Enviado por luisnassif, qua, 13/10/2010 - 23:15 
Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro.
O momento é dos mais delicados. O país  passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões  de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na  história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de  lançar o país na primeira divisão da economia mundial
Esses movimentos foram essenciais na  construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões,  conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos  impondo resistências.
Em outros países, essas tensões  descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para  movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.
Nos  últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo  modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do  exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A  estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a  pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos  movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O  terrorismo midiático, levantando fantasmas com o MST, Bolívia,  Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual  nem a própria mídia acreditava.
À falta de um projeto de país, esgotado o  modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra –  passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da  república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias  de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.
Em ambientes mais sérios do que nas  entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as  afirmações irresponsáveis do político FHC.
Mas as sementes do ódio frutificaram. E  agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos  preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais  simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação  do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da  moderna história política brasileira.
O fascismo à brasileira
Se alguém pretende desenvolver alguma  tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite.  Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o  laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é  possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais  das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da  sociedade.
Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.
Em São Paulo esse clima está  generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi  relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se  via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez  apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores  sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande  metrópole.
Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.
Minhas filhas menores freqüentam uma  escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos  que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o  isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as  coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.
Na empresa em que trabalha outra filha,  toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela  anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O  mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.
No domingo fui visitar uma tia na Vila  Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo,  intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco,  na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.
A construção do ódio
Na base do ódio um trabalho da mídia de  massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o  terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado  José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que  foi plantado.
Os desdobramentos são imprevisíveis e  transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa  e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na  sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia  com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que  afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.
Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.
Mas demonstra cabalmente as dificuldades  embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as  raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo  de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens  públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a  comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus  melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais,  cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.
Seria interessante que o maior  especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma  próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique  Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um  pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um  ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder.  Sem se importar com o preço que o país poderia pagar.
 
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