Depois da pesquisa de mestrado realizada no PPGAC - UFBA, intitulada TEATRO X FUTEBOL: Por uma dramaturgia do espetáculo futebolístico, dou continuidade à pesquisa em nível de doutorado: A EXPERIÊNCIA TRÁGICA DO TORCEDOR: o Futebol como espetáculo absoluto do Século XX. Neste blog pensamentos, perguntas, problematizações, cotidianices, política, arte, poesia. TEATRO E FUTEBOL juntos, porque entre o campo e o palco, entre o jogo e peça existem mais parentescos do que supõe a nossa vã filosofia.
Depois da entrevista concedida a Bruno Camarão, é a vez da Universidade do Futebol publicar na seção SOCIAL, um artigo produzido por mim sobre a importância do futebol enquanto evento estético para o povo brasileiro.
Se agora fosse uma peleja de 90 minutos, dessas em que o tempo não pára, pararia eu o tempo real e ficaria ali no meio do campo, bem no meio, de onde a bola sagrada sai para dar início ao rito. E como ídolo de uma torcida de milhares eu ficaria olhando o céu aberto, céu de fim de tarde que eu acho tão bonito jogo em fim de tarde. E não veria os parceiros, nem os adversários. Não veria o juiz nem os bandeirinhas. E nem ouviria as mesmas e tolas perguntas dos repórteres de envergonhar Nelson Rodrigues.
Só aquela torcida. Aquele corpo azul,vermelho e branco. Lá no fundo aquele hino glorioso.
E fecharia os olhos e como um bobo menino Bobô, eu seria feliz no futebol!
E que nenhum dos meus sonhos desabe sobre minha cabeça!
Está lançada a reação dos verdadeiros donos do Bahia, os torcedores, contra os usurpadores!
Sei que por mais que tenham sido dolorosas as surras supostamente dadas pelo seu principal rival (porque na na minha cabeça desde o 5 x 1 até o 7 x 3, passando pelo vexame da Copa do Brasil, estes resultados sempre representaram algum tipo de manifestação de parte do elenco) essa descida ao inferno foi o que motivou a torcida a se unir e agir.
Como em tudo na vida, no futebol também parece ser preciso atingir os piores níveis de dor para que se esboce alguma reação. Que bom que ela veio! Antes tarde do que nunca!
Mais de 6.000 torcedores participaram do lançamento da campanha pela democratização da gestão do clube.
Que coisa louca de se concluir: o pessimismo nietzschiano e a Melancolia de Lars Von Trier, embalada pelo clássico Tristão e Isolda, do amigo do filólogo, o compositor Wagner, alimentam minha alegre pesquisa sobre futebol brasileiro.
Não deve ser coisa estranha ficar perdida numa fase como essa.
A caminho dos 39 de nascença e beirando os 45 do segundo tempo do doutorado, eis-me aqui, atolada em leituras que a cada nova página me enlouquecem, posto que ao esclarecerem, me confundem.
Nietzsche já me pôs doida de vez, levando o pouco que me foi dado de sanidade.
E agora, eis que tento fugir da filosofia, atirando-me nos braços de teóricos do teatro e Peter Szondi, este autor que eu julgava tão confuso e que agora me parece tão parceiro, lúcido e límpido, começa a falar de artista filósofo e me cunha o termo poética filosófica.
Se o Bahia deixar e a vida permitir, quero chegar inteira à defesa deste tal de doutorado.
Quem manda catingueira inventar de ser doutora? Até tentei ser ousada, fazendo doutorado em artes, até tentei ser popular e estudar futebol, mas ser doutora é coisa que dá trabalho, seja lá do que for. Né, não, Dr. Sócrates?
Bom, foi só uma paradinha pra desabafar. Sem facebook fiquei solitária. É bom que volto pros blogs.
Minha mãe sempre mandou não exagerar nos estudos pra não ficar doida. Eu acho que num tem mais jeito!
Não me parece coincidência que em meio aos estudos sobre o 'trágico' e no exercício de definir o futebol como a 'experiência trágica' do espectador brasileiro, eu me depare com a leitura de Nietzsche sobre o nascimento (e morte) da tragédia clássica justamente no momento em que o Esporte Clube Bahia dá seus últimos sinais de vida.
Já são quase duas décadas de decadência vertiginosa.
E morre, com o Esporte Clube Bahia, não apenas um time, mas o sentido do futebol.
Não é por acaso que em determinado momento da pesquisa, optei por falar do futebol no Século XX, propondo-me a analisá-lo até o final do século em questão, posto que esta virada tem feito do futebol algo muito longe daquilo pelo qual me apaixonei e sobre o qual decidi pesquisar academicamente.
