Depois da pesquisa de mestrado realizada no PPGAC - UFBA, intitulada TEATRO X FUTEBOL: Por uma dramaturgia do espetáculo futebolístico, dou continuidade à pesquisa em nível de doutorado: A EXPERIÊNCIA TRÁGICA DO TORCEDOR: o Futebol como espetáculo absoluto do Século XX. Neste blog pensamentos, perguntas, problematizações, cotidianices, política, arte, poesia. TEATRO E FUTEBOL juntos, porque entre o campo e o palco, entre o jogo e peça existem mais parentescos do que supõe a nossa vã filosofia.
O Jogo era Bahia x Flamengo, o Bahia de Bobô e o Flamengo de Zico. Não havia favoritos, afinal estavam ali frente a frente os dois melhores times do campeonato. Era o jogo mais esperado, a expectativa era enorme, o nervosismo imperava na Fonte Nova. O Jogo do ano.
O Juiz apita o início do jogo. O Bahia começa no ataque. Charles lança Marquinhos pela esquerda, que carrega até a entrada da área do Flamengo e cruza pra cabeçada de Bobô, que carimba a trave de Raul Plassmann. O Flamengo responde com um passe longo de Leandro que encontra Zico próximo à meta tricolor. Ele toca pra Nunes que dribla Tarantini, mas bate sem jeito pra defesa fácil de Ronaldo. Aos 10 minutos, Charles sofre falta próxima à meia-lua rubro-negra. Bobô cobra com perfeição. Bahia 1x0.
O Flamengo se perde no campo e o Bahia aproveita para ampliar o marcador aos 25 minutos numa cobrança de escanteio que Charles cabeceou sem chances de defesa pra Raul. Era o segundo gol tricolor. O Bahia comandava o jogo, que ficou mais fácil ainda aos 38 minutos, quando numa jogada despretensiosa, Zanata saiu da defesa e levou a bola até o campo adversário e chutou da meia-lua, no ângulo. Golaço. Bahia 3x0. Acabou assim o primeiro tempo. A torcida tricolor estava eufórica.
Começa o segundo tempo e logo aos 5 minutos Tita faz uma bela jogada e deixa Nunes de cara pro gol, que não desperdiça e faz o primeiro do Flamengo. O Bahia não era mais aquele do primeiro tempo e errava muitos passes. Aos 18 minutos Zico costurou a zaga tricolor e deu um chute indefensável para Ronaldo. Gol do Flamengo. 3x2. Foi a vez do Bahia se perder no jogo e aos 30 minutos Zico marca de falta o gol de empate do Flamengo.
Era a reação rubro-negra. 3x3. O Jogo fica tenso. A torcida tricolor não acreditava no que via. Aquele jogo fácil do primeiro tempo que estava na mão tinha ido pro espaço. O Flamengo vinha com tudo pra cima do Bahia, queria a virada histórica. O Tricolor de aço tentava repor a ordem na casa, sem sucesso. Charles quis resolver sozinho e, sem ver Bobô bem colocado, chutou de quase do meio do campo querendo encobrir Raul que estava adiantado, mas a bola foi longe. O Flamengo seguia atacando. Andrade fintou João Marcelo e achou Adílio no meio da cozinha tricolor. Ele bateu de primeira no canto esquerdo, Ronaldo tirou com os olhos. Aos 42 minutos, num contra-ataque do Bahia, Zé Carlos cruza pra área rubro-negra e Bobô faz de peixinho, o quarto gol tricolor. Delírio total da torcida do Bahia. 4x3.
Que jogo incrível! Ainda faltavam 3 minutos para o fim do tempo regulamentar e os acréscimos do juiz. Que eternidade pro Bahia. O Flamengo era só pressão. De repente, parecia que as camisas rubro-negras se multiplicavam no campo. Uma avalanche flamenguista atacava a área tricolor. O Nervosismo voltava a imperar na torcida. E uma sucessão de verdadeiros milagres que só todos os santos da Bahia podiam explicar o que aconteceu naqueles findos minutos de jogo. Defesas espetaculares de Ronaldo, chutes com endereço certo que se perdiam na linha de fundo. Desvios providenciais em cima da linha do gol. O Pulso unia jogadores e torcida tricolores em uníssono. E o juiz, enfim, apita o final do Jogo. Vitória tricolor! O Bahia é campeão! A Torcida vai à loucura! O Bahia vence o Campeonato Brasileiro numa final espetacular! É Campeão! É Campeão!
Lembro-me bem desse jogo, parece que foi ontem. Um jogo inesquecível. Sabem quando foi? Foi na semana passada, no meu PC, em minha casa.
Eu estava lá, gritando sozinho, quando a ficha caiu.
