Você não sabe mais quem é o jogador, porque a camisa do coitado parece aquelas 'publicações' de supermercado. E ainda por cima a logo da frente e das costas da blusa é tão grande que parece que é o nome do time. Eu não sei se eu tô delirando, mas já ouvi ou li alguma coisa sobre o nome dos times levar o nome do principal patrocinador. Imagine. Veja o Ronaldo. Tem toda uma vida contada na camisa do Timão. No sovaco: AVANÇO, na bunda: LUPO e por aí vai. Daqui a pouco vão colocar JONTEX na frente do short. Se bem que não, né... jogador de futebol não parece ser dado a proteções do tipo. Não é uma boa divulgação para o produto. Podia botar marca de laboratório de DNA.

Bom, piadas sem graça à parte, isso aqui é um assunto sério. O cúmulo mesmo é a TAÇA LIBERTADORES DAS AMÉRICAS, um nome lindo onde o futebol homenageia os líderes revolucionários da América Latina, virar TAÇA SANTANDER LIBERTADORES DA AMÉRICA. Essa realmente é pra matar qualquer cidadão com o mínimo de bom senso. Quando é que um banco privado vai se interessar pela Liberdade na América Latina??? Muito ao contrário.

Que valores ficam para os nossos jovens? O que de fato importa? Sei que esses exemplos parecem detalhes, bobagens, mas não são. Não são e quem os escolhe, quem decide aberrações como estas sabe disso. Existe uma coisa 'batistaca' que não pára e que de alguma forma vai manipulando a cabeça da gente e a gente nem percebe. Nossos jovens vão crescer achando que é assim mesmo, que isso é o natural, o certo, tudo o que temos: Copiar uma língua estrangeira e homenagear empresas.


Viva o Teatro Martin Gonçalves, o Teatro Dias Gomes, o Teatro Raul Seixas. Viva o TEATRO OFICINA que não virou nem nunca vai virar TEATRO WORKSHOP. Ainda tem muito artista para homenagear, ou mesmo data, ou mesmo nomes bonitos apenas, nomes poéticos, nomes produtivos, sei lá, nomes que falem de nós, ainda que estes nomes HORROROSOS - repito - por menos que queiram, por mais que fujam do que somos, estão falando de uma pobreza cultural que querem atochar na gente a qualquer custo. Ficarão para a história, estas práticas lastimáveis como marca de nosso colonialismo cultural que não cessa, mas contra a qual nós continuaremos lutando sempre, por mais que queriam tachar a nós - não eles - de cafonas.

E vamos nós, entre um residential e outro, entre um edifício aqui, um anunciozinho ali tentando entender o que é mesmo ser brasileiro em tempos tão trogloditas, digo, poliglotas.

E bolada, leitor-morador-brasileiro!!!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Não me ligue às 7h30 da noite. Tô vendo TiTiTi


Os machões do futebol que me perdoem, mas hoje vou falar do futebol das mulheres: A novela!!!

Eu tenho cá minhas paixões e minhas ressalvas com novelas. Paixões, porque elas me criaram. Suas imagens, trilhas, sonoras, figuras, questões, aberturas, figurinos, quadro de horários pautam a vida de todo brasileiro. Quando era criança sabia que era hora de jantar porque começava a novela das 7. Sabia que era domingo, porque não tinha novela. Ressalvas por conta de todo o conteúdo ideológico que ela veicula, sobretudo de questões de gênero, de classes sociais e de padrões de vida. Mas, não se pode negar que ela dialoga com nosso dia-a-dia de forma espantosa e que ainda estamos longe de saber se ela reproduz ou produz a sociedade que a consome.

Minha mãe continua adicta de novelas. Quando faço minhas críticas sócio-político-ideológicas sobre as novelas, ela defende: "Não fale mal de minhas amigas! São elas que me fazem companhia na solidão das noites." Como continuar discutindo?

Nas últimas décadas, porém, as críticas são também estéticas. É inegável que as novelas não têm tido mais aquela pegada de antes. A dramaturgia enfraquecida, a direção tosca e muito pouca criatividade no ar (literalmente). Fico me perguntando se quem mudou fui eu ou de fato a qualidade das novelas, e inclino-me a achar que mudamos ambas. Mas, ainda acho que o nível das novelas caiu mais do que meu nível de exigência aumentou, até porque sou do popular, não é à toa que brigo pelo futebol no meio acadêmico.