A morte do Bahia vem sendo anunciada desde que presidência, equipe técnica e - sobretudo - jogadores não demonstram nenhuma, mas eu digo absolutamente nenhuma relação de afeto ou tradição com o time. Talvez o filme Bahia Minha Vida, de Márcio Cavalcanti e equipe represente um ritual de despedida, um registro último do moribundo agonizante, lembrado por seus momentos de glória.
Também não me parece coincidência que tenho andado em voltas com o soneto 66 de Shakespeare, este homem de teatro popular, que fala justamente sobre morte. Nele, denuncia a vitória do déspota sobre a arte. Lamenta o triunfo absoluto do néscio.
Vamos começar combinando que a tal da festa de abertura teve um toque irrefutável de cafonice e que foi superestimada tanto na divulgação prévia, quanto na cobertura. Cantoras, jogadores históricos marcaram presença. Teve lá uma direção de arte, mas eu achei aquilo bem insosso, num sabe, para dizer pouco.
A briga de Ivete Sangalo e Cláudia Leite é constrangedora. (Bom, Cláudia Leite é constrangedora sempre, é bom que se diga. Além do mais, essa onda de ficar pongando no Bahia pra manter uma fama na qual só ela acredita, me irrita muito). Essa baboseira é, para mim, mais uma prova da morte do futebol.
Querem produzir um espetáculo onde espetáculo deveria haver. Tem coisa errada no palco certo.
Tava pronto o espetáculo do futebol, pra que mais?
O espetáculo que é do povo: morto!
Mais uma vez, vence a pá de cal, minando tudo que é vida.
O espetáculo nas mãos de consórcios, diretores, burgueses intoleráveis, mais uma vez triunfa sobre o espetáculo do povo.
Néscios!
BAHIA 1 X 5 VITÓRIA
A goleada de 5 X 1 hoje do Vitória sobre o Bahia já seria de doer se revelasse a incapacidade crônica do Bahia de exercitar o mínimo do que se pode chamar futebol.
Já seria uma dor profunda para qualquer torcedor, mas o que parece estar de fato acontecendo é muito pior, tão pior que faria da derrota pela incompetência técnica, um sonho!
O que se viu hoje em campo, na inauguração da Nova Fonte Nova, foi o exercício total da individualização, particularização do rito coletivo
Nietzsche conclui que a morte da tragédia se deve à privatização do conflito que sai do herói trágico (que é coletivo) e passa para o herói dramático (que é individual) e também à racionalização de sua prática (bem como de seus princípios). Estes dois fatos desembocariam mais tarde no surgimento de nova forma de poesia dramática que é o drama moderno. Pois o mesmo parece estar acontecendo aqui com o futebol.
E eu, pasmada, assisto ao futebol imitar a tragédia mais uma vez.
Não apenas em sua origem ritual, como constatei no mestrado.
Não apenas no seu modo de se relacionar com o espectador, como tenho feito no doutorado.
Mas (e esta dedução é fresquinha) assisto, desolada, à semelhança em sua agonia e morte.
Se coube à dupla Sócrates e Eurípedes, segundo Nietzsche a morte da tragédia através de sua transformação em drama individualista, cabe à dupla dinheiro e fama a morte anunciada do futebol, transformado em drama mercantil.
JORGINHO X SOUSA
Digo isso, porque o que se vê na mídia agora, desde a vergonhosa derrota, é que o 'resultado' teria sido entregue pelo grupo de jogadores que, em defesa do amigo Sousa, contra o técnico Jorginho, teriam produzido, deliberadamente, a lamentável performance.
É de se imaginar que mesmo que o time fosse o pior time do mundo, numa situação dessas: um clássico, re-inauguração da Fonte Nova, templo sagrado do Bahia, depois da trágica (e uso o termo com consciência) morte de sete fiéis torcedores que morreram no exercício de sua paixão, mesmo o pior time do mundo não teria tomado de 5 X 1 e não teria feito uma partida apática, vergonhosa e lamentável como se viu nesse fatídico 7 de Abril. É, o número sete parece rondar a história do Bahia!
O que me espanta são as proporções que pode tomar o individualismo desses jogadores, para mim inescrupulosos (reconhecidamente parceiros de farra do atacante protagonista do conflito com o técnico Jorginho, que acaba de sucumbir, por conta do resultado.) Usar um jogo deste pra derrubar um técnico é um desrespeito à torcida.
Eles são capazes de jogar no lixo o amor incondicional de torcedores que pagaram quase cem reais por um ingresso (porque para estes torcedores a re-inauguração do templo, o clássico, isso faz algum, ou melhor, isso faz todo o sentido da vida);
E jogam no lixo não apenas o amor do torcedor tricolor. Não. Jogaram no lixo o sentido do clássico baiano.
