quarta-feira, 30 de março de 2011

O FEMININO NO UNIVERSO DO FUTEBOL

Não.
Não vou tratar de questões de gênero numa perspectiva antropológica sobre a presença, ou a relação das mulheres com o futebol. Existe uma abordagem muito interessante proposta por um amigo e colega de doutorado. Ele sugere um olhar (mais simbólico do que antropológico) para o que ele considera ser típico do futebol e do teatro. Rodrigo Dourado, ele próprio estudioso de questões de gênero, considera que  o futebol é masculino e o teatro feminino. Por sua própria configuração, pela energia investida em cada um, pela forma como nos relacionamos com cada um deles. Curioso, né? Mas, não é ainda sobre isso que eu vou escrever, até porque ainda não estudei nem bati cabela sobre o assunto, apesar de concordar e achar muito instigante sua proposta.

Vou falar, muito cotidianamente do que tenho visto em termos de participação feminina no universo, sobretudo televisivo, das transmissões e comentários de futebol.


Eu própria nunca fui, até começar a pesquisar, uma grande apaixonada pelo futebo. Torcia para o Corinthians porque morava em Sampa e meu pai fiel torcedor, levou a família junto. Já minha irmã mais velha, ah, essa sempre foi um moleque para o lado de futebol. De bater embaixadinha e tudo mais. De deixar muito barbado em mesa de bar caladinho - sobretudo os sãopaulinos e palmeirenses - quando começava a discorrer sobre o tema. Eu sempre achei muito bonito o jeito como ela sempre foi apaixonada pelo futebol e quem sabe Freud não vai achar lá na nossa relação as causas de eu estudar futebol.

Ela sempre dizia que queria ser apresentadora de programa de futebol, ou comentarista e na época em que ela profetizava o que então parecia absurdo, o território era mesmo dos histriônicos barrigudos.

Mas, muita coisa mudou. Minha irmã dedicou-se mesmo à educação (de seus filhos e dos outros) e hoje é professora - como eu. E as TV's estão repletas de mulheres falando sobre futebol.

Eu acho que, tem uma importante conquista de espaço aí, sem dúvida, mas sinto que tem um fetichismo também. Já repararam que as mulheres que comentam ou apresentam programas de futebol são lindas e imensas loiras, com um toque de garota de propaganda de cerveja?

Pode ser que eu esteja com uma puta dor de cotovelo por não estar dando meu carão nos programas (nem ser gostosona como elas), mas não podemos negar que tem uma coisa meio fantasiosa nestes programas 'masculinos'. Mulherão falando de futebol é o sonho de qualquer marmanjo, né, não?

Até porque, esteve no nosso imaginário até bem pouco tempo, que mulher que gosta de futebol - e entende - é um tipo masculinizado. Era justamente isso que eu achava surreal em minha irmã. Ela é linda e delicada e falava de futebol como um verdadeiro especialista de buteco (que são os melhores, diga-se de passagem!)

Aí eu fico prestando atenção aos comentários das moças e algumas vezes parece ter uma coisa meio estudada, meio decorada, aquele comentário que é pura retórica (não que os comentários masculinos sejam lá muito diferentes disso), mas parece, em alguns casos, que há um desconforto com o assunto e que a presença de um rosto - e corpo - feminino se impõe mais do que a experiência mesmo da colega no assunto. Note que reforçando minha hipótese do fetiche, ainda não temos uma participação significativa de mulheres nas transmissões de rádio, porque porque neste veículo, o que importa é de fato o que têm a dizer, e não a sua imagem, como na TV.

Deixando um pouco de lado as transmissões, quero dizer que tem uma mulher que manda bem em termos de futebol, que é Clara Albuquerque, colunista do Correio da Bahia. Gosto muito do seu blog Oras Bolas http://www.correio24horas.com.br/blogs/ora-bolas/.  Lá, ela faz uma inteligentíssima brincadeira com a coisa do gênero, elegendo, depois dos comentários, os fatos que são o pretinho-básico ou o esporte-fino da semana, tirando sarro, ela mesma, do fato de ser uma comentarista mulher, trazendo para o futebol uma aproximação com o 'aparentemente feminino' mundo da moda.

