Depois da pesquisa de mestrado realizada no PPGAC - UFBA, intitulada TEATRO X FUTEBOL: Por uma dramaturgia do espetáculo futebolístico, dou continuidade à pesquisa em nível de doutorado: A EXPERIÊNCIA TRÁGICA DO TORCEDOR: o Futebol como espetáculo absoluto do Século XX. Neste blog pensamentos, perguntas, problematizações, cotidianices, política, arte, poesia. TEATRO E FUTEBOL juntos, porque entre o campo e o palco, entre o jogo e peça existem mais parentescos do que supõe a nossa vã filosofia.
Sim, eu fui. Atrasada, corri com tantos outros em direção a um mesmo ponto. E já que reconhecíamos nosso destino comum, andávamos como velhos conhecidos de infância e conversávamos sem cerimônias: "sem, pressa, vai atrasar", "por aí, não, por aqui, porque aí está interditado". Não havia dúvidas. Íamos para o mesmo lugar. Éramos iguais.
Como afluentes de um rio, seguíamos sem pedras, ao mar que era nossa Velha Fonte.
Chegando lá, o carnaval mudo.
Multidão, churrasquinho, polícia, cerveja. O sol ora aparecia cruel demais para um 29 de julho, ora escondia-se por nuvens que vieram assistir também.
Logo, nos demos conta de que estávamos a olhar imóveis para um mesmo ponto por aproximadamente vinte minutos, tempo aproximado de atraso da explosão. Não podíamos desviar o olhar, porque sabíamos que o acontecimento seria breve e um desvio poderia nos fazer perder o momento para o qual nos preparamos tão cuidadosamente. Camisa, boné e bandeira do time, ou nossa chique roupa domingueira. Com sede, nem podíamos comprar água. Só depois da explosão.
Da ansiedade ao cansaço, do cansaço à frustração, da frustração à ansiedade de novo, como se esse espetáculo da espera tivesse sido deliberadamente montado.
Sentia falta de algo e me dei conta de que esperava a segurança da presença de um grande locutor. Alguém (Deus talvez) que anunciasse a contagem regressiva, nos convocando: "Atençã, vai ser agora"! Era uma insegurança de quem espera o meteoro do fim do mundo. Não havia voz, não havia companhia.
De repente, o tal do estampido. E a parte que eu obcecadamente observava, tombou tão rápido, como uma caixa vazia de sua geladeira. A poeira parecia branca e o barulho menos estrondoso do que eu supunha. Os dezessete segundos previstos para mim foram cinco. Cinco segundos suficientes para levar o nó à garganta e uma lágrima seca à maçã do rosto. Deu-se o vazio.
Um sentimento controverso de solidão e engajamento. Uma tristeza coletiva. E todos os orixás ouviram aquele grande e demorado Oooooooooohhhhhhhhh! seguido de palmas, muitas palmas.
Aplausos à saída. Ao vazio que se impôs no espaço daqueles anéis azuis. Olhamos agora e apreciamos a concretude do nada. Nunca o nada foi tão real e físico e pesado. A concretude daquilo que não está. Da memória de quase 60 anos de um titã imponente.
A poeira, assim como a multidão, se dissipou aos poucos. Muitos senhores olhavam para aquele espaço em silêncio, um olhar loooooonge, talvez no espaço, talvez no tempo. Crianças corriam ao seu redor, com suas camisas de time, algodão doce e bolas de soprar.
Eu, com minha camisa tricolor, olhava aquele evento impressionante, sem palavras que traduzissem tanta beleza, tanta intensidade. Fui no mar de gente, na correnteza dos que desolados se perguntavam sobre as esperanças do futuro. Mas, não era hora de futuro. O presente e o passado já nos preencheram por hoje.
29 de agosto de 2010. O dia em que o vazio tomou corpo.
Poderia ser parte de um dos meus capítulos da minha tese, mas é uma notícia do site do jornal A Tarde. É uma relação muito próxima em termos espaciais e temporais. É no aqui-agora. Mal desempenho: Vaias. Vaia: desaforos. Desaforo: queixa do torcedor. Queixa: punição. Isso é que é espectador ativo.