Era só um jogo de computador. Mas o jogo “de verdade” nos estádios, não é também só um jogo? Você grita, vibra, pula, mas depois a vida toma o seu rumo normal. A Grande diferença é que nesse game, o Pro Evolution Soccer, o PES, além de você sentir as mesmas emoções de um jogo “de verdade”, você é um agente ativo que pode alterar o resultado do jogo.
Porque você é o técnico, você escolhe a formação tática, escala o time, faz as substituições. E porque você é o jogador, você escolhe a jogada, escolhe pra qual companheiro vai passar a bola, você faz o gol. É isso que faz o game ser incrível. A Mistura da emoção de assistir um jogo com a sensação inédita de ser ao mesmo tempo torcedor/técnico/jogador. E o grau de realismo impressionante do game contribui muito. O Ambiente dos estádios, o grito das torcidas, o ruído dos jogos, a narração e os comentários, o replay das jogadas em vários ângulos, a atitude dos jogadores.
O Pro Evolution Soccer é indicadíssimo para os amantes do futebol. Só tem uma contra-indicação: É altamente viciante.
Alexsandro Moreira é um artista nascido em Salvador, Alagoinhas e Irará, exatamente nesta ordem. Já escreveu e produziu várias peças, entre elas, o "Recital Raul Seixas" e "Primavera nos Dentes". Atualmente está escrevendo um livro e montando uma nova peça, "O Auto da Arte".
Começamos hoje a nossa série de pitacos externos chamada NO CAMPO E NO PALCO - outras contribuições. Nesta primera edição teremos as considerações de Hannah Abnner e João Vicente.
Hannah Abnner é estudante do 7º ano do ensino fundamental. Estuda piano na Universidade Federal da Bahia já há cinco anos e também participa do coral juvenil. Faz parte do rebanho de atores, onde já apresentou dois espetáculos de teatro, participando como atriz e musicista.
João Vicente estuda o 2º ano do ensino fundamental. Também estuda música na UFBA há três anos e faz parte do coral infantil. Também foi do elenco de Os Ovos de Militão e Do Cyrano, como ator e contra-regra. Estuda futebol na Escolinha do Grêmio, no colégio onde estuda o ensino básico.
O texto da dupla segue em forma de entrevista, por razões óbvias. O leitor pode ler ou assistir, ou fazer as duas coisas. Comentários serão sempre bem-vindos.
Futebol de Artista – Boa noite. Estamos aqui com Hannah Abnner e João Vicente Amorim Moreira, torcedores do Bahia que tomou pau hoje do Vitória.
João – E Corinthians.
F.A. – A gente vai falar um pouquinho sobre teatro e futebol, ta bom? Primeiro vocês vão falar da experiência de vocês com o teatro. Hannah, qual é a sua experiência com o teatro?
Hannah – Muito boa, eu fiz Os Ovos de Militão, que é de um autor... e Do Cyrano que é uma adaptação de Cyrano de Bergerac.
F.A. – Você fez como atriz?
Hannah – É.
F.A. – E você, João, qual é a sua experiência com o teatro?
Hannah – Também é boa. Eu fiz Os Ovos de Militão e Cyrano de Bergerac.
F.A. – Você fez como ator também?
Hannah – Un-hum.
F.A. – E vocês fazem teatro já a quanto tempo?
Hannah – Muito tempo.
João – Muito tempo atrás.
F.A. – Vocês eram pequenininhos, né.
Hannah – Era.
João – Não.
F.A. – Vocês fizeram essas peças com quem?
Hannah – Com meus pais: Adriana Silva Amorim e Alam Félix dos Santos Moreira
F.A. – Que lega. Então vocês têm um grupo de teatro.
Hannah – É. Inclusive Adriana Silva Amorim é quem está fazendo o vídeo e que fez o blog.
F.A. – Ta certo. Valeu. Vocês assistem teatro?
Hannah – Muito. Não, muito não. Mentira, é pouco. Mas é bom, quando a gente vai, eu gosto muito.
F.A. – Qual a peça que você mais gostou?
Hannah – Uma das que eu gosto muito foi Uma Vez Nada Mais que foi campeão do Braskem.
F.A. – E você assistiu, João?
João – Eu não.
F.A. – E qual peça você assistiu que você gostou muito? (PAUSA LONGA) Ta, quando você lembrar você fala, ta bom?
João – Ta bom.
F.A. – Você vai ao teatro sempre?
João – Quase.
F.A. – O que vocês gostam no teatro? Por que vocês fizeram teatro e porque vocês vão assistir peças?
Hannah – A magia. Eu acho que a comunicação que você tem, sabe... Eu tô falando como quem já fez. E como outras pessoas falam que é a comunicação com você, você ta lá no momento, você entra no personagem, essas coisas assim. E como platéia, eu gosto de ver, sabe, eu entro na história, é como se eu estivesse na história. Eu gosto muito do teatro.