Não se iluda caro torcedor rubro-negro, esse clássico foi uma farsa.
O passeio do Vitória sobre o Bahia não tem nada de jogo de futebol no sentido pleno de sua acepção, mas tem tudo de jogo de egos, de disputa e exercício do poder.
Ora, que relação têm esses jogadores com a história do Bahia e mesmo da Bahia?
Que diferença vai fazer pra qualquer um deles amanhã ter feito parte dessa derrota?
Quiseram mostrar - e mostraram - que neste mercado, eles é que mandam e isso até poderia ser bom. De fato, faz sentido o jogador ser o dono do jogo, como o ator é o dono do espetáculo.
Mas aqui, exerceram o nobre poder a partir de interesses próprios e escusos.
Jogaram na privada (e deram descarga) a nossa história, o nosso BA X VI repito, e não apenas o Esporte Clube Bahia.
Montaram uma queda de braços, onde só se queria ver futebol.
Mostraram que em nome de interesses particulares, jogam areia no brinquedo de meninos apaixonados pelo time.
O que muda na vida do jogador que esteve nessa partida daqui há alguns meses? Nada. Pra ele não vai fazer diferença nenhuma estar na lista esquecida do escrete que tomou a porrada. A diretoria? Não tá nem aí. O técnico, tem sua carreira pra cuidar.
O único elemento que ainda identifica o time, o único, solitário, abandonado e humilhado, é o torcedor. Ah, esse, como sofreu e sofre, dia-após-dia com o câncer que dilacera seu time, seu futebol.
Os jogadores vêm e vão e até já faz parte da dramaturgia do futebol do século XXI a satisfação que é para um jogador, tendo saído de um clube recentemente, se reencontrar como este mesmo time e ser seu cruel algoz, metendo-lhe na rede a bola fatal.
Não há mais no jogador a relação de paixão com o time. Pelés, Manés, Zicos e Bobôs? Esqueça!
Forasteiros quase todos os jogadores do Bahia, fico imaginando esses não-baianos comentando longe das câmeras sobre o que é o futebol baiano e o quanto aguardam para sair dele.
Pobres coitados. Nós e eles.
Matam o futebol.
O futebol que poderiam deixar de herança para filhos e netos, vai morrer em suas mãos.
Mas, que culpa têm também esses pobres coitados?
Incapazes de uma reflexão crítica sobre a própria profissão que exercem, deslumbrados com dinheiro e fama, entregam nas mãos do mercado aquilo que de maior valor tinham em mãos e matam o futebol com punhaladas de dólar e holofotes enquanto o torcedor se esvai de tristeza.
O que se desenha para o futuro, meu atual pessimismo não me deixa vislumbrar.
Há ainda muito para que o defunto se deite,é certo.
Muita coisa estranha, feia e nojenta ainda vai ser feita em nome do futebol.
A FORÇA DA GRANA QUE ERGUE E DESTRÓI COISAS BELAS.
Muito o torcedor ainda vai se enganar até que a morte oficial seja decretada, até que a humanidade se reconstrua em sua subjetividade e uma vez mais encontre uma nova forma de confrontar-se com sua natureza humana na experiência trágica.
Nem sempre houve tragédia.
Ela nasceu e morreu.
Nem sempre houve futebol.
Ele nasceu e agoniza.
Que sigam, como parte da mesma desgraça, o riso rubro-negro e o choro tricolor.
Como as máscaras do Teatro, as duas manifestações fazem parte de uma mesma cena.
Duro para mim, como torcedora, como atriz, como pesquisadora, é estar viva para ver essa trágica anti-tragédia.
"Adriana Silva Amorim aprendeu a amar o futebol sob um olhar bem peculiar. Filha de pai corintiano, esposa de marido tricolor baiano, a professora de Dramaturgia na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e mestre em Artes Cênicas envergou o sentimento apaixonante do futebol para o lado do parceiro. E, consequentemente, para o viés acadêmico.
A atriz de formação realizou uma dissertação de mestrado intitulada “Teatro x Futebol: por uma dramaturgia do espetáculo futebolístico” e costuma dizer que a pesquisa busca sistematizar intelectualmente aquilo que o povo já sabe, dado que o saber popular sempre será anterior e superior ao saber escolar, sobretudo no campo da cultura.
Adriana passou a estudar aquilo que o povo sabe e experimenta no cotidiano. Mesmo tendo chegado, como intelectual, “atrasada à festa da vida real”.