Por gestos obscenos, torcedor presta queixa contra Rogerinho
Tiago Lemos, do A TARDE On Line
O vendedor Serge Euller Magalhães, de 37 anos, oficializou queixa contra o meia Rogerinho, do Bahia, nesta quarta-feira, 25, na 9ª delegacia de Salvador, localizada na Boca do Rio. O torcedor se sentiu ofendido com os gestos obscenos do atleta para a arquibancada e, principalmente, com o líquido que o jogador arremessou e atingiu seu filho, menor de idade, no jogo de sábado, 21, entre Bahia e Brasiliense, em Pituaçu.
Rogerinho deve ser intimado para prestar depoimento na delegacia, nesta quinta, 26, após ter sido substituído sob vaias por não ter feito uma boa partida na 15ª rodada da Série B, reagindo impulsivamente.
Em conversa com o A TARDE On Line, Magalhães falou que não quer dinheiro do Bahia, mas pede que o clube utilize uma faixa em alguma partida em Pituaçu para pedir desculpas aos torcedores do Esquadrão.
Apesar de ter publicado no site do Bahia, no domingo, que Rogerinho foi multado e pediu desculpas publicamente ao torcedor, a assessoria de imprensa do Esquadrão, após contato com o A TARDE On Line nesta quarta-feira, 25, informou que irá convidar o torcedor a comparecer ao Fazendão para conhecer os jogadorest ricolores e as instalações do clube.
Após a informação sobre o provável convite do Bahia, o torcedor do Tricolor falou que, caso seja chamado, irá ao centro de treinamentos do clube. “Irei ao Fazendão sem problema nenhum, pois vou ao local com frequência”, disse.
“Tenho certeza que Rogerinho é uma boa pessoa e o aconselharia a manter a cabeça fria. A torcida o vaiou por conhecer seu potencial e ter a noção de que ele pode render mais em campo. Ele só precisa ter calma quando for exigido”, disse o vendedor sobre um possível encontro com o atleta do Tricolor.
No triunfo da terça-feira, 24, contra o América-MG, Rogerinho jogou bem e recebeu aplausos das arquibancadas. Magalhães não pode comparecer ao estádio, mas concordou com a reação positiva da torcida. “Quando um atleta joga bem, merece ser elogiado, mas deve respeitar o torcedor quando é cobrado”, falou.
Mesmo sem desejar a saída de Rogerinho, o torcedor afirmou que a diretoria do Bahia não tomou a atitude correta ao aplicar a multa ao jogador. “Rogerinho pode ficar no Bahia, mas o clube não teve respeito a outros jogadores”, disse Magalhães, sobre os atletas Lima e Dênis, que foram dispensados do Bahia por indisciplina.
O vendedor falou que tomou a atitude contra o clube para educar os torcedores em geral. “Fiz o necessário para que os torcedores sejam respeitados, pois eles são o patrimônio dos clubes de futebol e precisam se conscientizar disso para reivindicar seus direitos. Não adianta ter apenas paixão, precisa ser racional”, disse.
Já tem data e hora: será neste domingo, 29 de agosto de 2010 às 10h da manhã a implosão dos anéis superiores do Estádio Otávio Mangabeira, a querida Fonte Nova, palco de tanta vitórias do meu querido tricolor de aço. Obviamente, o acontecimento é cercado de polêmicas, sobretudo quanto à execução da demolição que provavelmente causará muitos danos às casas vizinhas, que já vêm sofrendo abalos há quase uma década, por conta das obras do metrô-fantasma, que assustadoramente consegue não ficar pronto de jeito nenhum.
Mas, acho que este é um momento importante. Sei dos problemas que cercam esse tipo de acontecimento, mas acho que é preciso olharmos para ele como a possibilidade de uma mudança radical que está vindo por aí. Tenho estado animada para a Copa no Brasil e sobretudo em Salvador, acho que haverá melhoras signicativas para a cidade. É claro que teremos que estar atentos e acho que mais do que ficarmos dizendo não a tudo e postando comentários sempre negativos nos sites dos jornais, temos que acompanhar as realizações e ficarmos no pé dos políticos que elegemos e agirmos, ao invés de reclamarmos tanto.