F.A. – E você, João, você gosta de teatro?
João – Gosto muito.
F.A. – Por que você gosta muito?
João – Porque tem ar condicionado. Quando é a primeira vez que passa o teatro tem festa.
F.A. – Ah, o coquetel. Só isso? E a peça em si você gosta?
João – Un-hun.
F.A. – Já lembrou uma peça que você gostou?
João – Não.
F.A. – Não. Ta ok. E futebol vocês gostam?
Hannah – Sim, Muito.
João – Eu amo!
F.A. – Ama. Por que você ama?
João – Porque eu to na escolinha do Grêmio.
F.A. – Você está na escolinha do Grêmio? Então você também está fazendo futebol?
João – É.
F.A. – Como é na escolinha? Por que você está na escolinha?
João – Porque é como futebol de verdade, que tem treino.
F.A. – E você, Hannah? Você gosta de futebol?
Hannah – Gosto.
F.A. – Vocês já assistiram a alguma partida de futebol?
João – Ba- Vi
F.A. – No estádio?
João e Hannah – Sim.
F.A. – E vocês costumam acompanhar por televisão, pelo rádio?
Hannah – Sim, também. Quer dizer, meu pai acompanha e aí a gente pergunta quais são os resultados, essas coisas...
F.A. – E vocês gostam o que no futebol?
Hannah – A competição. A sorte. Que também tem um pouquinho de sorte.
F.A. – João, o que você gosta no futebol?
João – Porque eu posso ir ao estádio, eu posso entrar em campo com os jogadores
F.A. – Ah, você já entrou em campo com os jogadores?
João – Jáááááá.
F.A. – Como é isso? Conta aí um pouquinho desse ritual.
João – É assim, você fica em uma fila na frente de uma porta que é de grade. Aí, quando abre a porta, as crianças ‘têm de que’ atravessar a porta. Aí, descem. Vai correndo pro campo. Aí faz um caminho assim, com os jogadores e cada um pega na mão de um.
F.A. – De um jogador?
João – É.
F.A. – Você pegou já na mão de quem?
João – De Nem, do goleiro Marcelo.
F.A. – Que legal. E é legal estar ali e ver a multidão? Como é essa imagem assim, você olhar para a platéia? Fale aí como é.
João – Virge, me esqueci.
F.A. – Mais ou menos, assim, porque você já esteve no palco e já esteve no estádio, como é olhar para a platéia e ver que está todo mundo te vendo?
João – Todo mundo grita: “Oh, Bora Baêa!”
F.A. – Isso é bom demais, né?
João – É.
F.A. – Que legal. E a pesquisa da mãe de vocês, essa que vos fala é sobre teatro e futebol. Vocês gostam dessa pesquisa dela?
Hannah e João – Muito.
F.A. – Então falem aí o que vocês acham interessante, o que tem a ver e o que não tem a ver.
João – Minha mãe só fala em futebol.
F.A. – É? Mas a pesquisa não é futebol e teatro? Sua mãe só fala de futebol, é?
Hannah – Mas minha mãe esqueceu do teatro. Inclusive na dissertação ela recebeu uma reclamação que falou pouco do teatro, falou mais do futebol.
F.A. – E você acha essa reclamação justa?
Hannah – Acho.
F.A. – Mas, você não acha que já se falou muito de teatro no mundo, não, que está na hora de falar um pouquinho de futebol?
Hannah – Mas, então faça uma pesquisa de futebol, não inclui teatro.
F.A. – Ta bom. Passando dessa polêmica... O que vocês acham que teatro e futebol têm de igual e de diferente?
João – O Teatro é com pessoas e futebol é com jogadores.
F.A. – E jogador não é pessoa, não?
João – É, mas não tem maquiagem.
F.A. – Ah, entendi, você diz que no teatro são personagens e o jogador é ele mesmo, é mais ou menos isso?
João – É.
F.A. – Ah, entendi, sem maquiagem. E você, bonita?
Hannah – Eu acho que é também a comunicação, que a gente se envolve no jogo. A gente se envolve bastante, acho que mais do que no teatro. Mas no teatro também a gente se envolve bastante. A diferença é que muitas pessoas vão ao futebol pelos motivos que a pesquisa fala começou a ser, sabe, “bleér” começou a ser cafona, essas coisas assim, e futebol, não, futebol é povão. Essas coisas assim.
F.A. – Ótimo. Diga, João, qual foi a peça que você gostou?
João – O sol.
F.A. – Que peça é essa?
João – A diretora ´´e Adriana Silva Amorim.
F.A. – Ah, o Solo. Solo Compartilhada. Você gosta muito, é? Por que você gosta?