Assim, a última novela que acompanhei mesmo, com muita vontade foi talvez O Cravo e a Rosa e lá já se vão dez anos. Mas, de repente, eu e todo o Brasil somos tomados pela inusitada volta de TiTiTi. Digo volta, porque é um remake tão bem feito, não enquanto cópia ou imitação, mas como recriação mesmo. Outros remakes foram feitos, sem a mesma comoção. Irmãos Coragem, um fiasco, Paraíso, quase... Uma delícia foi a volta de Pantanal, não numa nova produção, mas na re-exibição, e agora Ana Raio e Zé Trovão que faz com que trintões como eu virem uns saudosistas, rindo de seus cabelos pigmaleão e de suas 'calças-pra-que-blusa', tendências inquestionáveis da época. Trouxeram também - estas produções da extinta Manchete - a saudade de um outro tempo de recepção estética, onde tudo era mais lento, o tempo dilatado, as cenas silenciosas numerosas, as falas mais poéticas.

Mas, voltemos a TiTiTi.

Quando vi as chamadas, já fiquei emocionada, porque me lembrei da minha infância, quando passou a primeira versão. Eu tinha 11 anos e usava as saias de napa de Xuxa, as ombreiras de Cláudia Raia e o cabelo de Robby do Menudo. Dançava fricote e ia aos bailes do Polivalente. Minha primeira música lenta foi num desses bailes cujo maior sucesso era a luz 'estrobo'. Era No more lonely nigths de Paul McCartney, que eu só saberia que tinha sido um Beatles muitos anos depois. Eu adorava Jack Le Clair e Victo Valentin. Falar Victor, com ênfase no 'K' era o must. Lembro - porque uma amiga me fez lembrar agora - das bonequinhas vestidas no manicômio. Lembro-me da minha amizade com minha irmã mais velha, que imagino estar adorando a idéia de ver Tititi de novo.

Quando vi que a abertura era com a mesma música, cantada (senão estou enganada) por uma Rita Lee mais madura e a mesma (meu deus!!!) a mesma arte da abertura, eu quase chorei. Pense o que era para uma criança de 11 anos aqueles desenhos, aquelas tesouras e agulhas brigando. E um detalhe importante: minha mãe é costureira e eu cresci entre tesouras, linhas e carretéis. Acho que - como meu filho hoje - a gente esperava mais pela abertura do que pela novela em si. E quais-quais-quari-quais-quais... e Ney Matogrosso, "me diz que sou seu tipo, me diz, meu bem, que eu acredito..." tudo de bom.

E o mais bárbaro é que o elenco desta nova produção é simplesmente MA-RA-VI-LHO-SO! Tenho minhas questões com Murilo Benício, enjoei dele um pouco, adoro Alexandre Borges, AMO Malu Mader, Cristiane Torloni e acho que até os egressos de Malhação tão dando um caldo. O casal gay de Minas é muito bom, gosto de ver as cenas com eles. Agora o TiTiTi de fato é ela, a bela, a exuberante, a maravilhosa da Cláudia Raia.

Meu Deus, que 'raia' de mulher é essa? Ela é simplesmente genial. As cenas dela com Borges são as melhores das muitas boas da novela. A cena em que Jack dá um colar para ela e ela fala do presente que recebeu do Massa, é demais. E hoje, ela falando pra viúva que ela estava ótima de preto e que agora que o marido morreu poderia usar o quarto dele para aumentar o closet. Demais.

Tem também a grande sacada do momento da moda que estamos vivendo, a profissionalização, as diversas áreas envolvidas, as questões que são levantadas como a magreza das modelos, o tudo pela fama. A cena do primeiro capítulo, quando Jack LeClair pergunta pra filha (que estuda moda na faculdade) o que é lady-like e ela explica. Aí ele chama ela pra trabalhar com o pai no ateliê, ela diz que não pode, porque tem trabalho na faculdade. O pai retruca: E você acha que moda se aprende na Faculdade? E a filha responde: E você acha que o que vc faz é moda??? E o filho cabeção pergunta se eles não têm assuntos mais relevantes para se ocupar... Enfim, um saque maravilhoso. Tenho cá pra mim que este vai ser o acontecimento do ano da Globo e se a moda pega - e que quero mais é que pegue mesmo - façam remakes à altura de outras pérolas como a melhor de todas: Roque Santeiro. E mais Cambalhacho, Fera Ferida, e quem lembrar de outras bota aí no comentário.

