segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

DIFERENÇAS ENTRE TORCER E VOTAR

É, tomei coragem e disposição para escrever neste blog que há tanto tempo não atualizo e para falar sobre a atual situação da Bahia.

Juro que tenho tentado ler tudo com alguma isenção ideológica, partidária, sem julgamento, tentando não ser manipulada por nenhum dos lados. Leio tudo com respeito e me disponho a pensar em todos os argumentos.

Mas, o que eu quero falar aqui é sobre o radicalismo de ambas as partes.

Os PMs erraram em pegar em armas? Erraram e erraram muito.

Os PMs são péssimos, verdadeiramente péssimos em suas práticas cotidianas de autoritarismo, racismo, corrupção, abuso de poder? Sim, são. Muito péssimos.

Os PMs são a grande peste que grevistas e manifestantes encontram em suas ações cidadãs? Sim, são.

Mas isso é suficiente para aniquilar o diálogo? Por que eles são péssimos, acabou tudo, não se pode mais debater a questão, eles não têm o direito de reivincar o cumprimento de leis trabalhistas que estão sendo esquecidas?

Não seria essa uma ótima oportunidade para eles reverem sua relação com a sociedade? Ingênua, eu, né? Também acho, mas enfim, acho que os discursos que reduzem a existência a uma coisa ou outra não nos levam para lugar nenhum. Abortam o diálogo, atravancam o desenvolvimento e a transformação.

A greve é política? O PSDB está alimentando o movimento? Se fosse tão simples assim, Jacques Wagner poderia tirar de letra essa questão, eu imagino. Todas aquelas famílias reunidas na AL, todos os cabos, soldados, praças do interior que querem se unir à causa estão sendo manipulados por um único homem? Acho outro pensamento preguiçoso. E essa uma das questões importantes, a gente tem uma preguicinha de pensar e de enfrentar os conflitos. Fica um monte de gente no facebook e no twitter jogando na cara da gente que a gente votou em Jacques Wagner e agora aguente. Ora, vamos debater inteligente e corajosamente a questão ou vamos ficar atirando pedras a esmo?

Eu votei em Jacques Wagner nas duas eleições. Eu sou Petista (sim, ainda sou) e me orgulho disso, porque o PT é uma história de mais de duas décadas, porque ainda há pessoas neste grande partido que defendem os trabalhadores, como o nome do partido sugere.

Mas, isso não me impede de fazer sérias críticas a este partido, do modo como ele é conduzido hoje. O fato de ter votado em Jacques Wagner não me impede, muito pelo contrário, me autoriza, ou ainda me obriga a ser crítica de sua atuação. Sim, me obriga a ser crítica, se pensarmos que o governo é representativo e não autoritário. Ele deve me representar, foi pra isso que votei nele e quando ele não age assim, devo me manifestar, sem medo de ser tachada de 'voto perdido' ou 'traidora do partido'.

Aí que entra meu querido futebol.

O Bahia pode fazer a merda que for, eu vou defender o Bahia sempre. Joel Santana, Renato Gaúcho, René Simões, Márcio Araújo, Falcão, seja quem for, vai fazer merda, a gente vai chiar muito, mas a gente vai continuar Bahia, vai defender, não vai deixar o inimigo falar mal - só quem pode falar mal do time da gente é a gente.

Querer defender o PT como se fosse seu time de futebol, sem criticidade, cego pela paixão de torcedor em conversa de boteco é uma insanidade.

Votar é outra história. Votar é fazer parte do processo de condução da vida política do país. Eleição não é Campeonato Nacional de Futebol e eu não tenho que fechar com todos os equívocos do meu candidato só porque votei nele. Eu tenho outra arma: eu posso não votar nele na próxima eleição. Abandonar um candidato ou mesmo um partido não representa necessariamente abandonar uma ideologia. Pode ser justamente o contrário. Pode ser manter-se na ideologia através de outras representações.

Enfm, posso ter sido bem confusa, e fui, mas quem não está confuso hoje na nossa Bahia?

Eu repudio a forma imatura e vaidosa como Jacques Wagner está conduzindo este importante evento em nosso estado. Para mim, na verdade, não há nenhuma novidade, porque ele tratou como cachorro os professores das unviersidades quando passaram aproximadamente três meses em greve e agora trata milhares de policiais como bandidos.

Se essa bosta é briga política, tá na hora de entrar alguém com um pingo de bom senso e de respeito pelo povo para conduzir esta situação. Se estão acostumados às brigas de gabinete onde são vendidos votos e negociadas ações do governo, leis e procedimentos, não é disso que estamos tratando no momento, Sr. Governador.

Estamos tratando de vidas humanas e isso não se trata com birra nem com vaidade.

De tudo que tiremos uma oportunidade de transformação. Que o fato de os acontecimentos terem influenciado a vida de cada um de nós (o que não acontece com outras greves) nos ensine a fazer democracia, a debater ideias, a rever posturas, a escolher nossos representantes, a nos avaliarmos politicamente e ajudarmos enfim, nosso país a consolidar sua democracia.

Sem tanques de guerra na rua. Sem forças armadas, inclusive porque temos uma presidenta que foi torturada por um regime bruto e cruel conduzido por estes mesmos senhores que novamente se dizem em ação em nome da ordem e da lei.


É bolada, cidadão baiano!