Para ela, o futebol tem origens em ritos sagrados, como o teatro, e é feito num lugar específico para se ver, como o teatro. Os paralelos continuam: a modalidade tem seus elementos próprios de constituição como o teatro, é efêmera e eterna ao mesmo tempo, enquanto cena, exatamente como o teatro.
'O futebol é uma representação da vida real, colocando em cena importantes elementos da experiência humana, como o teatro. O futebol requer uma apropriação do modo de fazer, sobretudo do ponto de vista corporal, como o teatro. Por que, então, o futebol não é arte?', questiona Adriana.
A doutoranda em Artes Cênicas, com licenciatura em Teatro, entende que um gol é um processo de transformação do ‘eu’ particular no ‘eu’ coletivo e essa definição está embargada em algo político. As manifestações físicas e comportamentais do torcedor numa partida decisiva representam um momento de fronteira entre a vida real e cotidiana e a existência subjetiva.
'Em tempos de tão poucas experiências ritualísticas, em tempos de racionalização profunda, eu acredito que o futebol se configure como importante manifestação simbólica do homem contemporâneo, porque através dele, como nos ritos religiosos antigos, o homem sai de si e experimenta outra existência que é fundamental porque ainda é coletiva e nós somos, eu não tenho dúvida, seres coletivos, apesar de vivermos e conduzirmos a sociedade e as relações de forma tão individualizada', acrescenta.
Nesta entrevista concedida à Universidade do Futebol, a artista fala sobre como é possível um jogador de futebol se alfabetizar em todos os sentidos, do lingüístico ao político, passando pelo estético, e também se dedicar ao aprendizado da própria profissão. Além disso, enaltece a relação “treinador-professor” existente nos clubes e o espírito interdisciplinar que molda as comissões técnicas." UNIVERSIDADE DO FUTEBOL
Que fique claro logo de entrada: Respeito todas as lutas!!!
Mas, honestamente, me incomodo às vezes, quando em nome de uma causa, a gente acaba entrando em questões que não são necessariamente o foco da discussão.
Por exemplo, responsabilizar o futebol pelos problemas de educação do país. Eu acho que uma coisa não tem nada a ver com outra. Salvar a educação não significa parar de jogar ou amar o futebol. O problema da Copa do Mundo de 2014 é a corrupção do nosso país e não a Copa do Mundo em si.
Precisamos, sim, de Copa do mundo, como precisamos de carnaval, de teatro, de novela.
Precisamos de Festivais de Teatro!
Precisamos de Festas Juninas!
Precisamos de Missas, Cultos, Encontros.
Precisamos destas coisas todas sem as quais aparentemente podemos ainda assim viver, porque elas são manifestações humanas distintas da necessidade pura e carnal dos animais.
Precisamos porque quase todo o país ama futebol e fica feliz em sediar uma Copa do Mundo, o maior ritual coletivo do mundo contemporâneo.
Se alguém dissesse que não precisamos de um Festival de Teatro, missa ou culto, estaria ofendendo as classes envolvidas. Por que então todo mundo se sente no direito de dizer que o país não precisa de uma Copa do Mundo?
Talvez você não precise, assim como muita gente não precisa de um monte de coisa que a gente precisa.
Tem gente que não precisa de Festival de Teatro? Tem. Eu preciso!
Tem gente que não precisa de Festas Juninas? Tem. Eu preciso!
Tem gente que não precisa de missa, culto? Tem.
Mas o país, enquanto nação se identifica através do futebol, e para o povo deste país sediar este evento, é sim um motivo de orgulho.
E gente, prestenção: dessa forma a gente fica brigando mesmo é entre a gente. Se o futebol for o grande inimigo da educação, lascou.
O inimigo do futebol, da educação, da cultura, da saúde em nosso país é o mesmo: CORRUPÇÃO. Dá pra entender ou vamos ter que desenhar?
Vamos parar de brigar com o futebol e focar direito esta luta.
Desunidos, somos alvo fácil, como temos sido por tantos anos.
Não precisamos é de fraude, de super-faturamento, de canalhice. A condução específica da Copa do Mundo de 2014 no Brasil é que talvez seja um grande fiasco. Estarmos reféns do gigantesco mercado que se formou em torno do futebol, talvez seja um dos maiores equívocos. Mas daí a colocar a culpa no futebol em si é jogar fora a criança com a água do banho.
Eu tenho certeza que um país tem condições de construir escolas e estádios de futebol.
Por que precisa dizer que não precisamos da Fonte Nova, e que precisamos é de escolas?
Ora, que jeito no mínimo estúpido de se manisfestar e de cobrar o que o governo tem que fazer.
Esse tipo de reivindicação cruzada (tira um e me dá outro) sinaliza a fragilidade de nossa maturidade política, quando vamos para a mesa do governo negociar - a partir de critérios próprios e por isso quase sempre preconceituosos - o que ele deve nos dar e o que ele pode nos negar. Pensamento tacanho.
