quinta-feira, 7 de abril de 2011

LUTO PELAS CRIANÇAS DO REALENGO - quem atira em quem?

Sentindo uma enorme dor no coração com toda essa história das crianças no Rio de Janeiro. Dor profunda e estranha. O mundo é estranho. Choro pelas crianças. Sofro pelo que temos nos tornado.

Eu acredito que nós, seres humanos, somos todos uma mesma e única coisa. Quando acontece algo desse tipo com um de nós, acontece com todos nós, acho que isso a gente ainda conserva de humanidade. Não acho que a gente sinta apenas o medo da possibilidade de que possa acontecer com a gente a qualquer momento. Também fico pensando, meu Deus, se fosse Hannah? 12 anos, menina... Mas acho que de alguma forma foi Hannah, fui eu, foi você, porque foi um ser humano e, no fundo, no fundo, somos um. Apenas um. Se um dia essa tristeza passar ou não nos tocar, porque foi com alguém de longe, é porque não temos mesmo mais como seguir adiante, porque como humanidade estaremos condenados ao fracasso enquanto espécie. As conquistas do homem só fazem sentido se forem para todos. Senão, é apenas um detalhe. Só fica, histórica, cultural e biologicamente aquilo que ajuda a todos. Que ainda seja a capacidade de nos comovermos com o que acontece ao outro.


Ontem, uma mulher brigou com o motorista do busu (que também é cobrador) e concluiu com uma frase impactante, alto e em bom tom, sentindo-se ourgulhosa da declaração: "É por isso que pessoas como vc não saem do lugar que estão". Desceu do busu (frescão) sacudindo seu belo cabelão e trotando sobre seus saltos. Ela não percebe que faz parte (como eu, como todos nós com nossas posturas de ódio, preconceito e frieza) dos alicerces que constróem o mundo como este que desemboca num massacre de crianças. Aí, uma outra pessoa, em outra ocasião, mas no mesmo dia, vem se queixar comigo de que a babá é muito folgada. Só chega atrasada e fica mentindo que a filha tá doente. Que ela é uma mal agradecida, porque esta digníssima patroa paga salário, carteira assinada e plano de saúde. Que no outro trabalho ela era humilhada e deveria, portanto, tratar este emprego com mais gratidão. Eu lembrei a ela que ela não faz mais do que a obrigação e que a empregada não deve gratidão nenhuma a ela e nem ela é uma heroína só por cumprir seus deveres de empregadora. Aí me parece estar ilustrada uma parte pequena, mas representativa, de algumas causas de estarmos num mundo tão torpe. Não nos vemos como iguais, humanos. Talvez nunca tenhamos nos visto assim, mas hoje eu penso que a encruzilhada é: não somos vítimas de um sistema, somos a causa dele. E ele se vira para nós. Estamos piorando o mundo para nós mesmos. Ai, cansei. Tô bem triste hoje. E assustada. Queria um mundo mais levezinho. Quero voltar para Capela. É mutia expiação!


Detector de metais? Máquina nenhuma vai nos deter de nós mesmos. Nã é uma máquina que resolver nossos problemas. Só afeto. "A culpa do crime, nunca é da faca". Eduardo Galeano

É preciso muita disposição e coragem para fadermos auto-críticas sinceras. Repousar a cabeça sobre o travesseiro tem sido cada vez mais difícil. Deve haver algo de muito produtivo em cada semente de amor que a gente planta numa sala de aula, em cima de um palco, na mesa do café com as crianças. Ou eu acredito nisso, ou nem levanto da cama.

Em Tomates Verdes Fritos, uma personagem diz que deve haver um deus especial só para as criançãs. Eu quero acreditar nisso agora, tanto pelas que foram, quanto pelas que ficaram com a lembrança de um dia tão terrível.


LUTO. DEDICAREI BOLINHAS DO MEU ROSÁRIO PARA ESSAS FAMÍLIAS QUE DEVEM ESTAR SENTINDO A  MAIOR DOR DE SUAS VIDAS.

3 comentários:

  1. Diana,

    Me abraça e deixa eu chorar junto com você...

    Desde ontem estou com o coração comprimido, assustado, perplexo! Me sinto fraca de tantas lágrimas, tanta desilusão... Tanto que decidi que depois de assitir atentamente à cobertura de dois telejornais sobre a notícia, de me informar, de concordar, de discordar, de chorar... não quero ver mais nada... porque ainda preciso de um pouquinho de forças para tratar do assunto com meus alunos... ai que difícil... Ontem na aula do mestrado o professor pediu que refletissemos sobre esse "ódio" a escola representado em vários episódios antes somente fora do Brasil. Pensei nisso... mas ao chegar em casa e assistir as notícia vi que havia mais... havia o "ódio" as meninas... "ódio" aos ateus... havia a orfandade...
    Sim, Diana, concordo com você que "nós, seres humanos, somos todos uma mesma e única coisa", e nesse episódio também somos, tristemente, a mão hábil que escolhe a vitima, que mata... somos ao mesmo tempo cada criança morta, cada família dolorida, cada professora atônita tentando proteger a si e seus alunos...

    E agora, sentindo o produtivo-afeto do seu abraço, sou todos e todas que tem esperança, que buscam o amor e a alegria de viver!

    Te amo, Amiga!

    Pati

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  2. Patinha, também tece uma hora em que fugi ds notícias. Chega! Tem horas que o pote enche e aí a gente precisa se proteger. Tocando a vida, aos poucos. Retomando a rotina. Te abraço e me sinto abraçada por você. Um grande beijo, amiga. Cadê meu post sobre Jerônimo em Pituaçu?

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  3. Parece que o "ser" humano se distanciou do "serumano" e como bem disse Renato Russo: "nos perderemos entre monstros da nossa própria criação."

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