João – Porque tem uma parte que ela vai pra frente e pra trás, pra frente e pra trás.
F.A. – E por que você gosta disso?
João – Porque é muito engraçado.
F.A. – Ah, então você gosta de coisa engraçada. E Adriana sabe jogar futebol?
João – Não.
F.A. – Não? Você respondeu muito rápido a essa pergunta.
João – Ela só faz dois gols.
Hannah – Ela é uma pesquisadora. Pesquisadores não sabem jogar. Pesquisadores pesquisam quem sabe jogar. Eles não têm tempo pra jogar.
F.A. – Entendi. Então, pra encerrar, eu gostaria que vocês falassem alguma coisinha.
Hannah – Mãe, eu te amo muito.
João – Tchau.
F.A. – Vocês são muito básicos. Obrigada. Dá um beijo para os leitores do blog futebol de artista.
Seja batendo uma bola no palco, ou fazendo cena no campo, TEATRO e FUTEBOL estão em constante aproximação.
Por isso, vai ser lançada neste blog uma espécie de coluna (como seria este nome em blog?), onde convidados vão digressar sobre o tema. Ou um ou outro, ou os dois, ou ainda nada disso.
A idéia é termos uma diversidade maior de provocações.
Vc pode participar com comentários ou pode participar com um post. Mande um email para dri_morim@hotmail.com ou dricafutebol@gmail.com (o hotmail estava com problemas) com seu texto e eu publico. Se não me xingar toda ou não falar grosserias contra ninguém eu publico. Se for ofensivo, veto mesmo!
Vc pode ser de qualquer área, qualquer idade, enfim, vamos tentar montar este espaço aqui.
Grande abraços a todos.
Estamos trabalhando na primeira edição que deve ser postada amanhã mesmo.
Uma previsão das duas primeiras postagens:
João Vicente e Hanna Abnner falam de futebol e teatro Daniel Marques solta o verbo!
Aguarde.
PS. Amanhã tem BA-VI e eu sem dindin. Ninguém merece!
Eu e meu marido (e todos aqui em casa) somos Bahia.
Mas, temos, obviamente, um segundo time, aquele que nos une mais nacionalmente falando, já que o Bahia se recusa a voltar para a primeira divisão. Vai entender...
O problema, é que, ao contrário da escolha baiana, temos times diferentes. Ele é Flamengo - por causa da mamãe e eu sou Corinthians por causa do papai.
E num é que vamos nos topar num campeonato latino-americano? Vai ser uma bela partida e uma bela torcida.
O que estes três times têm em comum - além da nossa torcida - é o fato de serem times do povão. Quem conhece sua história, sabe. Claro que o Flamengo nasce dentro do clube de regatas que era um clube de grã-fino, mas o futebol não era lá muito bem visto no comecinho do século XX, não. Fico devendo postagem sobre. Falando de presente, sabemos que os gaviões, os urubus e os super-homens - todos bichos que voam - representam os times de classes baixas, operários, gente pobre que rala e que torce com aquele toque a mais de paixão.
Não é a toa que estes três times são conhecidos nacionalmente por suas toridas hiperbólicas. Um povo que torce mais, que ama mais, que grita mais e que faz mais barulho. Não vou forçar a barra e dizer que ganha mais porque nenhum dos três tá fazendo por merecer, mas já falei e repito, um clube ou time é mais sua torcida do que seu escrete (fui longe agora no vocabbulário. Ave Mário Filho!)
Bom, agora é esperar. Juntos vamos torcer para nosso time levar o estadual e juntos vamos torcer separados na Libertadores.
Mas, nada disso vai nos separar debaixo do edredon, porque ao fim e ao cabo o que o futebol tem de bom demais é essa capacidade de representar o conflito naquele campo simbólico. Quem sabe a gente até não brigue menos na vida real, depois da partida???
Eu pensei muitas vezes até decidir escrever este post. Mas chega uma hora, que não dá.
Eu gostaria muito de entender, e talvez alguém possa me ajudar, o que acontece de fato com os pagamentos feitos (ou não) pela FUNCEB (Fundação Cultural do Estado da Bahia) aos seres humanos que lhe prestam algum tipo de serviço.
Mas eu não quero aquelas explicações cheias de siglas e de planilhas e de retórica construída exatamente para não ser entendida. Estas eu já ouvi, já tentei entender, já até entendi em alguma medida e quando entendi não me dei por satisfeita.
Eu quero entender é porque já é considerado normal uma pessoa trabalhar para a FUNCEB e levar meses, MESES, para receber. Será que as pessoas pensam que a gente trabalha pra ocupar o tempo ocioso? Será que acha que é caridade ou afeição ao governo petista? Ou será que o simples fato de saber que a gente pega qualquer coisa porque precisa e não reclama por medo de não ser chamado mais, faz com que as coisas andem do jeito que andam (quando andam, o que é raro)?