Suas participações nas transmissões da TV Bahia ainda são tímidas. Ela é bonita, mas não tem aquela cara de modelo de calendário de oficina. Acho que ela pode entrar mais pesado nos comentários. Entendo o suposto desconforto, porque no blog ela comenta mais sobre o universo do futebol, as principais notícias da semana e faz reflexões sobre isso. Na transmissão, ela tem que comentar o jogo, o desempenho técnico dos participantes, os resultados das tabelas e talvez isso lhe interesse menos. Mas, gosto de ver o espaço que ela vem ocupando, apesar de sentir lá no fundinho de minha torpe humanidade um tiquinho de inveja.

Bom, de salto alto ou sapatilha, estamos nós mulheres invadindo este espaço quer seja com a conivência deles por nosso corpão, quer seja por nossos comentários inovadores e olhar inusitado, não importa. Por onde quer que entremos, estamos lá e acho este um fato importante do futebol recente e das conquistas femininas.

A tempo: minha irmã continua fanática por futebol, fiel ao timão (fez seus filhos renegarem o São Paulo do pai e se tornarem corintianos roxos) é uma linda e sedutora professora que vez ou outra incrementa suas aulas de História falando de futebol. Os alunos adoram!!!

É bolada, mulherada!!!

sábado, 12 de março de 2011

MEU TIME É A MINHA PÁTRIA - Texto da Nova edição da Beleza Bahia

Gentes.

Saiu a nova edição da Revista Beleza Bahia, para a qual eu tenho o prazer de escrever duas colunas. Uma se chama Belezas Inusitadas, cujo texto está agora disponível em http://www.artedoespectador.blogspot.com/.

O texto abaixo é da coluna de futebol. Quem se interessar em conhecer a revista, pode acessar o link: http://www.belezabahia.com.br/site_antigo/web/revista/index.html. Ainda não tem a edição nova (com Cláudia Leite na capa) mas em breve, com certeza estará. Você pode conferir as outras edições. Chega de blablabla. Vamos ao texto:


MEU TIME É A MINHA PÁTRIA.

Quando, numa discussão sobre futebol, alguém diz que não entende como um torcedor do Vitória pode não torcer pelo Bahia em campeonatos nacionais, em situações em que o time enfrenta times do Sul e Sudeste e vice-versa, a gente percebe logo que essa pessoa não é um torcedor fanático e, portanto, não consegue identificar – nem na prática, nem na teoria – o verdadeiro sentido de fazer parte da torcida por um time de futebol.

O discurso de defesa da territorialidade a partir do ponto de vista geográfico, levando em consideração nossa organização político-espacial (a divisão do país em regiões e estados), deixa de considerar, logo de cara, outra possibilidade de organização social e cultural. Uma forma de organização escolhida pelo próprio sujeito, que se organiza sobre outras lógicas, outros pontos de vista, outros parâmetros e que diz respeito, portanto, a outras dimensões da vida particular e coletiva.

Nascido em determinada região ou estado, a pessoa – mesmo que venha a morar em outras cidades – terá sempre esta identificação com o lugar natal. Esta informação está lá, impressa em seu documento de identidade. O que é muito bom, porque revela informações importantes de sua genealogia, de sua cultura, de seus ancestrais e suas histórias. Mas, esta forma de nos identificarmos, é externa e, mais que isso, anterior à pessoa. Ela não envolve, em nenhuma medida, o seu poder de decisão. Seu documento de identidade identifica apenas uma parte dela. E acreditar nesta identificação como sendo a única possível ou mesmo a mais importante é uma postura arriscada, que reflete o pensamento de uma corrente que vê apenas uma parte da história.

