Ouvi certa vez na rua: Na Bahia só existem três religiões: O candomblé, o Baêa e O Chiclete com Banana. Achei genial.
Estamos à beira do carnaval, esse irmão gêmeo do futebol. Diversos sociólogos e antropólogos concordam que existe uma parecência enorme entre estes dois eventos que envolvem paixão, corpo, alegria e uma certa atitude non-sense no ser humano.
Mas, quem mais sabe disso é o torcedor-folião. É, aquele maluco da Bamor ou da Imbatíveis que sai nAs Muquiranas, que pula de quinta a quarta (veja que a lógica da semana é subvertida no carnaval baiano). É o povo que passa por seus apertos diários, que exibe sua falta de educação e cidadania (fruto da educação que lhe é de direito mas lhe foi sequestrada). É ess
a gente que gosta mesmo é de ser feliz, nem que seja de propósito, esquecendo DELIBERADAMENTE das agruras do dia-a-dia - suas próprias e a de seus iguais.
Mas, quem mais sabe disso é o torcedor-folião. É, aquele maluco da Bamor ou da Imbatíveis que sai nAs Muquiranas, que pula de quinta a quarta (veja que a lógica da semana é subvertida no carnaval baiano). É o povo que passa por seus apertos diários, que exibe sua falta de educação e cidadania (fruto da educação que lhe é de direito mas lhe foi sequestrada). É ess
a gente que gosta mesmo é de ser feliz, nem que seja de propósito, esquecendo DELIBERADAMENTE das agruras do dia-a-dia - suas próprias e a de seus iguais.
Fui à festa do Vila Vox na última sexta - Carnaval anos 80 e 90 e, meu Deus, como fui feliz ali. Como estou de recesso etílico, num determinado momento, lá pela fronteira entre um dia e outro, quando magistralmente o hoje vira amanhã e ao mesmo tempo torna-se ontem, eu pude - sóbria - ver aquela massa humana embriagada, pulando suada ao som de músicas deliciosas (que, como sempre, ao seu tempo eram chamadas de baixaria). Foi tão lindo ver aqueles corpos sensuais, se mexendo, subindo e descendo sem nenhuma vergonha da sexualidade que exalava dos poros. Como somos bonitos, nós baianos, assim, dançando um ritmo que é tão nosso, que nos entrega, como uma legenda a quem quer que nos leia. Só nós sabemos dançar daquele jeito. Só nós sabemos o tempo do Aê, Aê, do grito certo na hora certa, da mão pra cima, na palma da mão, do quadril pra cima e pra baixo, pra frente e pra trás, do jogo de ombro e bunda que é lindo demais.
Hoje vi um clip de danças de rua nestes canais de clips e vi que somos muito originais e que é muito preciosa a forma como dançamos. Já sou franca admiradora do arrocha, que gostaria muito de saber dançar, sobretudo com parceiro, mas cada vez mais me encanta como somos dançarinos natos.
Voltando ao nosso carnaval, a cidade fica uma loucura. Eu acho muito bom essa coisa de se transformar uma cidade por conta de uma festa. Acho isso simplesmente revolucionário. Os europeus enlouquecem com essa possibilidade e por coisas assim o francês Michel Maffesoli acha que somos exemplo para o mundo pós-moderno. Tudo bem que quem mora aqui sofre demais com essas transformações. A Barra fica impossível. Mas isso não é culpa da festa. É culpa da falta de educação e cidadania. Se é pra montar camarote na calçada, custava colocar corredores na pista para a gente passar? Pedestre realmente não tem vez em Salvador, mas isso já é outra conversa.
Li uma entrevista de Jacques Wagner onde ele diz que não tem medo da Copa do Mundo. Quem faz o maior carnaval do mundo, um carnaval que dura uma semana e que recebe números asssombrosos (que no momento eu não sei quais são) no carnaval, lotando ruas e avenidas, não vai se assustar com uns gatos pingados que virão ver a Copa (obviamente que estas palavras toscas são minhas e não dele.) Acho lindo termos uma indústria do prazer, da música, do entretenimento, da felicidade. Só acho uma pena que poucos lucrem de fato com essa indústria e que muitos paguem a conta.
Mas, volto a repetir, a culpa aqui, não é da festa.