Eu vou dar dois exemplos pessoais.
Quem é aprovado em um edital sabe o deus-nos-acuda que é receber a segunda parcela. Eu entendo que os trãmites com o Fundo de Cultura são novos, blablablabla. Eu juro que entendo. Mas entender, não quer dizer que eu fique cega o burra para não ver que a questão às vezes está nas pequenas ações. No demasiado poder que é dado a um funcionário que pode segurar seu processo por semanas num só lugar. É uma tirania!!!
O segundo exemplo, é mais grave um pouco, sorbetudo porque o dinheiro já existe, já está disponível e simplesmente é negado a quem é de direito.
Falo do Ponto de Cultura Cine Teatro Solar Boa Vista, onde eu e muitos outros profissionais trabalhamos e recebemos sempre com muito atraso, mas que desta vez passou dos limites. Já são quase dois meses de atraso e as pessoas responsáveis pelo projeto simplesmente não dão qualquer satisfação ou providência sobre o pagamento. São sempre as mesmas explicações inexplicáveis e sempre a promessa de que semana que vem sai.
Já não bastava o estranhamento do Governo Estadual receber dinheito do Governo Federal para fazer o que já devia fazer com sua própria verba, ainda tivemos que lidar com uma série de coisas, entre as quais, dar oficina sem ter o material didático (para o qual havia verba) porque simplesmente a burocracia não deixou comprar o material a tempo, para citar apenas a mais grave.
De todos os modos, a equipe que estava trabalhando tentou dialogar sobre estas distorções e, sem nenhuma autonomia ou poder de decisão, a coordenação (da qual eu fazia parte) tentou interferir no modo como as coisas eram conduzidas. Sem sucesso.
Deixei o cargo de Coordenadora Artístico Pedagógica no último mês, por discordar do modo como o projeto era conduzido, por conta dos sucessivos atrasos de pagamento, somados a problemas de saúde.
A minha questão agora, é como é possível uma infinidade de trabalhadores sérios ficar a mercê de critérios de pagamento que mudam ao sabor dos ventos - cada mês eles acham um critério diferente para justiticar os atrasos. É saber porque temos que ficar reféns das dezenas de setores que fazem o que querem com nossos processos que não andam nunca. Eu entendo que os trâmites buscam inibir a corrupção, mas ter que passar por estes departamentos todos não deveria significar ficarmos reféns do bom humor destas pessoas, ou do tempo, ou das licenças, ou sei lá de quê. Se tem uma data no contrato, esta data tem que ser cumprida e a FUNCEB que se vire para fazer com que isso aconteça.
Estou farta de ser connivente com este procedimento. No governo anterior a gente ouvia sempre falar: "Você sabe que a FUNCEB é assim mesmo, Não tem jeito." Ora, se até o câncer já tem jeito, por que que as estratégias de pagamento da FUNCEB não podem ter?
O que atrapalha é que a gente é cordeiro demais. A gente aceita esses absurdos da FUNCEB - porque quer passar no próximo edital, porque quer se chamado para o próximo projeto, porque a gente é desrespeitado e fica atrás de migalha em todo o canto. A gente esquece de se respeitar a si mesmo.
Cansei desse joguinho. Não quero mais ser conivente com este tipo de procedimento injusto, cruel, arbitrário e deslavado. Eu quero meu dinheiro no prazo, porque cumpri minha parte no contrato. Ai de mim, se fosse eu que descumprisse uma cláusula. E quero deixar claro que sou muito estusiasta do trabalho do Secretário de Cultura, suas idéias, sua gestão. Mas é preciso estar atento à ponta do negócio. Ao tratamento que é dado ali, no cara a cara. A garantia de respeito à pessoa humana que tá ali na ponta mesmo. De que adiantam grandes idéias se não se tem o menor respeito pelas pessoas que fazem todo o trabalho real e pesado? Teve um mês que meu processo andou porque eu entrei na FUNCEB e dei um barraco. Eu não quero dar barraco todo mês. Eu não preciso dar barraco. Eu tenho direito de ganhar o dinheiro que eu trabalhei para merecer, em silêncio, com respeito, sem ter que me expor, como estou fazendo de alguma forma agora.
TRATEM A MIM E A TODOS OS QUE PRESTAM SERVIÇO A ESTA FUNDAÇÃO COM O MESMO RESPEITO QUE SE PROPAGAM NOS DISCURSOS E NOS EDITORIAIS.
Eu, Pierre Levy, Milton Santos, Michel Maffesoli e muitos outros (Sentiu a mistura? Tô me achando) já disconfiávamos que deveria haver algo de muito bom neste novo mundo da internet.