Reclamamos tanto que sempre se muda de foco quando se discute uma luta, pois é isso que se faz ao ao atacar a realização da Copa do Mundo em nosso país. Batemos na Copa do Mundo e no desejo da grande maioria do povo deste país, quando temos que bater mesmo é no modelo político completamente falido que temos aqui, onde a corrupção impera desde a vendinha da esquina até o Congresso Nacional.
E pra encerrar este desabafo, uma pergunta direta:
QUAL O PROBLEMA DE CHAMAR TÉCNICO DE FUTEBOL DE PROFESSOR?
Será porque só se entende como professor aquele que fica na frente da sala dizendo suas verdades e atribuindo notas às nossas produções?
Não é de fato o técnico um professor, uma referência, um mestre, um guia no processo de construção do jogo? Se chamam professor de tio, caramba, a culpa não é do futebol. De novo a mania de colocar no outro a responsabilidade por suas mazelas.
Qual é o problema, oh, gente de educação? É difícil admitir que há outras formas de aprendizado que não a sala de aula? Bora estudar história da educação?
Eu acho, honestamente, que nossas práticas educacionais atuais são reacionárias, retrógradas, improdutivas, preconceituosas, pouco(ou nada) criativas, covardes e limitadas.
O que de mais importante e significativo em termos de educação se tem feito hoje em dia, devo revelar, é realizado fora da sala de aula. Pode ser duro ouvir, mas lá no fundo a gente sabe que esta é que é a verdade. E ficamos patinando, sem saber o que fazer, botando a culpa em todo mundo menos na gente (pra quem não sabe eu sou professora de sala de aula.)
Mas esta já é uma outra discussão. Fica pra próxima raiva que eu sentir!
Que se diga a tempo: o foco aqui, por incrível que pareça, não é defender o futebol, até porque ele vai muito bem obrigado, não precisa desta advogada. É chamar a atenção para os desmandos que temos feito em nome da educação e dos direitos deste país, pelos quais acreditamos que temos lutado, mas que talvez estejamos apenas repetindo frases de efeito escritas sabe deus por quem. É bolada, professor!
De volta - e agora intensamente - à tese (leituras, escritas, pesquisas, apreciação de vídeos, acompanhamento de jogos) deparo-me com as delícias do universo do futebol.
E a que tem me chamado a atenção é como o torcedor feliz (e o infeliz) assemelha-se a uma criança.
Sem regras, sem limites, sem vergonha, sem medo de ser feliz, o torcedor abandona as regras sociais que o escravizam (mas tornam possível a vida coletiva, eu sei) e entrega-se aos sentimentos, quer seja de alegria ou de tristeza profunda.
O mundo ordinário, cotidiano, onde homem não chora e bofe não se abraça parece ruir diante da grandeza do mundo do futebol. E nada é de caso pensado. Ninguém se prepara pra isso. As coisas acontecem no calor do momento, no limite da possibilidade de viver o aqui e agora, na entrega total de toda a capacidade humana de expressar seus sentimentos.
Curiosamente, a emoção toma conta do torcedor, sem no entanto expulsar dele (pelo menos não totalmente) a capacidade crítica e racional, pois com ela ele acompanha o jogo, avalia os lances, comenta, observa. É um transe sem sair de si. Uma espécie de transe de fronteira, transe consciente, caso a antítese não negue a afirmação.
E outra curiosidade à qual eu ainda preciso me dedicar, é como a vivência deste transe está intimamente ligado à experiência do corpo neste evento. Toda a vivência do futebol - emocional, física e mesmo intelectual está diretamente relacionada, e refletida, no corpo. O afeto, a raiva, a expectativa, o alívio, o sentimento de identificação se manifesta e se experimenta no corpo e nas relações interpessoais a partir do corpo: do abraço de torcedores à agressão física ao adversário.
Abaixo, fotos que ilustram (não como vídeos onde o torcedor pula, canta e abraça o coleguinha) parte dessa alegria do direito de ser menino.
SOMOS DA TURMA TRICOLOR!
SOMOS A VOZ DO CAMPEÃO!
SOMOS DO POVO O CLAMOR!
NINGUÉM NOS VENCE EM VIBRAÇÃO!
VAMOS AVANTE, ESQUADRÃO!
VAMOS SERÁS UM VENCEDOR!
VAMOS CONQUISTAR MAIS UM TENTO!
BAÊA! BAÊA! BAÊA!
OUVE ESSA VOZ QUE É SEU ALENTO:
BAÊA. BAÊA, BAÊA!
