Não vou tratar de questões de gênero numa perspectiva antropológica sobre a presença, ou a relação das mulheres com o futebol. Existe uma abordagem muito interessante proposta por um amigo e colega de doutorado. Ele sugere um olhar (mais simbólico do que antropológico) para o que ele considera ser típico do futebol e do teatro. Rodrigo Dourado, ele próprio estudioso de questões de gênero, considera que o futebol é masculino e o teatro feminino. Por sua própria configuração, pela energia investida em cada um, pela forma como nos relacionamos com cada um deles. Curioso, né? Mas, não é ainda sobre isso que eu vou escrever, até porque ainda não estudei nem bati cabela sobre o assunto, apesar de concordar e achar muito instigante sua proposta.
Vou falar, muito cotidianamente do que tenho visto em termos de participação feminina no universo, sobretudo televisivo, das transmissões e comentários de futebol.
Mas, muita coisa mudou. Minha irmã dedicou-se mesmo à educação (de seus filhos e dos outros) e hoje é professora - como eu. E as TV's estão repletas de mulheres falando sobre futebol.
Eu acho que, tem uma importante conquista de espaço aí, sem dúvida, mas sinto que tem um fetichismo também. Já repararam que as mulheres que comentam ou apresentam programas de futebol são lindas e imensas loiras, com um toque de garota de propaganda de cerveja?
Pode ser que eu esteja com uma puta dor de cotovelo por não estar dando meu carão nos programas (nem ser gostosona como elas), mas não podemos negar que tem uma coisa meio fantasiosa nestes programas 'masculinos'. Mulherão falando de futebol é o sonho de qualquer marmanjo, né, não?Até porque, esteve no nosso imaginário até bem pouco tempo, que mulher que gosta de futebol - e entende - é um tipo masculinizado. Era justamente isso que eu achava surreal em minha irmã. Ela é linda e delicada e falava de futebol como um verdadeiro especialista de buteco (que são os melhores, diga-se de passagem!)
Aí eu fico prestando atenção aos comentários das moças e algumas vezes parece ter uma coisa meio estudada, meio decorada, aquele comentário que é pura retórica (não que os comentários masculinos sejam lá muito diferentes disso), mas parece, em alguns casos, que há um desconforto com o assunto e que a presença de um rosto - e corpo - feminino se impõe mais do que a experiência mesmo da colega no assunto. Note que reforçando minha hipótese do fetiche, ainda não temos uma participação significativa de mulheres nas transmissões de rádio, porque porque neste veículo, o que importa é de fato o que têm a dizer, e não a sua imagem, como na TV.
Deixando um pouco de lado as transmissões, quero dizer que tem uma mulher que manda bem em termos de futebol, que é Clara Albuquerque, colunista do Correio da Bahia. Gosto muito do seu blog Oras Bolas http://www.correio24horas.com.br/blogs/ora-bolas/. Lá, ela faz uma inteligentíssima brincadeira com a coisa do gênero, elegendo, depois dos comentários, os fatos que são o pretinho-básico ou o esporte-fino da semana, tirando sarro, ela mesma, do fato de ser uma comentarista mulher, trazendo para o futebol uma aproximação com o 'aparentemente feminino' mundo da moda.
Suas participações nas transmissões da TV Bahia ainda são tímidas. Ela é bonita, mas não tem aquela cara de modelo de calendário de oficina. Acho que ela pode entrar mais pesado nos comentários. Entendo o suposto desconforto, porque no blog ela comenta mais sobre o universo do futebol, as principais notícias da semana e faz reflexões sobre isso. Na transmissão, ela tem que comentar o jogo, o desempenho técnico dos participantes, os resultados das tabelas e talvez isso lhe interesse menos. Mas, gosto de ver o espaço que ela vem ocupando, apesar de sentir lá no fundinho de minha torpe humanidade um tiquinho de inveja.
Bom, de salto alto ou sapatilha, estamos nós mulheres invadindo este espaço quer seja com a conivência deles por nosso corpão, quer seja por nossos comentários inovadores e olhar inusitado, não importa. Por onde quer que entremos, estamos lá e acho este um fato importante do futebol recente e das conquistas femininas.
A tempo: minha irmã continua fanática por futebol, fiel ao timão (fez seus filhos renegarem o São Paulo do pai e se tornarem corintianos roxos) é uma linda e sedutora professora que vez ou outra incrementa suas aulas de História falando de futebol. Os alunos adoram!!!
É bolada, mulherada!!!