quinta-feira, 6 de outubro de 2011

HISTÓRIA DO FUTEBOL na Revista Beleza Bahia

Gentes.
Depois de uma demoradinha, saiu um novo exemplar da Revista Beleza Bahia, com meus dois textos. Um está aqui e o outro no http://www.artedoespectador.blogspot.com/ .

Quem quiser dar uma olhada na revista toda, aqui está o link: BELEZA BAHIA Nas páginas 46 e 47 (FUTEBOL) e 52 e 53 (BELEZAS INUSITADAS).

Abaixo, o texto com um Breve Histórico do Futebol.

DOS RITOS SAGRADOS AO FUTEBOL MODERNO:
UM POUQUINHO DE HISTÓRIA
Adriana Amorim

“Futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso”.
(Autor desconhecido)
São, oficialmente, noventa minutos, divididos em dois tempos de quarenta e cinco minutos cada. O espaço do campo tem a forma de um retângulo, figura geométrica que aqui dialoga e contrasta com a perfeição da esfera, rainha do jogo: a bola. As regras atualmente são dezessete. Os agentes envolvidos, diversos. Além dos vinte e dois jogadores que corporificam a partida e dão forma à disputa, espectadores multiplicam-se em milhões, por todo o mundo. Grosso modo, assim resume-se o futebol. Mas, o que pode esconder-se por trás de detalhes relativamente tão simples? Onde nasce este conjunto de fatores que reunidos transformam-se num dos eventos mais populares do mundo? Quais mudanças ao longo do tempo redefiniram esta atividade? A partir de quais elementos culturais o futebol se constrói e ao fazê-lo como interfere na constituição desta mesma cultura? Vamos tentar responder?
O futebol, assim como o conhecemos hoje, é a compilação de regras e procedimentos que melhor se define como futebol moderno. Organizado pelos ingleses no final do século XIX, precisou de menos de um século para espalhar-se pelo mundo, conquistando multidões de adeptos. Antes deste marco histórico na modernidade, porém, muitas são as representações de jogos com bola, de grupos organizados e de desejos de disputa que demonstram estar na gênese deste fenômeno. Coisa de muito tempo atrás.

O campo dos conflitos simbólicos

As práticas envolvendo objetos similares à bola nas mais remotas civilizações agrárias estão associadas na maioria das vezes a ritos que atribuem a este objeto – geometricamente perfeito, sem distinção de lado, face ou dorso, capaz de movimentar-se ao menor impulso e continuar movendo-se a si mesma – o poder criador que é do sol, relacionando-se diretamente a fatores ligados à fartura de alimentos, ou seja, a bola é quase sempre, sagrada.
Seja na América chamada Pré-Hispânica (antes da chegada dos colonizadores), na Europa Medieval, nos países orientais, onde quer que se procure, encontramos diferentes versões do futebol.

Chutando a cabeça dos adversários abatidos e mais adiante bolas feitas dos mais diversos materiais (ela nem sempre foi redonda!), o futebol representou sempre uma espécie de campo dos conflitos simbólicos. Na maioria dos casos, nos mais diversos países, o modelo do jogo consiste numa luta encarniçada pela bola, envolvendo centenas de pessoas, utilizando-se de pés e mãos, estratégias lúdicas e agressivas para garantir a posse da bola, o que resultava em graves contusões, ferimentos diversos e em algumas vezes, em morte. Realizava-se nas bordas dos povoados e das cidades, envolvendo bosques, campos e brejos, onde a bola, feita de couro e preenchida de capim, farelo, folhagem, grãos, ou mesmo uma bexiga cheia de ar, era disputada com intensidade e desorganização. Um exemplo curioso do futebol chamado de pré-moderno era o Soule, praticado na região onde hoje é a França.
Os grupos adversários, aqui, eram compostos segundo critérios de coletividade, envolvendo relações com características quase familiares: comunidades vizinhas, paróquias, cidade versus campo, e similares. Ao mesmo tempo em que estas relações tinham seus critérios de proximidade, eram evidentes os critérios de competitividade. O que se buscava era a defesa do campo enquanto espaço de fertilidade. Vencer o campo alheio, antes de tudo, é garantir a inviolabilidade do próprio campo, espaço físico onde se produz o alimento que garante a sobrevivência. Perceba que não é à toa que chamamos o espaço de se jogar futebol de ‘campo’. Se boa parte dos esportes modernos acontece sobre chão acimentado, ou transformado pelas grandes tecnologias, o futebol jamais deixou de acontecer na terra, no solo, sobre plantas, esses seres com vida.

Um salto para a modernidade – o futebol de hoje

Em 26 outubro de 1863, segundo a maioria das fontes consultadas, são definidas as primeiras regras para este o de bola praticado nas grandes escolas inglesas. Na Freemasons’s Tavern, Great Queen Street, centro de Londres, Inglaterra, estabelece-se o marco do surgimento do futebol moderno. Enquanto as Escolas de Rugby e de Eton eram favoráveis a pontapés nas canelas e o uso das mãos, os de Harrow e de Cambridge, entre outras escolas, defendiam o “jogo do drible”, onde não era permitido o uso das mãos. Esta e outras diferenças na forma de jogar das escolas envolvidas representaram um grande impasse na definição das regras. Somente em 1877, após algumas releituras, é publicada a versão final das regras. Deste debate sobre as regras do esporte, estabelecem-se também novas regras para o Rugby. As regras de todos estes esportes coletivos eram testadas na prática, dentro das universidades que as construíram e, posteriormente, nos torneios inter-escolares.
Apesar da imprecisão da maioria das fontes, há registros de que a primeira partida oficial teve o placar de 14 X 14, em 1864. A esta época, a posição de goleiro não estava definida, o que só aconteceu em 1871. Este jogador podia tocar a bola com as mãos por toda a extensão do campo até o ano de 1912, quando passa a poder manuseá-la apenas dentro da chamada grande área.
Muitas curiosidades, não? Conhecer a história, não apenas do futebol moderno, mas do futebol enquanto ritual coletivo e, por que não, sagrado, nos ajuda a compreender um pouquinho dessa nossa paixão visceral e irrestrita pelo futebol, pelo nosso time. Não que a gente precise compreendê-la, sentir já está de bom tamanho. Mas já que é para estudar alguma história para fazer bonito na mesa de bar, na festa de confraternização, ou para impressionar a gatinha, que seja a história do futebol, estou errada?
Só que a partir daqui, a gente guarda parte dessa história para o segundo tempo. Duvido que você vai conseguir resistir à próxima edição.

4 comentários:

  1. A principal fonte para construção do texto acima é o livro Veneno Remédio, de José Miguel Visnik.

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  2. Minha cara,

    Gostei dos trabalhos sobre futebol... Sou do Espírito Santo e ando preparando um projeto de doutorado com o tema... Se tiver algum material que possa dividir comigo ficarei muito agradecido... Fiquei curioso com suas pesquisas de mestrado e doutorado... Grande abraço do Leandro. (leandros.lima@yahoo.com.br)

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  3. Leandro, que bom saber que vc gostou do material do blog. Vou escrever um email passando o mateerial que eu tenho como referência, mas já adianto duas imprescindíveis: Veneno Remédio, O Brasil e o Futebol de José MIguel Wisnil, que eu cito como principal refencial deste post. E outra que é O Negro no Futebol Brasileiro de Mário Filho, uma obra primorosa. Boa sorte na sua pesquisa.

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  4. Esses dois aí realmente são uns craques... Já tenho os dois lidos e outras coisas mais... Vou continuar acompanhando suas publicações por aqui... Abs, Leandro.

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