Bom, acho que deu, né. Eu ficaria aqui escrevendo páginas e páginas, mas não sei se vocês querem ler tanto. Senta a bunda no sofá, esqueça as cabeçudices da vida e curta esta obra de arte, linda e deliciosa que a Globo - com quem eu pego meus paus - está a nos oferecer. Quem sabe ela não volta a ser aquela Globo, que nunca foi santa, mas pelo menos era celeiro de artistas da envergadura de Dias Gomes, pra citar só um. Jorge Fernando e Maria Adelaide Amaral estão de parabéns, junto com toda a equipe de hoje e obviamente de outrora que fez nascer o sucesso.


Quero ver é dia de terça, que tenho aula do doutorado de noite. Oh, meu deus, vou ter que ver no youtube... rsrsrs.

É bolada, telespectador.

domingo, 18 de julho de 2010

ESTAR SENDO, TER SIDO - Hilda Hilst

"... e eu choro, Hermínia, choro de velho que estou, ou que me sinto. Choro porque não sei a que vim, porque ficquei enchendo de palavras tantas folhas de papel... para dizer o quê, afinal? do meu medo, um medo semelhante ao medo dos animais escorraçados, e pânico e solidão, e tantas mesas tantos livros tantos objetos... esculturas, cerâmicas, caixas de prata... aliso-me e minha pele está cheia de manchas e meio amarela... não sei o que é, mas sinto que devo ir a algum lugar onde encontrarei alguma coisa. alguma coisa ligada a alguma luz, talvez um laranja, um amarelo dando para o ferrugem ou para o tijolo..."

domingo, 11 de julho de 2010

16 de julho - 60 anos de uma tragédia brasileira

"O brasileiro já esqueceu da febre amarela, da vacina obrigatória, da gripe espanhola... mas o que ele não esquece nem a tiro, é do chamado frango de Barbosa." Nelson Rodrigues.

No dia 16 de julho de 1950, o Brasil viveu um dos episódios mais marcantes de sua história. Os que acharem um exagero, fechem a janela e podem ir embora. Era a derrota para a Celeste, em pleno Maracanã. Seus principais personagens: Barbosa e Ghigia.

Jogando pelo empate, num Maracanã absolutamente lotado - fala-se em 200 mil espectadores - o Brasil perde de 2 X 1 de virada (eh, placar que nos assombra).

Bradava o Prefeito do Rio de Janeiro: “Brasileiros, vós que daqui a alguns minutos sereis sagrados campeões do mundo. Vós que não tendes rivais em todo planeta. Vós a quem eu já saúdo como vencedores. Cumpri minha palavra construindo este estádio. Cumpram agora o seu dever, ganhando a Copa do Mundo.”

Não houve vitória. Deu-se a inesquecível tragédia.

Para celebrar a data (o bem que o tempo faz!!!) estou escrevendo um artigo sobre o episódio, que deve ser publicado em breve.

A seguir, alguns vídeos sobre o momento marcante, sob diferentes pontos de vista.

BARBOSA - O GOLEIRO INJUSTIÇADO:



O CARRASCO GHIGIA:



NOSSA TRAGÉIDA NARRADA EM CASTELLANO:

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O caso Eliza, e não o Caso Bruno - uma questão de gênero

Talvez eu tenha evitado falar sobre este assunto, porque os assuntos que viram a febre-do-momento nos noticiários me enchem bastante o saco, mesmo quando são comoventes como este ou como o caso Isabela. Como tenho crianças, evito ao máximo ver jornais e todas essas versões escabrosas que eles têm da vida, que eu considero muito mais linda do que isso.

Evitei também, porque por mais que as evidências sempre levassem ao goleiro Bruno, tentei inúmeras vezes pedir às pessoas que tivessem paciência e não julgassem sem que houvesse provas. Agora, o caso parece estar cada vez mais perto de uma conclusão, apesar de ainda não estar tudo esclarecido. Porém, não vou falar necessariamente sobre o caso Eliza. Sim, o caso Eliza e não o caso Bruno. Não é no mínimo instigante que a imprensa trate o caso como "O caso Bruno"? Muito provavelmente porque as pessoas se interessem pelo destino do goleiro famoso e não pelo destino da jovem Eliza. Quem iria acompanhar o caso de uma jovem de 25 anos assassinada por seu ex-amante?