MAIS UM
MAIS UM BAÊA
Seria indelicadeza e imaturidade minhas deixar de comentar a virada histórica do Vitória ontem pra cima do ABC.
Não vou falar sobre o jogo, porque eu nem assisti. Acompanhava desinteressadamente no facebook a tristeza pálida dos torcedores que comentavam uma coisa aqui outra ali.
Mas, eis que de repente, comecei a ler comentários sobre a virada. Primeiro, não vou negar, me chateei, pois como tricolor sempre torço para que o Vitória não vença. É coisa de torcedor, gente. Não me venham por favor com teorias territorialistas de que tenho que torcer pra time baiano. Já falei mil vezes sobre esse assunto. Torcedor torce por si e contra o arqui-rival. É um fato!!! Se quiser ler sobre o tema clique aqui. Outro posto sobre o tema, clique aqui.
Vi que dois gols tinham sido de pênalti, a marca do Vitória e seu artilheiro e fiquei ainda menos interessada do assunto. Vitória ganhar com pênalti nos acréscimos não é novidade.
Hoje, porém, vendo as imagens do jogo me dei conta de que estava diante de um importante momento da minha pesquisa. Um jogo decisivo que a 15 minutos do seu fim tem uma reviravolta impressionante comandada pelo mesmo jogador, Neto Baiano, com três gols quando a torcida já havia abandonado o estádio, realmente merecerá ser lembrado para sempre.
A imagem mostrada no Globo Esporte, dos torcedores todos com a camisa 10, saindo derrotados do estádio e os jogadores acreditando ainda, sobretudo a partir do primeiro gol. A garra de Neto Baiano correndo com a bola para o jogo andar, foi realmente impressionante.
É engraçada a dramaturgia, ou melhor, as dramaturgias possíveis ali.
O que era uma derrota certa para o torcedor, era uma classificação concreta para o adversário, o ABC.
E para os jogadores, mais especificamente para Neto Baiano? O que era?
E para o juiz? Ter que decidir (e bancar) por marcar dois pênaltis numa situação desta?
Mesmo que se questione os pênaltis, que eu não acho que seja o caso, há que se admitir que o Vitória teve garra para estar durante os 15 últimos minutos no ataque, se não não teria sofrido os pênaltis. Sei que o torcedor pergunta: por que não fez nos 90 o que fez em 15? Haja coração!!!!
Fico imaginando o que se passa na cabeça de todos esses agentes durante o jogo. Fico imaginando o que se passou dentro daquele campo nestes 15 minutos. Na cabeça do artilheiro.
E ainda falando de dramaturgia da leitura, que eu defendo na minha dissertação do mestrado, o que é uma festa de superação para o rubro-negro, é uma tragédia a ser esquecida, pelo ABC e sua torcida.
A vitória tornou-se possível quando Neto Baiano decidiu que seria possível.
Isso realmente foi lindo de ver (Mesmo que em reportagens, como no meu caso.)
Agora, aquela dica de tricolor para o torcedor rubor-negro: nunca mais abandone o seu time. Mesmo que ele não tivesse feito o milagre de virar aquele jogo, era justamente quando ele mais precisaria de você. Geralmente a torcida dá lições ao clube. Ontem foi o contrário. Que se aprenda!
Como se diz em bom soteropolitanês: Neto retou!!!
Ficam aqui meus sinceros parabéns ao Vitória, de quem eu pego tanto no pé, como tricolor que sou, mas que reconheço o mérito da vitória histórica de ontem. Com certeza este evento fará parte de minhas análises, pois foi um grande jogo.
Só não me peça para torcer pelo Vitória na Copa do Brasil, até porque o Tricolor tá no páreo!
Depois de tantas mudanças (narradas no www.artedoespectador.blogspot.com )eis que me dedico novamente à minha pesquisa querida e eis que para celebrar esta volta vou neste domingo (22 de abril) ao Estádio Lomanto Júnior ver o meu Baêa jogar com o Vitória da Conquista pelas semifinais do Baianão.
Será uma linda festa porque estarei em casa, de novo, depois de tantos anos, indo ao estádio onde vi há mais de duas décadas (eu ainda era uma menina) o Serrano enfrentar o Flamengo de Zico (nem sei se Zico veio) sei que achei lindo aquilo tudo.
Vou torcer pelo Bahia, porque em Conquista sou Serrano. E estou bem feliz com o embalo do meu tricolor.
Fica o convite para os amigos conquistenses. Vamos lotar o Lomantão. Vai ser uma festa linda.
Aí eu volto pra casa, leio, leio, leio, escrevo, escrevo, escrevo e embalo o doutorado que tá na hora, né?