Claro que eu tenho cá minhas questões com as diferenças de oportunidades entre as regiões do Norte-Nordeste e Sul-Sudeste. Sou atriz e sei o quanto o eixo Rio – São Paulo não só monopoliza boa parte das oportunidades, como impõe seus padrões para o restante do país como sendo o padrão de qualidade. Isso no mundo acadêmico, editorial, de moda, enfim, nas mais diversas dimensões. E sei que isso acontece também no futebol, Leia a revista Placar e veja que ela trata quase exclusivamente dos times destes dois estados, com exceções, talvez, para os times mineiros e gaúchos. Ela pode se defender com o argumento de que são os times com melhores campanhas na primeira divisão do campeonato brasileiro, mas a gente sabe que uma coisa leva a outra e que a atenção de fato é maior para os maiores times, das maiores cidades, dessas que não são as maiores (em termos de expansão territorial), mas sem dúvida funcionam como ‘as mais importantes’ regiões do nosso país. Importantes do ponto de vista da produtividade e do capital que geram. Ora, o mundo é muito mais do que isso. Ainda bem.

É nesta hora que eu pergunto: não seria o comportamento do torcedor doente, fanático, justamente a maior resistência contra este modelo que nos impõe uma identidade arbitrariamente, sem que ao menos sejamos consultados? Torcer contra o Vitória e pelo Palmeiras, contra o Bahia e pelo Coritiba, mesmo você sendo baiano, não seria justamente dizer que o critério político-geográfico, nestas circunstâncias, não quer dizer absolutamente nada e nem sequer serve como ponto de referência? O entrega-entrega da final do campeonato brasileiro foi um grande exemplo da força da identificação com o time em contraste com a identificação do estado. Palmeirenses e são paulinos gritavam nas arquibancadas: Entrega! Entrega! Lamentavam o gol do próprio time, comemorando o gol do adversário. Esquizofrenia? Não. Apenas a força de combater o inimigo como uma das formas mais eficazes de afirmar a mim mesmo.

Quando desconsideramos estas questões, por mais que os politizados de plantão insistam em dizer que é ignorância política, pode ser justo o contrário. Pode ser o mais nobre e politizado dos comportamentos democráticos: a escolha. EU escolho os critérios de importância para MEU posicionamento. EU escolho torcer pelo MEU time. Eu escolho que a minha relação íntima e pessoal como o clube do meu coração é muito mais importante do que a relação político-geográfica que querem me fazer crer ser mais inteligente do que minha escolha emocionada e passional. Eu sou muito mais do que diz o meu Registro Geral de identidade. Eu sou muito maior do que um documento.

Não há nada mais libertador do que a torcida incondicional a um time. Somos livres porque, mais do que ser torcedores do nosso time, somos nosso próprio time. E no fundo, no fundo, torcer contra o clube inimigo, mesmo sendo ele meu conterrâneo é assumir, de outro ponto de vista, a própria naturalidade, porque nos relacionamos com o nosso estado não apenas de forma burocrática e oficial (ditada pela frieza da minha certidão de nascimento), mas a partir de seus times de futebol, instituições, muito mais humanas do que cartórios e fóruns.

A relação com os times, que o preconceito dos intelectuais talvez não permita compreender como sendo uma possibilidade relevante de existência coletiva, nos permite ultrapassar os limites da racionalidade e tocar o imponderável da existência. Meu time é a minha pátria. Meu time é a melhor parte de mim. Meu time sou eu.

segunda-feira, 7 de março de 2011

MAIS CARNAVAL EM ARTE DO ESPECTADOR

Bem que Jesus avisou para não ter dois deuses (nem dois blogs) porque acabaria alimentando um e esquecendo do outro.

Pra resolver isso, vim buscar vocês aqui para lerem sobre carnaval lá no outro:

http://www.artedoespectador.blogspot.com/

Vai ser um prazer recebê-los lá.

É que aqui eu tô meio sem assunto. Não vou comentar sobre o exagero da Globo na transmissão de Ronaldinho Gaúcho na Portela e na Mangueira, né. A Globo força a barra quando quer fazer a gente acreditar que uma coisa é importante. Eu só via fotógrafos e câmeras atrás de Ronaldinho. Um saco!!!