O que me instiga a escrever, porém, são algumas posturas e comentários que tenho ouvido por aí, sobre o caso.
Lembro-me que há algum tempo numa das nossas aulas de doutorado, houve um debate sobre Bruno ter dito que batia na namorada de vez enquando e que isso não era um problema. Tive que me posicionar a favor do futebol, porque, acreditem ou não, o papo era de que isso era coisa de futebol, que babaridades como estas vinham do universo futebolístico. Argumentei que isso não era verdade, era uma vontade de querer ver assim, e dei como exemplo o caso do Diretor da Escola de Medicina da UFBA que disse que baiano era burro e que só tocava berimbau porque era instrumento de uma nota só. Logo, bobagens se dizem a três por quatro e não deve ser muito produtivo olhar a questão por um prisma tão amplo como apenas o ambiente em que se diz uma bobagem ou outra. Jamais defendi o que Bruno disse, mas também não posso aceitar que sua fala seja usada para dizer que é coisa de futebol.

Agora a gente vê toda essa comoção da mídia em cima da história de Eliza. Os casos CSI's são sempre os que a mídia mais adora, porque como no universo da teledramaturgia eles vêm em capítulos. Cada dia uma nova descoberta, novas cenas, novos personagens. Luiz Marfuz, em sua dissertação de mestrado intitulada A DRAMATIZAÇÃO DA NOTÍCIA - A construção do personagem de Leonardo Pareja nos telejornais, analisa esse tipo de comportamento tanto dos meios de comunicação, quanto do próprio envolvido. É o reality-show levado ao seu limite máximo, onde não sabemos se é mais reality ou mais show. Mas também não é este o foco do post.

O que tem aparecido em muitos discursos agora é algo do tipo: "tudo bem que ele 'exagerou' mas ela procurou", ou ainda "os dois estavam errados"! Dá pra acreditar? É possível que alguém em sã consciência consiga atribuir algum tipo de culpa a essa moça? Consiga encontrar justificativa numa barbaridade dessas? Aí não me venham dizer que são apenas os loucos por futebol que pensam assim. (Eu sou louca por futebol e não penso assim). Obviamente este é um pensamento extremamente machista, nojento, asqueroso e insquisidor, mas não acho nada difícil senhoras 'moralistas' estarem pensando o mesmo, até porque há mais senhoras machistas do que podemos acreditar. E senhoras aqui é apenas um termo mais pomposo, pois há garotas, moças e mulheres que dificilmente conseguem se colocar no lugar de uma outra igual ao julgar questões que envolvam relacionamentos entre gêneros.

Lamento profundamente o destino dessa jovem. Lamento o destino de seu filho. Lamento a dor do pai que vê o nome de sua filha assim num história tão bárbara alimentando as páginas e telas de jornal. Lamento a inversão de valores, como citado acima, onde o grande foco da história é o goleiro Bruno e não a vítima.

Não vou fazer teses sobre nenhum dos pontos acima, porque não sou especialista em nada disso. O que sei sobre feminismo ou sobre a dor e a delícia de ser uma mulher é apenas tudo aquilo que já vi e vivi nestes 35 anos de muita luta, alguns desapontamentos e uma certeza de que este é um assunto que não pode ser negligenciado. Quantas mulheres passam diariamente por violências como essa no silêncio e no escuro das paredes de seus quartos? Quantas histórias dramáticas evolvem filhos bastardos, sedução de menores, promessas de felicidade ou qualquer outra coisa parecida com isso?

Eliza não é, nem de longe, culpada por seu fim trágico. Ainda que ela tenha tentado se usar da gravidez para ganhar dinheiro, ainda que ela tenha feito loucuras e bobagens para se tornar uma maria-chuteiras bem sucedida. Ainda que ela tenha feito ameaças ao goleiro de contar isso ou aquilo a quem quer que fosse. Se isso tudo for verdade, será preciso ainda considerar tudo o que leva uma moça a acreditar que este é sua melhor perspectiva de futuro. Mas nada disso, repito, nada disso justifica um crime como estes, ou qualqquer outro crime. A culpa é desses homens truculentos que mataram talvez por estes motivos, mas que - não se enganem - matariam por qualquer outro.

terça-feira, 6 de julho de 2010

DUAS VEZES FREI BETTO

Tenho especial admiração pelo trabalho de Frei Betto, tanto por sua atuação política, quanto por sua prática religiosa - que no fundo acabam por ser a mesma coisa - já que eu mesma cresci dentro da Igreja Católica, em catecismos, Legiões de Maria, concursos de trechos da Bíblia, crisma e Grupo de Adolescente Nova Geração (creia, é verdade!!!)

