"Seo Zé Tá tangendo em boi
E a porteira serrou
Quem foi nunca mais se foi
A roseira flororô
Seo Zé tá pensando em boi
Seo Zé tá pensando"
Monte, Brown e Reis
Há figuras com as quais a gente se encontra que representam uma pausa na vida. Uma pausa na loucura, uma pausa na necessidade. Espíritos de luz que cruzam nosso caminho e dilatam nossos minutos, nosso coração, nossa alma.
Pessoas assim nos levam a parar o tempo. É como se numa projeção a imagem avançasse aos poucos e tudo ficasse mais gostoso.
Há pessoas assim grandiosas, que cabem num pote pequeno, mirrado, surrado, suado. Um sorriso infinito que cabe numa boca quase sem dentes e que de dentro daquele universo negro te convida a ser mais gente.
Quantas vezes subia atrasada as escadas da escola de teatro, mas tinha que parar porque não conversar com Seu Zé sempre foi um sacrilégio. Não conheço um esse que tenha conseguido lhe ignorar ou lhe ser grosseiro. Pois ele é uma pessoa que se impõe pela doçura, pela leveza e pela simplicidade do existir.
Um crítico de teatro mais rigoroso que Bárbara Heliodora, ele assiste a tudo. E comenta depois. E diz que tava muito longa... Ele viu todas as nossas peças, todas as cerimônias de formatura (ele deveria estar no guiness book como a pessoa mais homenageda em colações de grau. Sempre cochilando, na hora da homenagem ele acordava ovacionado.)Até na minha defesa de mestrado ele tava lá.
Acho que ele é um anjo que deus mandou pra cuidar da gente. E um anjo criancinha que deus perguntou assim: "vc quer ir como?" e ele gaiato respondeu: "quero ir como um velhinho". E veio.
Como era o Seu Zé, antes de ser Seu Zé? Quem foi o menino Zezinho? Terá sido ele dono de uma porquinha preta? Terá ele usado calças curtas e blusa de tergal para ir à escola? Brincou de rolimã? de troca-troca? Como foi seu primeiro beijo? E como foi curado da primeira gripe? E o adolescente Zé? O que fazia o José para conquistar suas pretendentes? Será que era um pé de valsa? Será que fez serenata?
Ah, estrela mística esse Seu Zé, que parece já ter nascido Seu.
Eu tenho medo dessas coisas da vida. Eu tenho medo de câncer, eu tenho medo do escuro, eu tenho medo de hospital, eu tenho medo de solidão. Ah, destino oculto que ninguém sabe se é meu ou seu. Há duas noites penso na situação desse nosso anjo e meu coração fica pequeno demais. Queria que ele não sentisse dor. Que ele partisse como o passarinho que foi no jardim da escola de teatro, seu palácio. Mas a vida é real e de viés. E isso me choca.
Quando ele partir (Agora ou mais tarde. Todos nós vamos um dia.) precisamos de uma grande despedida. No palco do Martim Gonçalves, onde todos nós vamos poder aplaúdí-lo. Oh, grandiosa sabedoria do homem comum. Ai, que nessa hora somos todos iguais, matéria da natureza que um dia se transforma.
Obrigada Seu Zé. Meu Seu Zé. Nosso Seu Zé.
Dedico a você as bolinhas do meu rosário como faço para meus filhos. Envio toda energia e carinho que posso ter por alguém tão importante para mim e para todo aquele que um dia pode te conhecer.
NÓS TODOS TE AMAMOS, SEU ZÉ. E ESTAMOS FIRMES COM VOCÊ TORCENDO, LUTANDO POR SUA RECUPERAÇÃO.
Lindo, Adriana! Homenagem se faz assim, no tempo presente! No tempo pasado, ela sai sem o seu maior tempero: o brilho dos olhos do homenageado que pode assisti-la!
ResponderExcluirLucas Porto
lindos, querida, lindos,seu blog, sua dissertação, essa delicadeza para o delicado seu Zé!
ResponderExcluirbeijo, Dea
Obrigada, amigos. Um beijo quentinho pra vcs.
ResponderExcluirE viva Seu Zé!
ResponderExcluirNão ha mais nada que eu consiga dizer...
Adeus, querido! 08 de abril de 2010 o céu chorou! De alegria, pois eis que vinha S. Zé!!!
ResponderExcluirMto lindo!! Mta luz para o Seu Zé!! Q sorte tem esse ser humano de ser tão lindamente homenageado...
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