É bolada, Folião.

quarta-feira, 2 de março de 2011

CARNAVAL - A ALMA GÊMEA DO FUTEBOL



Ouvi certa vez na rua: Na Bahia só existem três religiões: O candomblé, o Baêa e O Chiclete com Banana. Achei genial.


Estamos à beira do carnaval, esse irmão gêmeo do futebol. Diversos sociólogos e antropólogos concordam que existe uma parecência enorme entre estes dois eventos que envolvem paixão, corpo, alegria e uma certa atitude non-sense no ser humano.

Mas, quem mais sabe disso é o torcedor-folião. É, aquele maluco da Bamor ou da Imbatíveis que sai nAs Muquiranas, que pula de quinta a quarta (veja que a lógica da semana é subvertida no carnaval baiano). É o povo que passa por seus apertos diários, que exibe sua falta de educação e cidadania (fruto da educação que lhe é de direito mas lhe foi sequestrada). É ess

a gente que gosta mesmo é de ser feliz, nem que seja de propósito, esquecendo DELIBERADAMENTE das agruras do dia-a-dia - suas próprias e a de seus iguais.


















Fui à festa do Vila Vox na última sexta - Carnaval anos 80 e 90 e, meu Deus, como fui feliz ali. Como estou de recesso etílico, num determinado momento, lá pela fronteira entre um dia e outro, quando magistralmente o hoje vira amanhã e ao mesmo tempo torna-se ontem, eu pude - sóbria - ver aquela massa humana embriagada, pulando suada ao som de músicas deliciosas (que, como sempre, ao seu tempo eram chamadas de baixaria). Foi tão lindo ver aqueles corpos sensuais, se mexendo, subindo e descendo sem nenhuma vergonha da sexualidade que exalava dos poros. Como somos bonitos, nós baianos, assim, dançando um ritmo que é tão nosso, que nos entrega, como uma legenda a quem quer que nos leia. Só nós sabemos dançar daquele jeito. Só nós sabemos o tempo do Aê, Aê, do grito certo na hora certa, da mão pra cima, na palma da mão, do quadril pra cima e pra baixo, pra frente e pra trás, do jogo de ombro e bunda que é lindo demais.



Hoje vi um clip de danças de rua nestes canais de clips e vi que somos muito originais e que é muito preciosa a forma como dançamos. Já sou franca admiradora do arrocha, que gostaria muito de saber dançar, sobretudo com parceiro, mas cada vez mais me encanta como somos dançarinos natos.

Voltando ao nosso carnaval, a cidade fica uma loucura. Eu acho muito bom essa coisa de se transformar uma cidade por conta de uma festa. Acho isso simplesmente revolucionário. Os europeus enlouquecem com essa possibilidade e por coisas assim o francês Michel Maffesoli acha que somos exemplo para o mundo pós-moderno. Tudo bem que quem mora aqui sofre demais com essas transformações. A Barra fica impossível. Mas isso não é culpa da festa. É culpa da falta de educação e cidadania. Se é pra montar camarote na calçada, custava colocar corredores na pista para a gente passar? Pedestre realmente não tem vez em Salvador, mas isso já é outra conversa.

Li uma entrevista de Jacques Wagner onde ele diz que não tem medo da Copa do Mundo. Quem faz o maior carnaval do mundo, um carnaval que dura uma semana e que recebe números asssombrosos (que no momento eu não sei quais são) no carnaval, lotando ruas e avenidas, não vai se assustar com uns gatos pingados que virão ver a Copa (obviamente que estas palavras toscas são minhas e não dele.) Acho lindo termos uma indústria do prazer, da música, do entretenimento, da felicidade. Só acho uma pena que poucos lucrem de fato com essa indústria e que muitos paguem a conta.
Mas, volto a repetir, a culpa aqui, não é da festa.

Agora, aguardo a chegada dessa festa linda. Devo curtir alguns dias, descansar outros, reclamar outros tantos (uma semana é muita coisa pra quem mora dentro da fuzaca). Mas, a vida realmente é dividida pelo carnaval. Vou lá pro meio da festa, tentar ser feliz!



É bolada, Folião!!!