A seguir dois textos desse grande homem sobre assuntos aparentemente distintos, mas tão próximos entre si e tão próximos de todos nós, por motivos que se evidenciarão no próprio texto.

O último texto, li no blog Futebol e Verbo, do jornalista Rodrigo Viana (vide lista de blogs)e o primeiro foi gentilmente encaminhado por George Matos, amigo que já andou por estas páginas.

Vamos, Frei Betto:



Futebol é arte e religião
Por Frei Betto

Sou um analfubola. Ou seja, nada entendo de futebol. Todas as vezes que me perguntam para qual time torço, fico tão constrangido como mineiro que não gosta de queijo.

Torci, na infância, pelo Fluminense, do Rio, e o América de Belo Horizonte. Influência materna. Mais tarde, fui atleticano por um detalhe geográfico: minha avó morava defronte do estádio, na Avenida Olegário Maciel, na capital mineira. E só. Sem contar a emoção de ter estado no Maracanã na noite de 14 de novembro de 1963 para assistir, misturado a 132 mil torcedores, àquele que é, por muitos, considerado o jogo dos jogos, a disputa entre Santos e Milan pelo Mundial Interclubes!

Hoje, me dou ao luxo de assistir, pela TV, às decisões de campeonato. Escolho para quem torcer. E não perco Copa do Mundo. Jogo do Brasil é missa obrigatória.

Eu disse missa? Sim, sem exagero. Porque, no Brasil, futebol é religião. E jogo, liturgia. O torcedor tem fé no seu time. Ainda que o time seja o lanterninha, o torcedor acredita piamente que dias melhores virão. Por isso, honra a camisa, vai ao estádio, mistura-se à multidão, grita, xinga, aplaude, chora de tristeza ou alegria, qual devoto que deposita todas as suas esperanças no santo de sua invocação.

O futebol nasceu na Inglaterra e virou arte no Brasil. Na verdade, virou balé. Aqui, tão importante quanto o gol são os dribles. Eles comprovam que nossos craques têm samba no pé e senso matemático na intuição. Observe a precisão de um passe de bola! No gramado, imenso palco ao ar livre, se desenha uma bela e estranha coreografia. Faça a experiência: desligue o som da TV e contemple os movime ntos dos jogadores quando trombam. É uma sinfonia de corpos alados. Fosse eu cineasta, editaria as cenas mais expressivas em câmera lenta e as adequaria a uma trilha sonora, de preferência valsa, ritmando o flutuar dos corpos sobre o verde do gramado.

O Brasil conta com 190 milhões de técnicos de futebol. Todos dão palpite. E ninguém se envergonha de fazê-lo, como se cada um de nós tivesse, nessa matéria, autoridade intrínseca. Pode-se discordar da opinião alheia. Ninguém, no entanto, ousa ridicularizá-la.
Pena que a violência esteja contaminando as torcidas. Outrora, elas anabolizavam, com sua vibração, o desempenho dos jogadores.

Agora, disputam no grito a prevalência sobre as torcidas adversárias. E, se perdem no jogo, insistem em ganhar no braço. A continuar assim, em breve o campo será ocupado, não pelo time, e sim, como uma grande arena, pelas torcidas. Voltaremos ao tempo dos gladiadores, agora em versão coletiva.

Quando ouço a estridência de vuvuzelas, como um enxame de abelhas a nos picar os tímpanos, penso que os torcedores já não prestam atenção ao jogo. Querem transferir o espetáculo do gramado para as arquibancadas. O ruído da torcida passa a ser mais importante que o desempenho dos jogadores.

Nossa autoestima como nação se apoia, sobretudo, na bola. Não ganhamos nenhum Prêmio Nobel; nosso único santo, frei Galvão, ainda é pouco conhecido; e nossa maior invenção – o avião – é questionada pelos usamericanos. Porém, somos o único país do mundo pentacampeão de futebol. Se a história dos países europeus do século 20 se delimita por duas guerras mundiais, a nossa é demarcada pelas Copas. E nossos heróis mais populares eram ou são exímios jogadores de futebol. A ponto de o mais completo, Pelé, merecer o título de rei.

A Copa é um acontecimento tão importante para o Brasil que, no dia do jogo da nossa seleção, se faz feriado. Se vencemos, a nação entra em euforia. Se perdemos, somos tomados por uma triste estupefação. Como se todos se perguntassem: como é possível o melhor não ter vencido?