E cada dia mais eu descubro que não estamos errados.
Entre tantas maravilhas que o mundo virtual pode nos proporcionar, algo que os brasis, como Darcy Ribeiro chama os índios já conheciam e praticavam há muito, está em larga escala sendo revigorado. Não digam que é pura ilusão minha. Procure no lugar certo. Abandone as coisas baixo astral da internet e se dedique às legais (não necessariamente legalizadas, que fique claro.)
Confuso parágrafo? Eu sei, foi de propósito. Estou falando de generosidade.
E eu teria uma lista de coisas para citar, mas texto de blog tem que ser curto e rápido, então vou dar um metaexemplo. A internet que ajuda a internet.
O Blog DICAS BLOGGER é uma coisa impressionante. É uma galera que ajuda blogueiro meio tapadinho como esta que vos fala, a usar melhor esta ferramenta deliciosa. Eles dão o passo a passo de praticamente tudo o que você precisa e de coisas que você nem sabia que precisava.
É demais.
Viu o modelo novo? Aprendi com eles. Viu os slides? Aprendi com eles.
E tem posts que eles mesmo dizem que explicaram mas que ninguém entendeu, então eles vão explicar de novo, devagarinho. Não é lindo? E olha que blog dá trabalho. Eu sei que eles devem ganhar alguma coisa com isso. Os chatos de plantão vão ficar dizendo que eles ganham dinheiro com o blog, que o blog vai ficando popular, ai que saco!!! Mas, caramba, eles fazem o bem. Eles disponibillizam o conhecimento que volta a ser coletivo deixando de ser privado (é uma redundância, eu sei). Que ganhem dinheiro, acho mesmo bom. Mas estão fazendo coisas boas.
E o melhor de tudo, tenho que falar. A picona é mulher! Veja lá:
A Autora
Eu sou a Juliana, médica, blogueira, geek e tuiteira. Meu contato inicial com a Informática aconteceu em 2001, quando comprei o meu primeiro computador e fiquei encantada com as possibilidades encontradas na internet. Sempre fui muito curiosa e resolvi fazer um curso de hardware para poder cuidar dele sozinha.Acabei me interessando pela área de segurança digital e em 2004 fundei uma comunidade no Orkut chamada Antivirus e Segurança. Pensando em levar para toda a web o conteúdo disponibilizado no Orkut, acabei descobrindo os blogs. Em 2006 criei o AvSecurity - que hoje se chama Dicas de Informática e logo apareceram os primeiros leitores interessados em aprender como criar um blog; foi daí que resolvi compartilhar o pouco do que eu sabia criando o Dicas Blogger - que acabou se tornando um dos metablogs mais populares do país.
Teilor é um dos principais colaboradores do fórum oficial do Blogger e autor do Without Brain.
Existem mais dois colaboradores que cuidam dos emails e que fazem a triagem dos comentários que serão aprovados por mim, mas eles optaram por não se identificarem.
Este post é uma homenagem a quem faz o bem sem olhar a quem. Generosidade tá na moda. Super IN.
Parabéns garotada do dicas blogger. Vou continuar indo sempre lá.
Sempre agradeço a Deus por estar em casa quando a chuva cai com gosto. E como ela tem caído. Serão as lágrimas do fim dos tempos? Lágrimas intensas e gritantes. As árvores balançam e eu sinto certo medo.
Se falta luz - me apavoro - escravos da tecnologia, como viveremos numa cidade sem luz? O povo da roça respeita o tempo do escuro e se recolhe e convive com ele. Nós criamos a 'luz da noite' e sua ausência quase que autoriza tudo. Repara, não. É que tenho tendência à síndrome do pânico.
Hoje é aniversário de minha filha mais velha. Todos os anos, neste período, passo toda a semana relembrando os momentos antes, durante e pós-parto. Um rito. Há doze anos, eu me tornava mãe e isso faria toda a diferença. Lavando, há pouco, sua farda ao mesmo tempo em que acompanhava a tarefa do pequeno, me dei conta de que me sinto uma pessoa melhor. Em todos os sentidos. Uma atriz melhor, uma pesquisadora melhor. Mãe!
E por falar em vida, nesta semana estive em contato com a morte duas vezes. De longe, ela conversava comigo. Eu tive que ser a pessoa sensata que conversava com ela e que fazia o diálogo entre o mundo de cá, suas burocracias, documentos e rituais, com o mundo de lá, a tristeza, as lágrimas, as perguntas de porquê. De um lado, um velhinho lindo que sofria e foi descansar. De outro um bebê que já nascera sob o risco de um problema de saúde.