Tem uma galera do Baêa se organizando para ir dar adeus à velha Fonte Nova. Eu queria ir, mas tenho medo de cair um pedaço de concreto na minha cabeça, ou do chão sumir, ou de morrer asfixiada com o poeirão. É, eu sou assim dramática...
Que venham novos tempos para a Fonte Nova. Que Nazaré recupere a alegria de sediar os jogos do nosso time, que volte a receber a imensa e linda nação tricolor, que volte a sediar nosso clássico maior, o BA X VI e que a gente consiga minimamente um pouquinho de felicidade e muita dignidade com a realização de uma copa do mundo aqui em nosso estado.
Eu tenho boas expectativas para a Arena Fonte Nova e acho que o futebol é uma causa nobre o suficiente para capitanear a construção de uma nova cidade.
No horário nobre do programa eleitoral gratuito na TV, ontem à noite, a campanha de José Serra (PSDB) repetiu o que já fizera a sua adversária Dilma Rousseff: grudou o tucano no presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Serra e Lula, dois homens de história. Dois líderes experientes", disse o locutor logo na abertura da propaganda, enquanto eram mostradas três cenas dos dois juntos -numa, o tucano afaga o ombro do petista; noutra, eles cochicham.
Aproximar Serra de Lula de forma tão escancarada e logo no início da propaganda eleitoral contrariou a ala do PSDB que defende uma oposição mais contundente.O PT anunciou que entrará com representação no Tribunal Superior Eleitoral contra a coligação de Serra pela utilização de imagens de Lula.
O pedido terá como base o artigo 54 da Lei eleitoral (9.504), que permite a participação, nos programas de rádio e televisão gratuitos, de "qualquer cidadão não filiado a outra agremiação partidária ou a partido integrante de outra coligação".
Caso seja aceita, poderá acarretar perda de tempo na TV da coligação serrista.A iniciativa do marketing tucano veio casada com ataques a Dilma, no rádio e, em menor intensidade, na TV, numa estratégia para tentar conter perda de votos e apatia entre os aliados.
Na avaliação de integrantes da cúpula tucana, para garantir um segundo turno, Serra terá que investir na ideia de que Dilma não tem experiência e depende somente do prestígio de Lula.
No programa de TV, após a descrição de ações do tucano na carreira, o locutor afirmou: "Serra, a vivência que a Dilma não tem".
TIRA A MÃO
Os programas de rádio foram mais críticos à adversária. Incluíram jingle que aponta Dilma como usurpadora das realizações de Lula.
"Tira a mão do trabalho do Lula/ tá pegando mal/ que o Brasil tá olhando/ Tudo o que o Lula criou/ ela diz:/ fui eu, fui eu/ Tudo o que é coisa do Lula/ a Dilma diz:/ é meu, é meu", afirma um trecho.
A investida busca aplacar o desânimo de parcela do tucanato com a possibilidade de derrota. E acontece num momento em que, oito pontos atrás de Dilma, Serra corre risco de perda de votos no próprio eleitorado.
A tentativa de desconstrução da imagem de Dilma vai ganhar corpo, gradualmente, na campanha. Pelo cronograma original, as peças seriam exibidas a partir de sábado. Mas, com crescimento da petista nas pesquisas, a estratégia foi antecipada.Dilma também atacou Serra, sinalizando que a cada dia aumenta a animosidade entre os adversários. "Ao mesmo tempo em que o candidato tenta, muitas vezes de forma patética, ligar seu nome ao do presidente Lula, ele fez oposição o tempo todo. Tem dia que ele faz crítica, tem dia que ele quer ligar seu nome ao projeto do presidente Lula. O candidato Serra é assim".
Ontem à noite, pelo Twitter, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, um dos coordenadores da campanha de Dilma, comentou via Twitter: "De dia o Serra esculhamba o governo, o PT e os petistas. De noite bota o Lula no seu programa. Na minha terra o nome disso é .. deixa pra lá".
Mais cedo, em entrevista sobre o ataque no rádio, Dutra descartou um revide no horário eleitoral e disse que o PT não mudará "em nem um milímetro" a sua estratégia.