Gilberto Freyre bem percebeu que na arte futebolística brasileira mesclam-se Dionísio e Apolo: a emoção e a dança dos dribles são dionisíacos; a força da disputa e a razão das técnicas, apolíneos.
Criança, eu escutava futebol no rádio. Quanta emoção! Completava-se a imaginação com a descrição do narrador. Hoje, não há locutores na transmissão televisiva, apenas comentaristas. São lerdos, narram o óbvio e, palpiteiros, com frequência esquecem o que se passa no campo e ficam a tecer considerações sobre o jogo com seus assistentes.

“Futebol se joga no estádio? Futebol se joga na praia, futebol se joga na rua, futebol se joga na alma”, poetou Carlos Drummond de Andrade. Com toda a razão.


Fonte: caderno de cultura do jornal Estado de Minas - edição de 01/07/2010

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Passeio Socrático
Frei Betto


Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir:

- "Qual dos dois modelos produz felicidade?"
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei:

- "Não foi à aula?"

Ela respondeu: - "Não, tenho aula à tarde". Comemorei:

- "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde".

- "Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã..."

- "Que tanta coisa?", perguntei.

- "Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada.

Fiquei pensando: - "Que pena, a Daniela não disse: "Tenho aula de meditação!"

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! - Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!" Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é "entretenimento"; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!"O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor.. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno.... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald's…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático." Diante de seus olhares espantados, explico: Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz


Sobre o Autor
Frei Beto : Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, escritor e assessor de movimentos sociais, é autor de "Típicos Tipos" (A Girafa), prêmio Jabuti 2005, entre outros livros.

domingo, 4 de julho de 2010

O COMENTÁRIO QUE FOI PROMOVIDO A POST

Gente. Minha queridíssima Karina de Faria fez um comentário no último post (perder é tão ruim), mas talvez muitos não leiam, por ser um comentário. É um texto tão bom, mas tão bom, que tenho a obrigação de publicá-lo aqui, enquanto post. Obrigada, amiga.

Deliciem-se, e aproveitem para conhecer o blog de seu grupo, que também é tudo de bom.


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Então amiga

Ontem; apito final, Brasil fora da Copa, momentos de torpor, silêncio, tristeza. Muitas coisas passam pela cabeça. Na minha, uma delas foi: “preciso ler o que Adriana vai escrever”.

Eis-me aqui!

Preciso dizer que também admiro Dunga. Independente do resultado, vejo-o como um homem de caráter, com uma dignidade rara nos dias de hoje. Ou pelo menos raramente divulgada nas notícias que apostam no apelo da exposição de figuras corruptas e personalidades arrogantes e violentas. Acho-o corajoso por apostar no coletivo. Ainda que você tenha dito, com razão, que há um importância fundamental do talento individual no futebol, entendo que aquele que se destaca, se destaca porque há outros ao seu redor que possibilitam esse destaque. E isso amiga Adriana, vale tanto para o futebol, como para o nosso velho e bom teatro, concorda? Gosto de saber que um “talento individual” valoriza o coletivo em que se insere.

Sobre o assunto: “profissionais que transmitem e comentam os jogos pela televisão” . Tive a feliz idéia de acompanhar o áudio do jogo do Brasil de ontem ouvindo uma emissora de rádio, usando o fone do celular. Foi uma delícia! Apesar da derrota, claro! Pude não ouvir os comentários chatos ou desnecessários ou preconceituosos ou vazios ou engraçadinhos, ou, ou, ou...

Outra coisa que me fez refletir bastante, não apenas no jogo do Brasil, mas em toda a Copa, foi o significado de palavras como: favoritismo, tradição, competência, preparo técnico, tática de jogo, planejamento, etc. Ao que me parece todos esses conceitos podem ser flexibilizados, quando nos defrontamos com o mais primitivo dos sentimentos: a emoção humana. O sangue que ferve nas veias e altera comportamentos. A mesma essência da qual tratamos nos nossos palcos e com a qual construímos nossos personagens.

Gostaria de falar ainda sobre outro ponto que me instiga profundamente, que é o apelo comercial, e a publicidade milionária que jorra em épocas de copa, mas a vida me chama. O Brasil volta pra casa, mas a gente por aqui precisa sair de casa: é fim de semana, e como todo bom artista que faz milhares de coisas ao mesmo tempo, preciso trabalhar. Passo a bola pra você, Adri!