E a chuva sempre parece compor um cenário mais fúnebre, parece ressaltar a dor e cremos mesmo que o céu chora conosco.
Mas, vou comer o bolinho gostoso que seu papai faz pra todos nós nos nossos dias. Estou em casa, na garantia tola de segurança. Perto daqueles que tanto amo. Num dia feliz em que resolvi problemas prosaicos.
Sentada aqui, agora, com vocês - é provável que já não esteja mais, mas a beleza da sentença vale o vazio da certeza - paro e penso nessas coisas da vida que nos foram autorizadas a pensar. E pensemos juntos, sempre e muito, porque quanto mais pensamos, mais deus nos revela pedacinhos de seu segredo.
Foi Paulo Freire quem me ensinou que o que somos, somos, em qualquer parte, em qualquer situação. Assim, mesmo que este não seja um blog necessariamente político, pois o é de alguma outra forma, quero declarar meu voto e minha campanha aberta à continuidade do Governo do PT, tanto em nível nacional quanto estadual.
Mas, acalmem-se, não farei deste blog plataforma de eleição. É só pra declarar.
Que força da natureza é essa que tem feito o Vitória estar perdendo para os times do interior no campeonato baiano no primeiro tempo e sempre - depois do intervalo - conseguir virar o jogo, ou pelo menos empatar?
Quem tiver possíveis respostas, favor postar no comentário.
Eu tenho cá minhas suspeitas, mas é melhor eu ficar quieta.
O texto a seguir é organizado a partir de trechos do livro Veneno Remédio Wisnik (ver lista ao lado) onde, entre inúmeras e impressionantes considerações sobre o futebol, o escritor e artista multitalentoso fala sobre futebol e poesia a partir do olhar do também multitalentoso e irreverente poeta italiano Pier Paolo Pasolini.
"Pasolini dizia que o futebol é uma linguagem, e comparava jogadores italianos com escritores seus contemporâneos, vendo analogias entre os estilos e as atitudes inerentes aos seus ‘discursos’. Mais do que isso, falava escrevendo em 1971, de um futebol jogado em prosa, predominante na Europa, e de um futebol jogado como poesia, referindo-se ao futebol sul-americano e, em particular, o brasileiro. (...)
Apesar de seu caráter apenas indicativo, Pasolini não falava de poesia no sentido vago e costumeiro de uma ‘aura lírica’ qualquer a cercar o futebol.Também não estava projetando ‘conteúdos’ narrativos para dentro do campo. Em vez disso, influenciado, e não sem humor, pela voga semiológica da época, identificava processos comuns aos campos da literatura e do futebol: pode-se dizer que via na prosa a vocação linear e finalista do futebol (ênfase defensiva, passes triangulados, contra-ataque, cruzamento e finalização), e na poesia a irrupção de eventos não lineares e imprevisíveis (criação e espaços vazios, corta-luzes, autonomia dos dribles, motivação atacante congênita). Sugeria com isso, pela via estética, uma maneira de abordar o jogo por dentro, e nos dava, de quebra, uma chave original para tratar da singularidade do futebol brasileiro. (...)
O futebol era para ele (Pasolini) o terreno em que se dava o grande teatro e o rito da presença, expondo ao vivo, em corpo e espírito, um largo espectro da escala humana. Mesmo tendo percebido desde longa data o movimento da tomada desse terreno real pela irrealidade dos simulacros da mídia burguesa, pela vacuidade da sua espetacularização e pela sagração de suas vedetes como paradigmas do consumismo, e mesmo tendo se tornado um dos críticos mais contundentes desse fato, nem por isso se permitia atacar o futebol enquanto tal.
Na verdade, era nesse ponto de estrangulamento, de certa forma desesperado, inquieto e fecundo, que sua paixão viva não se deixava anular nem separar de sua consciência crítica, exigindo ver o futebol ao mesmo tempo de dentro e de fora, suportando a consciência daquilo que ele tem de alienante e manipulado em nome daquilo que tem de autêntico, memorável, apaixonante e inesperado – em outros termos, bem seus, naquilo que ele tem de popular e real."
E arremata mais adiante:
"Mais do que o campo deserto da vida vazia, o futebol é um campo de jogo em que se confronta o vazio da vida, isto é, a necessidade permanente de procurar-lhe sentido.
Procurar, aqui, na acepção ativa que inclui também encontrar, emprestar e inventar sentido – ali onde ele falta como dado, mas sobra como disposição a fazê-lo acontecer.
Como na dança e na música, o jogo é um perseguidor e um procurador do sentido que falta – um representante do que não está, sem que, com isso, se pretenda dá-lo como presente. Essa produção de presença, evidentemente não intencionada e não formulada nesses termos, se dá numa temporalidade própria, em ato, com meios elementares e concretos, e se repõe porque não se esgota na sua instantaneidade, na sua imediatez e na indeterminação aberta de seus conteúdos.”