Vc está sendo bem romântica...! Há muito o carnaval deixou de ser uma festa democrática e popular e passou a ser uma festa pra "inglês ver",onde o espaço público é tomado pelos camarotes e blocos (por sinal caríssimos), onde a parte que cabe ao povo "nesse latifúndio" é segurar cordas, catar latas, vender bebidas, apanhar da polícia etc... "O pelourino" e o carnaval"não é mais aquele", só ficou mesmo a falta de educação e cidadania, que diga-se de passagem não é só do povo pobre minha Bahia,mas de todas as classes em geral e de muitos turístas, inclusive estrangeiros, que acha que aqui é "casa de mãe chica" e pode fazer tudo, até turismo sexual, um bando de FDP e nós, aí incluo tb o Estado e o governo,ficamos aqui bajulando com essa "estória" que baiano é cordial. No final de tudo pagamos as contas e quem lucra são os donos de blocos, "artistas" da axé music, emprasários do ramo turístico e políticos (no caso,os corruptos q recebem o "arrego"). A copa de 2014 será a mesma coisa será do mesmo jeito ou pior, no final as contas sobrarão para o povo, é o velho e famigerado "contrato madacaru"...
ResponderExcluirGeorge Matos
Então o que fazemos? Nos matamos ou esperamos 2012? É o Juízo final? O mundo era lindo e de repente ficou assim, horroroso? Não sou ingênua, George, não sou não. Sei de todas essas merdas que vc está falando e concordo com elas. Mas acho que tem uma coisa maior do que tudo isso e que fica. A merda do capitalismo vai passar, tá demorando, mas vai passar e tudo isso que nos une e nos define, iss não passa nunca. Aponte pra mim um período da história em que não tenha havido opressão, diferença entre classes sociais, exploração, tramóia, sacanagem. Não inventamos isso. Podemos acabar com isso um dia (se não formos de fato um planeta de expiação...) O que eu acho ingênuo, e perigoso, porque nos enfraquece, é achar que isso tudo que vc falou que é o fato de nossa existência, que é o mais importante. Eu acho que a força que está no carnaval e no futebol e em tantas outras coisas é maior e é pra sempre. Ela não vai acabar, vai se transformar. Eu acho, na boa, transgressor, ser feliz no carnaval. Eu acho foda o quanto pobre se lasca e rico ganha mais dinheiro, acho foda mesmo, mas há lago maior do que isso e é sobre essas coisas que eu quero falar. Não quero pensar o mundo só do ponto de vista político-socialista, eu faço um esforço para não ser assim, porque de certa forma eu sou, mas eu sinto que essa discussão não dá conta de tudo. E olha, eu não estou sozinha. Tem uma porrada de gente que escreve e já escreveu no passado sobre isso. Bakthin fala da força do carnaval, das manifestações populares,da piada, e olha que a França de seu tempo não era gatinha, não. O povo era explorado e muito. Bom, negão, adorei a provocação. Isso é quase outro post. Estou aberta á tréplica... Onde vc está neste carnaval, a propósito?
ResponderExcluirEsqueci de falar da Copa. Oh, gente, não vamos odiar a Coap desde já, não. Se a gente mudasse o foco, se a gente não odiasse a Copa mas acompanhasse sua realização e se nos tornássemos autores deste evento ela poderia ser do jeito que a gente deseja e merece. O problema é que a gente é muito bom pra reclamar, mas pra fazer...
ResponderExcluirGente, eu não concordo com as merdas, como disse lá em cima. Eu concordo que as merdas existem... Afi, foi mal...