Entretanto, aproveito o gancho “publicidade” para pedir que visite o blog da nossa companhia: eciadearte.wordpress.com.br. Lá tem um link para esse aqui! Será um prazer ter um comentário seu para as nossas discussões.
Enfim, é muito bom ter espaço para dialogar. E tornar públicas nossas umbilicais digressões.

Sucesso para todos nós!!!!

A propósito: A Argentina está fora e a derrota foi 4 a zero vezes mais triste que a nossa!!!!

Beijos

Karina de Faria

sexta-feira, 2 de julho de 2010

PERDER É TÃO RUIM!!!

Desde o primeiro gol da Holanda eu já estava dando voltas no quintal, sem condição nenhuma de assistir ao jogo. Ouvia os gritos e me empolgava. A garoa fina de Vitória da Conquista molhava o gorro que protege a careca. A certeza de que o Brasil faria ao menos mais um gol era fraca e tão fria quanto o início de Julho. Nessas horas, coração de torcedor e cabeça de pesquisador conversam, discutem, se abraçam.

E deu-se a derrota. Tristeza.

Esperar pelo bombardeio da imprensa. Não sei o que é pior, o mela-mela da Globo e as bobagens de Galvão Bueno ou a antipatia e o sotaque irritante da galera de Milton Neves, Datena, pelo amor de Deus e a equipre muito chata da Band. Só aguento mesmo Neto, mesmo com sotaque carregado.

Esperei ansiosa pela coletiva de Dunga, cuja tristeza eu acho que posso imaginar. Ou não posso, sei lá. Gostei de suas palavras. Gosto de sua postura. Acho que faltou ao Brasil o que o diferencia dos demais. Um grande craque. No fundo talvez seja justo que o Brasil saia, pois sempre ganhamos pelo talento individual. Se ganhássemos talvez fosse a primeira ou uma das poucas copas de equipe mesmo, sem o "cara". Que falta faz o meu fenômeno em campo. Oh, gordo! Por que tão gordo? Porque a vida é muito mais que tudo isso, talvez.

Fico com raiva de jogos como o da Holanda. Um jogo sujo com faltas teatrais. Até parece o Vitória que vive cavando pênalti. Detesto jogador que se joga, que encena. Uma conclusão da minha dissertação: futebol é futebol, teatro é teatro. Se não sabem jogar, e tome-lhe teatro. Detesto isso.

Mas isso é futebol. Um detalhe. Um simples detalhe e a favorita está fora. E nessa hora a pesquisadora me lembra que é essa a beleza do futebol. Esse imponderável. A vivência permitida e procurada da dor. A frieza de dizer para a alma e para o espírito que é só um jogo. Continuamos todos vivos, vamos tocar nossas vidas. Mas agora, completamente transformados pelos 90 minutos de intensa humanidade. Dor, alegria, raiva, ansiedade, esperança. Uma vida em 90 minutos.

Acho que acabou o verbo. O frio congela. Hoje é feriado. Um feriado triste. Independência? Vamos tentar. Essa dependência de futebol que nos alimenta.


É bolada, torcedor!

PS. Amanhã sou Alemanha desde pequenininha. Ninguém vai merecer a Argentina tirando onda com a gente.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Porque eu adoro Dunga cada dia mais

Sei que quem gosta de futebol já leu isso em alguma lugar. Mas, como estou de férias e sem inspiração para novos posts que consigam alguma originalidade face a tudo o que já se disse de futebol e Copa do Mundo, vou reproduzir o texto sobre Dunga e Dona Fátima Bernardes. Eu adorei! Não tenho a fonte, pois já chegou pra mim assim.


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Vejam Dunga dando uma de João Saldanha em cima da TV Globo.


O Jornal O Globo em sua primeira página da edição de hoje, quarta-feira 16 de junho de 2010, desce a lenha na seleção e principalmente no seu treinador.

Qual a razão dessa súbita mudança de comportamento ? Vamos aos fatos :

Segunda-feira, véspera do jogo de estréia da seleção brasileira contra a Coréia do Norte, por volta de 11 horas da manhã, hora local na África do Sul.

Eis que de repente, aportam na entrada da concentração do Brasil, dona Fátima Bernardes, toda-poderosa Primeira Dama do jornalismo televisivo, acompanhada do repórter Tino Marcos e mais uma equipe completa de filmagem, iluminação etc.