Muitas coisas me chamam atenção em relação à internet. Muitas mesmo. Tenho 35 anos e por ter me criado dentro de alguns preceitos, tenho muita dificuldade de entender coisas desse mundo novo. Admirável - mesmo - mundo novo.
Eu ainda não tinha me convencido de como era capaz a voz de um cantor ficar dentro de uma bandeja preta que ao rodar fazia com que ele cantasse como se estivesse do meu lado, ou em uma fita marrom brilhante que vai e volta, vai e volta e faz você ouvir as mais lindas canções. Ainda não tinha me conformado que a novela não é um mundo paralelo que a gente assiste e que - segundo minha teoria de criança - sendo assim, alguém assistia a gente em algum outro canal. Eu passei boa parte da minha infância certa de que alguém estava me assistindo. Eu ainda olhava para os fios de telefone me perguntando como as palavras não trocavam de destino quando trafegavam de um lugar para o outro. Eu ainda estava assim cheia de perguntas sem respostas quando me aparece a internet.
Aí, as dúvidas se tornaram infinitamente maiores e eu desisti de entender, pelo menos por agora. Eu vou me aponsentar um dia aí eu me dedico a isso. O bom, é que mesmo sem entender como essa parte tecnológica funciona, dá pra ir usando e buscando entender da parte que nos cabe saber para realizar o que nos interessa.
Daí que eu acho iscaipe tudo de bom. Filme de ficção cinetífica, quando a gente shonhava com os videofones. Delícia. E tudo mais. Amo orkut, resisto ao feicebuque porque sempre achei que era orkut de rico (a distinção e a pretensão de Bourdieu), mas respeito... Gosto do youtube, baixo filmes, músicas, vejo notícias. AMO blog e wikipédia.
Mas por que todo este blablabla? Porque sou mãe, professora e artista. E como tal vejo na internet um poder absurdo de criação e de aprendizado. Meus filhos dão show, (sabe o que é show?) dão show no computador.
João, antes de se alfabetizar pegava os devedês dos desenhos que ele gostava e copiava o título na barra de pesquisa e como já sabia digitar o nome jogo, pronto: jogava o jogo que queria.
Ele desenvolveu gosto pela alfabetização porque queria mais autonomia no computador, já que ele pedia muito a nossa ajuda e isso limitava sua navegação. Hoje, ele está muito bem alfabetizado - tem uma letra linda, viu pedagogos de plantão! - adora ler livros e revistas em quadrinhos, além de criar suas próprias histórias, por influência do pai cartunista anônimo.
Hannah também gosta da net, claro. E o que vem a seguir é uma produção que só é possível em tempos de cybercultura, não apenas numa perspectiva técnica, mas sobretudo numa perspectiva ideológica, conceitual, comportamental.
Qualquer um faz o que quer, o que pode e o que sabe e, então, disponibiliza seu produto na rede. Não tem mais a necessidade de uma tv e de meios e pessoas que aprovem ou julguem o que é bom e o que não é para ser publicado. Agora publica-se de um tudo, E vc escolhe o que quer ver. Agora vc é o curador. Vc procura, vc deleta, vc acha, vc baixa, vc divulga. É só um começo, mas é um belo começo. Milton Santos acredita que a tecnologia vai nos permitir muitos avanços sociais, mas isso só vei depender de nosso desejo de contruirmos um novo mundo que tenha como eixo o ser humano. Bom, mas esta já é outra conversa.
Agora, vamos ao produto de minha galera.
Hannah (filhota) Cathy (sobrinhota) Alex Moreire (cunhado) e Ayla (sobrinhota) fizeram este vídeo. Cathy e Hannah têm verdadeira paixão pelo novelão Alma Gêmea e ficavam fazendo as cenas em casa. Já nem me lembro quem teve a primeira idéia de fazer um vídeo. Sei que Cathy fez uma senhora pesquisa na net e construiu com Hannah o roteiro. Ensaiaram muito. Numa viagem a Alagoinhas, produziram o vídeo, com direção de Alex, tio da galera.
A experiência é enriquecedora, e ainda que represente apenas uma brincadeira feita por crianças e gente grande, é uma das formas de se apoderar do modo de fazer. Esse apoderamento é uma grande revolução e podemos, partindo de pequenas experiências, produzir grandes mudanças.
Eu acredito num mundo melhor. Eu acredito num futuro bom. Eu gosto de cybercultura.
Vamos nos divertir.
PS. O áudio é ruim, porque o equipamento era mais caseiro que meu cuzcuz com ovo. Mas, nada impede o avanço da tecnologia. Se não tem tu vai tu mesmo.