É, tomei coragem e disposição para escrever neste blog que há tanto tempo não atualizo e para falar sobre a atual situação da Bahia.
Juro que tenho tentado ler tudo com alguma isenção ideológica, partidária, sem julgamento, tentando não ser manipulada por nenhum dos lados. Leio tudo com respeito e me disponho a pensar em todos os argumentos.
Mas, o que eu quero falar aqui é sobre o radicalismo de ambas as partes.
Os PMs erraram em pegar em armas? Erraram e erraram muito.
Os PMs são péssimos, verdadeiramente péssimos em suas práticas cotidianas de autoritarismo, racismo, corrupção, abuso de poder? Sim, são. Muito péssimos.
Os PMs são a grande peste que grevistas e manifestantes encontram em suas ações cidadãs? Sim, são.
Mas isso é suficiente para aniquilar o diálogo? Por que eles são péssimos, acabou tudo, não se pode mais debater a questão, eles não têm o direito de reivincar o cumprimento de leis trabalhistas que estão sendo esquecidas?
Não seria essa uma ótima oportunidade para eles reverem sua relação com a sociedade? Ingênua, eu, né? Também acho, mas enfim, acho que os discursos que reduzem a existência a uma coisa ou outra não nos levam para lugar nenhum. Abortam o diálogo, atravancam o desenvolvimento e a transformação.
A greve é política? O PSDB está alimentando o movimento? Se fosse tão simples assim, Jacques Wagner poderia tirar de letra essa questão, eu imagino. Todas aquelas famílias reunidas na AL, todos os cabos, soldados, praças do interior que querem se unir à causa estão sendo manipulados por um único homem? Acho outro pensamento preguiçoso. E essa uma das questões importantes, a gente tem uma preguicinha de pensar e de enfrentar os conflitos. Fica um monte de gente no facebook e no twitter jogando na cara da gente que a gente votou em Jacques Wagner e agora aguente. Ora, vamos debater inteligente e corajosamente a questão ou vamos ficar atirando pedras a esmo?
Eu votei em Jacques Wagner nas duas eleições. Eu sou Petista (sim, ainda sou) e me orgulho disso, porque o PT é uma história de mais de duas décadas, porque ainda há pessoas neste grande partido que defendem os trabalhadores, como o nome do partido sugere.
Mas, isso não me impede de fazer sérias críticas a este partido, do modo como ele é conduzido hoje. O fato de ter votado em Jacques Wagner não me impede, muito pelo contrário, me autoriza, ou ainda me obriga a ser crítica de sua atuação. Sim, me obriga a ser crítica, se pensarmos que o governo é representativo e não autoritário. Ele deve me representar, foi pra isso que votei nele e quando ele não age assim, devo me manifestar, sem medo de ser tachada de 'voto perdido' ou 'traidora do partido'.
Aí que entra meu querido futebol.
O Bahia pode fazer a merda que for, eu vou defender o Bahia sempre. Joel Santana, Renato Gaúcho, René Simões, Márcio Araújo, Falcão, seja quem for, vai fazer merda, a gente vai chiar muito, mas a gente vai continuar Bahia, vai defender, não vai deixar o inimigo falar mal - só quem pode falar mal do time da gente é a gente.
Querer defender o PT como se fosse seu time de futebol, sem criticidade, cego pela paixão de torcedor em conversa de boteco é uma insanidade.
Votar é outra história. Votar é fazer parte do processo de condução da vida política do país. Eleição não é Campeonato Nacional de Futebol e eu não tenho que fechar com todos os equívocos do meu candidato só porque votei nele. Eu tenho outra arma: eu posso não votar nele na próxima eleição. Abandonar um candidato ou mesmo um partido não representa necessariamente abandonar uma ideologia. Pode ser justamente o contrário. Pode ser manter-se na ideologia através de outras representações.
Enfm, posso ter sido bem confusa, e fui, mas quem não está confuso hoje na nossa Bahia?
Eu repudio a forma imatura e vaidosa como Jacques Wagner está conduzindo este importante evento em nosso estado. Para mim, na verdade, não há nenhuma novidade, porque ele tratou como cachorro os professores das unviersidades quando passaram aproximadamente três meses em greve e agora trata milhares de policiais como bandidos.
Se essa bosta é briga política, tá na hora de entrar alguém com um pingo de bom senso e de respeito pelo povo para conduzir esta situação. Se estão acostumados às brigas de gabinete onde são vendidos votos e negociadas ações do governo, leis e procedimentos, não é disso que estamos tratando no momento, Sr. Governador.
Estamos tratando de vidas humanas e isso não se trata com birra nem com vaidade.