"Isso me lembra um jingle do [petista Marcelo] Déda em 2006: "Eita que eles estão aperreados". Mas não vamos entrar em baixaria. É a lei da política: quem está atrás, bate."
A liderança do Flamengo é coisa do passado. De acordo com a pesquisa Lance!-IBOPE de 2010, lançada na última terça-feira, 17, o Bahia agora tem a maior torcida do Estado. Depois do tricolor, estão o clube carioca — antes líder — e Vitória, que se aproximou do Fla.
Entre 2004, na última edição do estudo, e este ano, a torcida tricolor subiu de 14,6% para 20,3%. O Flamengo, que tinha 21,2%, caiu para 20,3%. O Vitória, por sua vez, passou de 12,1% para 15,7%. Em proporção, os torcedores do Esquadrão são 2.831.880, contra 2.190.173 do Leão.
O Corinthians, quarto colocado, saiu de 7,1% para 7,6%, enquanto o Palmeiras perdeu 1,9%, ficando com 4% da torcida do Estado.
Outra questão importante demonstrada na pesquisa é o fato de que os torcedores dos dois times mais populares do Estado — Bahia e Vitória, que juntos têm 36% — agora superam a soma dos seguidores dos três times de fora com mais público na Bahia — Flamengo, Corinthians e Palmeiras, com 31,9%.
A pesquisa demonstrou que, na comparação direta Ba-Vi, a torcida rubro-negra é mais rica, mais escolarizada, mais jovem e urbana do que a do Bahia.
Na faixa etária acima dos 50 anos, os torcedores do Vitória somam apenas 0,2% da população, enquanto os tricolores são 1,5%. Entre torcedores de até 15 anos, o Leão conquistou 2,8%, enquanto o Esquadrão 2,1%.
Claro que esta pesquisa gera uma infinidade de discussões possíveis, mas acho importante ela estar aqui, porque em alguma medida faz um trabalho similar ao meu, que é olhar para esse povo que vê futebol e de alguma forma colher dados daí e em seguida realizar leituras.
Meu medo de comentar é ser tricolor demais e eu não quero afastar meus leitores rubro-negros, claro.
Mas só um comentariozinho, pode né: já tão dizendo que o Vitória tá correndo atrás desse vice. rsrsrs.
Numa entrevista recente, o meu querido presidente Lula - meu maior ídolo político e social - nos fez lembrar que em 21 anos esta será a primeira eleição sem seu nome na cédula - que já foi só de papel, de papel e eletrônica e agora é apenas eletrônica. Ele faz parte (ou melhor, ele é parte) da história da democracia deste país.
Era a primeia eleição direta para presidente desde o fim da ditadura militar.
Eu tinha, em 1989, 15 anos recém completados e não podia votar. Mas me lembro de ter feito boca de urna e de sempre ter torcido muito para a eleição de Lula, filha de pestistas que sempre fui.
Pulando de 89 para cá, tem uma coisa interessante que a gente pode ver nas campanhas desta primeira eleição sem Lula na cédula. Ele é o não-candidato que tem mais fotos espalhadas por aí. Mais até do que os próprios candidatos a cargos eletivos. Onde quer que você vai, tem lá uma foto do Lula. O bicho papão a quem ninguém queria se associar no passado, hoje parece um amuleto mágico e políticos de todos os partidos fazem montagens ao lado do presidente nordestino.
É só uma amostra de como as coisas mudaram. De que a história não é inexorável, como nos disse Paulo Freire.
Quem ousaria pensar num quadro desses em 89? Seria risível.
E todo um país defendendo o analfabeto contra o 'gênio' Caetano Veloso? Se durante as décadas de 80 e 90 dizer que Lula era analfabeto era provar que era uma pessoa bem informada, nos anos 2000 isso passou a ser não só uma infâmia, como prova de desatualização do falante.