Indagada pelo chefe de segurança do que se tratava, a dominadora esposa do chefão William Bonner sentenciou :

“ Estamos aqui para fazer uma REPORTAGEM EXCLUSIVA para a TV Globo, com o treinador e alguns jogadores…”

Comunicado do fato, o técnico Dunga, PESSOALMENTE dirigiu-se ao portão e após ouvir da sra. Fátima o mesmo blá-blá-blá, foi incisivo, curto e grosso, como convém a uma pessoa da sua formação.

“ Me desculpe, minha senhora, mas aqui não tem essa de “REPORTAGEM EXCLUSIVA” para a rede Globo. Ou a gente fala pra todas as emissoras de TV ou não fala pra nenhuma…”

Brilhante !!! Pela vez primeira em mais de 40 anos, um brasileiro peitava publicamente a Vênus Platinada !!!

“ Mas… prosseguiu dona Fátima – esse acordo foi feito ontem entre o Renato ( Maurício Prado, chefe de redação de Esportes de O Globo ) e o Presidente Ricardo Teixeira. Tenho autorização para realizar a matéria”.

“ Não tem autorização nem meia autorização, aqui nesse espaço eu é que resolvo o que é melhor para a minha equipe. E com licença que eu tenho mais o que fazer. E pode mandar dizer pro Ricardo ( Teixeira ) que se ele quer insistir com isso, eu entrego o cargo agora mesmo!”

O treinador então virou as costas para a supra sumo do pedantismo e saiu sem ao menos se despedir.

Dunga pode até perder a Copa , seu time pode até tomar uma goleada, mas sua atitude passa à história como um exemplo de coragem e independência.

Dunga, simplesmente, mijou na Vênus Platinada ! Uma estátua para ele !!!

Dunga II - O tsunami na Rede Globo.

Quem presenciou na noite de domingo o editorial do programa “Fantástico” da rede Globo, lido pelo repórter Tadeu Schmidt, há de ter compreendido todo o desespero que se apossou da “Vênus Platinada”, em relação ao técnico da seleção brasileira.

Chamando-o de “grosseiro, mal educado” e outros mimos a mais, a poderosa estação do Jardim Botânico viu pela primeira vez em mais de 40 anos, um brasileiro desafiar seu domínio, e literalmente mijar na sua cabeça.

Recordando os fatos mais recentes, inconformado com a proibição das tais “entrevistas exclusivas” que só seriam concedidas à Globo, na sexta feira o Assessor de Imprensa da CBF levou ao técnico Dunga outro memorandum, dessa vez do próprio Presidente Ricardo Teixeira, solicitando que se ordenasse a abertura para que as tais “exclusivas” fossem concedidas.

Dunga então rasgou o memorandum na frente do Assessor de Imprensa e como a reclamação vinha diretamente por ordem da Todo-Poderosa Sra. Fátima Bernardes, Prima Dona do jornalismo televisivo, Dunga foi mais uma vez taxativo:

- Diz pro Ricardo que se é o que ele deseja, que coloque essa senhora como treinadora da seleção, eu entrego meu cargo” !!!!

Lógico que o técnico permaneceu. Dona Fátima então, sentindo-se “desprestigiada”, alegou um problema de “cordas vocais” e teria tomado o primeiro avião retornando ao Brasil.

Na entrevista coletiva, após o jogo contra a Costa do Marfim, Dunga então resolveu “premiar” os repórteres da rede Globo que lá se encontravam. Pela leitura labial ficou fácil identificar que ele chamou Marcos Uchoa de “chato” e Alex Escobar de “babaca” e “cagão”

E disse tudo. O sr. Marcos Uchoa com aquela cara de diarréia reprimida é realmente um chato de galochas, e o sr. Alex Escobar, metido a engraçadinho e a bobo da corte, é a própria imagem do babaca cagão.

Em razão disso tudo que foi descrito, o sr. William Bonner, absolutamente descontrolado, escreveu do próprio punho o editorial ridículo que foi lido no Fantástico.

Agora à tarde chega a notícia publicada no Portal do Lancenet que a FIFA punirá Dunga pelos fatos ocorridos. A rede Globo certamente está por detrás dessa punição covarde e canalha.

Dunga merece uma estátua em praça pública.

É o primeiro brasileiro vivo a desafiar publicamente a força e o poderio da rede Globo, numa competição de cunho internacional. Leonel Brizola já o fizera antes, mas em assuntos de política interna.

A seleção brasileira de 2010, muito mais que uma seleção, passa a ser o retrato fiel de seu treinador. Que o seu sucesso seja um insulto à podridão que reina nas hostes da emissora do Jardim Botânico.

Dunga mijou na rede Globo por todos nós.