ResponderExcluirAdriana, quando falei de tudo isso não falei do Carnaval, mas sim do "carnaval", esse carnaval da Bahia, esse carnaval indústria, onde a dimensão povo foi relegada a segundo plano. Falei do carnaval onde meia dúzia de "artistas", seus empresários e agentes controlam quase tudo... Falei desse carnaval onde muitos artistas, bem mais talentosos, não tem espaço. Onde tudo gira em torno do mercado, onde as cervejarias,a Ambav, a grande mídia e um punhado de cantores de axé ditam o q é e como deve ser a festa. Não conheço o carnaval de outras cidades, por circunstâncias profissionais, mas acho q ainda possuem algo de popular ( Recife, São Luís, Rio com os blocos de rua etc), coisa q não existe mais em Salvador.Hj é camarote, que parece mais um micro-shopping, ou blocos, que tomam as ruas e calçadas, ficando um estreito corrredor para a chamada pipoca disputar com a polícia que, como sempre ordinária,faz o papel sujo de proteger os ricos em detrimento dos pobres, com o aplauso dos artistas e da mída. Os miseráveis, alguns é claro, aproveitam e extravazam suas frustrações, ressentimentos e recalques sobre a forma de violência contra outros iguais, dando lugar a mais repressão por parte da polícia... Foi desse carnaval que falei e me referi, mas não impede de fazermos o nosso carnaval, pois carnaval é, antes de tudo, uma celebração, a festa da carne (para cristãos, período que antecede a quaresma ( tempo de oração e jejum). Portanto, independentemente do local ou da forma de celebrar, qq festa nesse período é Carnaval e o meu, como já combinado, será feito na segunda-feira na feijoada de Roger... rs
ResponderExcluirGeorge
P.S.:Tmos que odiar a Copa sim, pois não trará qq benefício para nós, servirá pra enricar mais ainda alguns empresários e políticos... Meus Deus! Obras sem licitação, verdadeiros "elefantes brancos", financiamento público, riscos únicos para o Estado etc. Já as obras que poderiam beneficiar a população ainda não saíram do papel (uma grande malha de metrô, intervenções urbanas q desafoguem o trânsito, ciclovias conecatdas por toda cidade,equipamentos esportivos para atender a maioria da população etc), o Governador não tem medo porque aqui sempre se dá um "jeitinho", tem as coxas pra fazer (esconde os mendigos e moradores de rua em verdadeiros Gulags, encarceram os "pés de chinelos" que furtam, roubam e fazem o pequeno varejo das drogas)e preparar a cidade para os turistas. Ou vc acha que baiano vai ter condições de pagar ingressos de R$500,00 para assistir a alguma jogo na Arena Fonte Nova?
Olha, não liga não, tou chato porque tou sem beber...kkkkkkkk.... afinal a vida é uma barra pra enfrentar sozinho... preciso da velha e boa breja...kkkk
ResponderExcluirAdriana,
ResponderExcluirParabéns pelo blog! Gostei de suas abordagens e desde já vou pesquisá-lo e utilizá-lo como referência para o blog que mantenho desde julho passado, o Futebol-Arte.
No meu caso, a motivação é apresentar o futebol como metáfora da vida, mostrando suas interações com as diversas linguagens artísticas (cinema, música, literatura, teatro, artes plásticas etc.).
um abraço,
Adriana,
ResponderExcluirParabéns pelo blog! Gostei de suas abordagens e desde já vou pesquisá-lo e utilizá-lo como referência para o blog que mantenho desde julho passado, o Futebol-Arte.
No meu caso, a motivação é apresentar o futebol como metáfora da vida, mostrando suas interações com as diversas linguagens artísticas (cinema, música, literatura, teatro, artes plásticas etc.).
um abraço,
Ricardo Roca
http://www.futebolarte.blog.br
Então vamos odiar a porra do Governo não a porra da COPA, ora pois. A copa deveria ser uma grande oportunidade para nós e se não é, não é porque a copa não presta. Eu fico pensando por que o país, o estado, o mundo tá uma bosta? Porque nós alimentamos esta bosta. No nosso dia-a-dia, nas nossa pequenas ações. na forma como tratamos nossos filhos e na educação que damos pra eles (vestibular, sim, amor e afeto, se der tempo...) Na forma como tratamos nossos amigos e os desconhecidos, na rua, no busu, no cinema. Naquilo que fazemos no supermercado quando estão nos olhando ou no banheiro quando estamos a sós. Eu acho o momento eem que estamos podre, mas não acho que não faço parte disso. A forma como me posiciono na sala de aula, no palco, na polícia, nas lojas, tudo isso é o que sustenta esse sistema podre. Aí fica o círculo: tá assim e não vai mudar? Eu acho que um bom começo é olharmos para a coisa em si e reconhecermos nossos próprios preconceitos. E acho, que a gente precisa de fato fazer algo. Compreender as coisas que temos de melhor e nos unirmos é um bom começo. Acho sua indignação, George, pertinente, importante, lúcida, mas o que eu falo no meu texto romântico é de alguma forma político também, porque envolve uma tomada de atitude, um posicionamento. mas, somos dois em abstinência etílica. O povo lá se desgraçando e nós dois bestas aqui discutindo o sexo da copa... rsrsrs
ResponderExcluirRicardo, obrigada pelas palavras. Vamos trocar figurinhas.
vcs já leram o www.artedoespectador.blogspot.com
Lá mesmo que vc vai enfartar, George, quando ler o que eu escrevo sobre o pagode e o axé... Tô esperando vcs lá.
Ah, feijoada na segunda, sem dúvida...
"E a gente vai levando só de birra e de pirraça, e a gente vai bebendo que também sem a cachaça, ninguém segura esse rojão..." Chico Buarque
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