O próprio Caetano sentiu o peso da tola frase. Intelectuais e toda a nação caíram em cima do 'culto e letrado' compositor e a mamãe teve que pedir desculpas em público pelas bobagens do pimpolho. Não seria,então, uma grande ironia que este 'analfabeto' tenha promovido uma verdadeira revolução no ensino público deste país? Quem tem interesse que veja a quantas andam projetos como o REUNI, PROUNI e IF's em todo o Brasil. Quem estuda e quem ensina sabe do que eu tô falando. (E por falar em Veja, acho que essa é a melhor capa do semanário de todos os tempos).
Pois para mim, Lula é o grande homem da história deste país. Ele é o homem que confiou em si, em sua nação, em sua classe trabalhadora. E foi o único capaz de pensar o Brasil como um verdadeiro brasileiro, porque traz em sua própria história as marcas deste Brasil guerreiro. Nordestino, conheceu a dor da seca, o preconceito dos paulistas, as puxadas horas de trabalho do operário, a mutilação no trabalho, as constantes derrotas alimentadas pelo preconceito e pela falta de auto-estima de nosso povo. Um amigo meu disse uma vez: o que se pode esperar de um secretário de transportes que nunca pegou ônibus? É exatamente o mesmo princípio.
Mas, este batalhador teimoso, derrotado em três eleições (eu tinha vontade de escrever para o Lula e pedir que ele não se candatasse mais, que era muito sofrimento e ele não merecia isso) sobreviveu e mais do que isso, venceu. Realizou o projeto de um Brasil que ele tinha certeza ser possível e provou para todos nós que estava certo.
Nas eleições seguintes eu tive a honra de votar em Lula e de elegê-lo Presidente da República, fazendo história.
Não votar em Lula este ano deixa uma pontada de tristeza, mas também sinaliza uma maturidade política. Sai de cena, o meu eterno presidente, como o cavalheiro que sempre foi - no agreste estilo nordestino ou no estilo 'pseudo-europeu' dos sulistas. Mantém abertas as portas de um novo Brasil e aos poucos consolida nossa tão surrada (apesar de recente) democracia.
Ao lado de meus ídolos Che Guevara, Fidel Castro, está Luiz Inácio Lula da Silva. Um presidente Silva. Silva como eu. Primo-irmão de boa parte dos pobres deste país, a quem tão bravamente representou e defendeu.É um privilégio ter um ídolo político vivo e não preso nas saudade do passado. É um privilégio gostar de um presidente, depois que havíamos nos acostumado a sermos praticamente inimigos, povo e políticos.
Obrigada, presidente Lula, por estas décadas de transformação e por nos mostrar que é possível, sim, a realização de grandes projetos de mudanças. Obrigada por fazer com que possamos nos enxergar como brasileiros e que isso nos dê orgulho. Eu acredito e trabalho por este novo Brasil, que tem na sua figura um grande exemplo.Você é o grande homem da história deste país.
Que fator inusitado poderia juntar toda essa galera num mesmo balaio?
Essas figuras, não necessariamente juntas, mas cada uma no seu tempo e lugar - e a seu modo - constituem-se um tijolo do grande monumento que está sendo erguido. É a arte - e o que passaremos a considerar como tal - em épocas de internet.
Se Walter Benjaminfilósofo, sociólogo e ensaísta judeu-alemão, compreendeu a grande revolução que aconteceria com o que ele chama de época da reprodutibilidade técnica, enxergando no cinema um novo paradigma para o lugar da obra de arte, derrubando assim a concepção aurática das obras em si, o que ele não diria em épocas de cultura digital e redes mundiais de comunicação?
Se Bertolt Brecht encantou-se também com o cinema e muito mais com o rádio, provocando no sentido de que o conceito de arte poderia ser muito mais amplo do que o compreendido no momento, defendendo - entre tantas outras coisas maravilhosas - a idéia de que podemos todos fazer arte e ela pode estar dentro da nossa vida cotidiana, e não ser apenas uma categoria isolada, estanque da vida, programada, fora da realidade prosaica (É da mesma época das peças didáticas uma série de tratados seus sobre a revolução promovida pela radiodifusão) o que ele não diria do www???
Se Lady Gaga, pluri-artista-multimídia novaiorquina, fez do youtube uma possibilidade artística para além do acesso a vídeos antigos ou mesmo coisas irrelevantes postadas aos milhões diariamente no portal e nos ensina a usar esta ferramenta como recurso de apreciação estética e constante atualização das novas tendências, como será que ela consome a ferramenta que ela própria alimenta???