De tudo que tiremos uma oportunidade de transformação. Que o fato de os acontecimentos terem influenciado a vida de cada um de nós (o que não acontece com outras greves) nos ensine a fazer democracia, a debater ideias, a rever posturas, a escolher nossos representantes, a nos avaliarmos politicamente e ajudarmos enfim, nosso país a consolidar sua democracia.
Sem tanques de guerra na rua. Sem forças armadas, inclusive porque temos uma presidenta que foi torturada por um regime bruto e cruel conduzido por estes mesmos senhores que novamente se dizem em ação em nome da ordem e da lei.
A vergonhosa derrota do futebol brasileiro hoje, representado pelo Clube Santista, trouxe à luz dos nossos olhos a cruel e desoladora verdade sobre o nosso futebol: Perdemos!
Perdemos todos!
Perderam a magia, a beleza e a arte de nosso belo jogo.
Perderam os artistas da bola, as crianças que crescem com a redonda no pé, que aprendem nas várzeas e campinhos, com bolas de meia e sem chuteiras.
Perdeu a subjetividade de nossa mais bela configuração cultural.
Ganharam os cartolas. Ganharam as incontáveis marcas que poluem as camisas de nossos times. Ganharam os empresários da bola, que esticam os braços de nossos jogadores, puxando e empurrando todos e cada um deles pra lá e pra cá como borrachas de amarrar dinheiro.
Ganharam os presidentes de clubes filhos-da-puta, que destruiram nossas bases, que liquidaram com o sentimento de pertencimento a um clube, que fizeram do ato de jogar futebol uma atividade esvaziada de sentido e repleta de cifras.
Trocamos acordes por cifras.
Mas, ao fim e ao cabo, sinto dizer caros empresário, perdemo todos.
A humilhante derrota do Santos, o baile dos espanhóis deixam evidente que perdemos o posto que por tanto tempo foi nosso. Não o posto de campeões inquestionáveis, mas o posto de jogar e fazer bonito. O posto de sermos respeitados e admirados. O posto de sermos, mesmo que não ganhemos, as autoridades no assunto.
Perdemos e perdemos feio demais.
Que tristeza ver um Santos humilhado, arrasado, amedrontado, pequeno diante da fera Barcelona. Ver o Barcelona jogar o futebol que outrora era o a marca do futebol brasileiro: beleza, eficiência e graça.
Eu fiquei constrangida diante da TV.
Os intelectuais (sobretudo da área de educação) que sempre acharam um absurdo o Brasil se orgulhar de seu futebol (leia o post anterior) devem estar felizes, porque naquilo que nos orgulhávamos e que nos representava como potência mundial, nisso, também falhamos.
E acredito que não há tristeza maior para o povo brasileiro do que perder sua identidade no futebol.
Fica a oportunidade educativa para técnicos, para dirigentes, para a imprensa esportiva do Brasil, sobretudo para a insuportável Revista Placar, que num ano tem mais de 6 capas com Neymar.
E fica para esse bom menino uma das maiores aulas de sua vida: Tem que comer muito feijão com arroz ainda para ser um Messi. Não porque o Messi em si é imabtível, mas porque tem sua trajetória, tem seu percurso, tem seus aprendizados com triunfos e derrotas. Sem isso, caro Neymar - que eu admiro e torço pelo sucesso - não há craque, não há ídolo, não há história.
Você é um menino, e isso não pode ser considerado um defeito, pelo contrário. Mas, não acredite em nada que a Globo, a editora Abril e toda essa corja lhe dizem. Acredite no que você faz, no que você vive e vê. Acredite nas pessoas de verdade e nos fatos em si. Porque a Globo e Cia. vão ser as primeiras a te dar um belo de um pé na bunda, quando você não lhes servir aos interesses de mercado.
Que a imprensa brasileira aprenda de vez que a notícia não é o fato. Que gritar durante todo o mês que Santos e Barcelona, que Neymar e Messi são do mesmo tamanho e força, não faz com que eles de fato sejam. Nós não acreditamos em vocês. Nós acreditamos nos fatos.
Eu espero que essa vergonha de hoje sinalize que a vitória da cifra sobre a chuteira representa uma derrota para todos. Esvaziar o futebol brasileiro de sua beleza, graça e talento é acabar com seu princípio, é acabar com o futebol em si.
O querido Sócrates, em entrevista a Maria Gabriela e também no Altas Horas, pouco antes de sua partida disse muito acertadamente que o Brasil precisa jogar futebol brasileiro. Enquanto tentarmos jogar futebol europeu, sairemos derrotados. (Veja post anteior a este, sobre Sócrates).
O que o futebol brasileiro tem de melhor é ser o futebol brasileiro.
Que ainda haja tempo para reconquistarmos essa qualidade