quarta-feira, 17 de novembro de 2010

DEMOREI, MAS VOU AGORA COMENTAR:80 anos vai ser na série A


Estava eu assistindo ao espetáculo curitibano Vida, no Teatro Cacilda Becker, na Lapa em São Paulo, quando o Bahia ia entrar em campo. Ainda no táxi despedi-me do meu amor, que esperava desde a tarde daquele 13 de novembro nas arquibancadas de Pituaçu pelo mais aguardado espetáculo. Desliguei o celular, como de praxe e me entreguei ao belo drama sobre a existência e a solidão - se é que não são a mesma coisa.

Ao fim do espetáculo, fui ao banheiro - minto, ao toillet - e liguei, ali mesmo na salinha de pipi, agachadinha, o celular que pipocou três deliciosas mensagens:
1ªmensagem: Bahia 1 X 0 Portuguesa
2ª mensagem: Adriano 2 gols.
3ª mensagem: Acabou: 3 X 0.

Saio do banheiro equilibrando calças, celular, bolsa, cachecol e tudo o mais. Grito feito louca no educado banheiro - minto, toillet - paulista e mostro, enfim, do que sou feita. Dessa paixão e dessa falta de vergonha de ser feliz. Este orgulho de amar um estado, amar um time, amar uma identidade.

Saio e não consigo quase organizar a frase, dizer que o Baêa conseguiu. Ligo para Alam e com voz rouca e fundo musical ensurdecedor, ele me diz que nunca viu nada tão lindo. Ninguém sai do estádio. Os jogadores no gramado, a torcida nas arquibancadas, uma festa de amor. Um amor coletivo, sem idade, sem gênero, sem parentesco, sem precedentes. Um amor sem limites.

Continuo falando pelas esquinas, comentando com quem quer que passe em minha frente. Na mesma noite meu time paulista - meu timão - havia vencido o Cruzeiro com gol do meu Ronaldo. Pra que melhor? Chego à Augusta, depois de trocar figurinhas futebolísticas com o taxista, e vejo uma feliz camisa tricolor. Lamento não estar com a minha, que havia reservado para o domingo.

Toda essa longa narrativa, para dizer que a felicidade que sentia era tão plena, mas tão plena que eu não conseguia falar de outra coisa. É uma alegria de quem arranjou namorado novo. Ou de quem passou no vestibular. Aquela sensação de que o que parecia justo e certo - mas que podia não acontecer - aconteceu.

O torcedor tricolor estava que era uma pilha só. Um ri e chora sem fim. A cada jogo, novas sensações. Das vitórias, saíamos confiantes, unidos, empolgados. Do traumatizante empate com o Coritiba e o fiasco com o Brasiliense, saímos, simplesmente desolados, para dizer pouco.

E agora, essa alegria. Uma alegria que dura. Podemos dormir e acordar que a alegria não passa. Nem diminiu. Talvez se estabeleça, se tranquilize, mas passar, ah, isso não.

E o interessante é que no fundo, no fundo, toda alegria está naquilo em que a gente concentra energia mesmo para estar feliz. No ano que vem - nosso aniversário de 80 anos - vamos lutar, vamos ter que brigar com iguais, pois jamais deixamos de ser um time de primeira grandeza. Mas nada vai fazer a torcida esquecer este acesso. O elenco, a equipe técnica, o técnico deste momento são história. E Adriano Michael Jackson? HISTORY!!!



Que bom ver este povo feliz. Que bom ver uma cidade pintada de vermelho, azul e branco. Que bom ver a esperança de volta. Que bom ouvir hinos e canções falando do Bahia. Diante de tanta dor e tanta pobreza, miséria e corrupção, eis que o futebol faz da existência uma tarefa mais leve, até prazerosa.

Depois da emoção da ida ao museu do futebol, a vitória que deu acesso ao meu time à primeira divisão novamente, me faz ter certeza de que o objeto que pesquiso no doutorado é de uma relevância inquestionável e me conquistou pelo tamanho da humanidade que reside em si, no sentido mais amplo e genuíno que se possa pensar em humanidade.

Obrigada, meu Baêa, por me proporcionar experiência tão satisfatória e enriquecedora.

Leia o delicioso artigo sobre a subida do Baêa, escrita por Marcelo Barreto para o blog so Sport TV
 http://sportv.globo.com/platb/marcelobarreto/2010/11/06/quando-o-bahia-subir/#comments



É Bolada, elevador!!!

2 comentários:

  1. Massa, Adriana, valeu!
    Eu estava esperando esse post desde domingo.
    Me lembro de alguém ter comentado na derrota do Brasil na copa que tinha que ver o que você escreveu. Acho que esse pensamento já é normal para os seus leitores. Depois de um grande acontecimento futebolístico o seu texto vem sempre junto, como o grito depois do gol. Ele completa a alegria das vitórias e conforta e traz esperança nas derrotas.
    Me lembro também quando você falou que o blog estava fugindo do tema, que ia mudar o nome e eu disse que futebol de artista é isso aí!

    Pois taí a prova de que eu estava certo!
    Você é uma referência no assunto futebol, não só para mim, mas pra todo o estado. E olhe lá se não tiver gente de fora lendo o blog!

    Amo o blog, amo seu texto e também te amo, minha cunhada!!! (Que massa ser seu cunhado! Hehehe!)

    Bjão!

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  2. Oh, querido, muito obrigada pelas palavras. Vida de blogueira é meio assim, a gente não tem muita noção do alcance, sobretudo quando o blog é totalmente independente, sem estar vinculado a outros meios de comunicação (blog de tv ou mesmo blog de jornal impresso). Além do mais meus leitores não tem muito a prática de comentar as matérias, o que me deixa mais sem noção ainda. Acompanho o contador de acesso e as estatísticas. Sabia que tem acesso em outros países, incluisve países impensáveis como Emirados Árabes, Polônia... rsrsrs. Mas, sobre o acesso do Baêa, nosso querido Baêa, é isso aí. Eu demorei porque estava em Sampa e tinha que ir em lan-house que eu não gosto muito e tava frio pra cacete. Enfim. E quanto ao fato de vc ser meu cunhado: só alegria... é bom contar com seu astral e sua experiência no futebol e nas coisas de computador o que só ajuda esta blogueira. Abraços grandes, continue divulgando o blog.

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