Se Akira Kurosawa, diretor japonês que presenteou o ocidente com imagens inesquecíveis e antológicas do universo japonês, promovendo uma verdadeira revolução estética cinematográfica, através de uma nova proposta sobretudo de tempo e ritmo para a apreciação de seus filmes, que influenciaram novos diretores como Hayao Miyazaki, autor de pérolas da animação como A Viagem de Chiriro, O Castelo Animado e o mais recente Ponyo, ao menos desconfiasse do poder de sedução de pequenos japonesinhos???
Se Jean Piaget, epistemólogo (não disse que essa palavra é assustadora???) suíço, pai não só da teoria cognitiva mas de suas próprias filhas-laboratórios, mais do que estudar as etapas do desenvolvimento cognitivo de crianças, se deparasse com suas proezas impensadas publicadas impunemente por pais e mães completamente sem noção que adoram ter seus filhos 'brilhando' na internet (eu, por exemplo)???
Se Graham Bell, cientista escocês, o homem do telefone (mesmo que oficialmente ele já tenha perdido a patente do telefone, nada muda a nossa mania deliciosa de associar seu nome ao invento) tivesse a menor idéia do que faríamos com sua idéia transformadora de comunicabilidade à distância, incluindo além da voz, imagens, movimentos, e - sobretudo - muita arte e fantasia, teria ele criado apenas um simples aparelho funcional???
Imaginemos todas essas figuras numa mesa redonda, discutindo estes vídeos.
PAUSA: É engraçado como crianças orientais parecem exercer um fascínio ainda maior do que qualquer criança já exerce.
A discussão poderia girar em termos pedagógicos, com Piaget discutindo a performance das crianças ou mesmo a imaturidade e desequilíbrio psicológico dos pais, que montam uma cena para que suas crianças façam 'coisas' e sejam todas depois upadas na internet.
Brecht e Benjamin - contemporâneos e conterrâneos - provavelmetne se deliciariam com a possibilidade de divulgação da obra e, sobretudo, com o interminável fórum sobre a questão: esses vídeos são uma obra de arte??? O que é, ao fim e ao cabo (Cajaíba adora falar isso) uma obra de arte??? Lady Gaga ou diria que sim, defendendo a ferramenta ou diria que não garantindo o território para si.
Graham Bell estaria meio deslocado nessa mesa, eu acho. Talvez falando no celular com outra pessoa.
Mas, brincadeiras à parte, se estes pequenos vídeos caseiros, feito sem a pretensão artística compreendida como tal por Luigi Pareyson (esteta universal do ocidente), não são obra de arte, não tem o menor problema. Eles, assim, assistidos inadvertidamente, entre um email e outro, entre uma publicação de mural do facebook e uma inserção de vídeo do orkut, promovem um inevitável estado de graça e a gente se pega, assim, sem quê nem pra quê, rindo e achando a vida uma coisa muito fofa. Eles nos levam para um lugar que é dessa galera toda celebrada aqui e de todos nós, meu e seu, porque fomos todos crianças e somos todos por elas apaixonados.
Exagerei???
Pode ser apenas uma espécie de show circense moderno, com crianças fazendo truques, como macaco amestrado (tal qual Mozar na infância). Pode ser que eu seja mesmo uma mãe muito boba que adora até filho dos outros. Pode ser que seja tudo uma bobagem e você tenha perdido muito tempo lendo um post tão longo.
Eu insisto: alguma coisa tem aí nesse tal de youtube que não canso de dizer que faz dele esse lugar onde a alta produção artística e produção desenfreada de bobagens caseiras parecem ocupar um lugar bem próximo ou parecem, como queria Brecht, aproximar todos nós, pelo menos através da experiência de ver, fazer e refletir (dá-lhe o triângulo de Ana Mae Barbosa). O que se faz, se vê e se reflete, pode ser uma outra conversa. Quem sabe, no fundo, no fundo a gente procure também na obra de arte essa delícia que a criança cotidianamente nos oferece e que na maioria das vezes a gente nem se dá conta, porque tá estudando sobre onde encontrar os tesouros que, no final das contas, estão escondidos nos lugares mais óbvios. Post dedicado a Elaine Cardim, que desencandeou toda a viagem conceitual a partir do vídeo do garotinho publicado em seu facebook.
