quarta-feira, 14 de abril de 2010

CHUVA SOBRE A CIDADE

Sempre agradeço a Deus por estar em casa quando a chuva cai com gosto. E como ela tem caído. Serão as lágrimas do fim dos tempos? Lágrimas intensas e gritantes. As árvores balançam e eu sinto certo medo.

Se falta luz - me apavoro - escravos da tecnologia, como viveremos numa cidade sem luz? O povo da roça respeita o tempo do escuro e se recolhe e convive com ele. Nós criamos a 'luz da noite' e sua ausência quase que autoriza tudo. Repara, não. É que tenho tendência à síndrome do pânico.

Hoje é aniversário de minha filha mais velha. Todos os anos, neste período, passo toda a semana relembrando os momentos antes, durante e pós-parto. Um rito. Há doze anos, eu me tornava mãe e isso faria toda a diferença. Lavando, há pouco, sua farda ao mesmo tempo em que acompanhava a tarefa do pequeno, me dei conta de que me sinto uma pessoa melhor. Em todos os sentidos. Uma atriz melhor, uma pesquisadora melhor. Mãe!




E por falar em vida, nesta semana estive em contato com a morte duas vezes. De longe, ela conversava comigo. Eu tive que ser a pessoa sensata que conversava com ela e que fazia o diálogo entre o mundo de cá, suas burocracias, documentos e rituais, com o mundo de lá, a tristeza, as lágrimas, as perguntas de porquê. De um lado, um velhinho lindo que sofria e foi descansar. De outro um bebê que já nascera sob o risco de um problema de saúde.


E a chuva sempre parece compor um cenário mais fúnebre, parece ressaltar a dor e cremos mesmo que o céu chora conosco.

Mas, vou comer o bolinho gostoso que seu papai faz pra todos nós nos nossos dias. Estou em casa, na garantia tola de segurança. Perto daqueles que tanto amo. Num dia feliz em que resolvi problemas prosaicos.

Sentada aqui, agora, com vocês - é provável que já não esteja mais, mas a beleza da sentença vale o vazio da certeza - paro e penso nessas coisas da vida que nos foram autorizadas a pensar. E pensemos juntos, sempre e muito, porque quanto mais pensamos, mais deus nos revela pedacinhos de seu segredo.

Boa noite a todos.

5 comentários:

  1. Diana, Parabéns pra Hannah! Pelo niver, pela beleza dela e por ser filha de uma criatura tão loucamente especial como você!!! Beijos! PS.: Tô adorando ler o blog, em especial os post que não são de futebol! rsrsrs :P

    ResponderExcluir
  2. Menina, eu acabei largando o coitado do futebol... mas o que vale é ser sincero,né. bjoca, flor, obrigada pelas palavras.

    ResponderExcluir
  3. Parabéns pela linda filha! Sei o que sente neste momento de "rito" é um momento mágico e com certeza nos tornamos pessoas melhores. Bejos!!

    ResponderExcluir
  4. Adriana, achei lindo o post, o céu chorando junto conosco e os pedacinhos dos segredos divinos são pura poesia.
    Obrigado pela força e apoio, irmã.
    Um beijo.

    ResponderExcluir
  5. É isso aí, irmãozinho. estamos aí. Onde não houver mais remédio: poesia. Poesia antes, poesia durante, poesia depois. Poesia sempre!

    ResponderExcluir