Estava, além de atordoada com coisas de fim de férias, com um certo curto-circuito na criatividade e sem imaginação para novos posts. Já estava até me cobrando, achando feio o blog ficar largado sem uma nova postagem. Pensei em falar sobre a final da Copa do Brasil, mas não achei prudente. Tentar isenção eu tento, mas tem post em que eu sei que não conseguiria.
Até que desejando feliz dia dos pais para alguém, me dei conta da importância do tema para o futebol.
Meu pai é corintiano roxo, como se houvesse corintiano apenas alvi-negro. Assim, passei boa parte da minha infância acompanhando as clássicas brigas entre este e o Palmeiras, e o Santos e o São Paulo. Acho que o timão é o clube que mais tem rivais. Todo jogo do Corinthians é um clássico. Até contra o Bahia, a gente sente uma pressão. É, porque não sei se vocês se lembram, mas o Bahia quebrou a invencibilidade do timão na série B de 2008, e é reconhecido o trabalho que nossos Baêas dão para o clube paulista.
Mas, foi assim, como em 99% dos lares que nasceu a minha paixão pelo futebol. Na verdade talvez eu possa falar, no máximo em interesse. Paixão mesmo é a minha irmã mais velha. Ela, sim, é roxa. Eu tenho aquela paixãozinha descarada e um grande interesse de pesquisadora. Minha irmão, passa mal, não assiste jogo para não enfartar, veio a Feira de Santana para ver o timão dar o troco da partida que citei há pouco, torce pela Gaviões da Fiel e pela Vai-Vai no carnaval de São Paulo (e para ela, sempre que elas não ganham é lógico que foi roubo), tem álbum no orkut, tem camisa, quadro e tudo o mais e pega brigas memoráveis nas comunidades onde o assunto é o time do coração.
O pai é essa figura importante na definição do time para o qual vamos torcer. Isso já é assunto batido.
Mas podemos pensar nessa relação ao inverso. Na importância do futebol para a configuração da relação entre pais e filhos. A frase clássica de quando um homem tem um filho também homem é: vou poder levar ao estádio (apesar de cada vez mais as mulheres marcarem presença). É no futebol que - além dos preconceitos que se perpetuam, não sou ingênua para negar - a 'coisa' entre pai e filho vai se fortalecendo. A ida ao estádio, como um ritual de aprendizagem de relação com o mundo: a compra do padrão, a saída na hora certa, o enfrentamento do trânsito ou mesmo do busão lotado, o comportamento dentro do estádio, a possibilildade de entrar com o craque, a compra do lanche, a torcida, o grito de gol, o respeito pelo vencedor nos casos de derrota, o bom senso para esperar a melhor hora de sair do estádio. Simultaneamente, uma série de procedimentos sociais vai sendo transmitida, silencisoamente - ou no grito apaixonado - de pai para filho há gerações.
Tem ainda a formação, colocar o filho na escolinha ou acompanhar os babas na rua. A obsessão pela vitória, o papel de torcedor e de técnico do filho, quando é possível comentar a performance do filho, sugerindo melhoras ou criticando os erros. A escolha ou não pela decência no trato com o coleguinha, estimulando a convivência pacífica ou a guerra insana do vencer a qualquer custo. Boas ou más, muitas coisas são aprendidas na prática do futebol. A frase de Eduardo Galeano que não me canso de repetir: a culpa do crime nunca é da faca.
Sem mais delongas, até porque este assunto é mais batido que ovo para omelete, quero deixar aquele abraço apertado para meu paizão corintiano, para meu maridão, pai dos meus filhos - Baêa e torcer para que o bom senso e o respeito sejam as escolhas feitas na hora da prática do futebol. Sem sombra de dúvidas, estas escolhas feitas em campo, serão sempre refletidas nessa nossa partida diária.