Como meus amigos de teatro estão me ameaçando de abandono por causa de um site que se diz de teatro e futebol mas só fala mesmo é do esporte, vou tentar, neste post, me redimir.
E vou fazê-lo com muito prazer num momento em que considero o mais adequado.
Estamos em plena fase de campanha eleitoral na Cooperativa Baiana de Teatro. Você sabe o que é a Cooperativa Baiana de Teatro? Não? Ah, então é capaz de você não saber um monte de outras coisas sobre o teatro baiano.
A Cooperaiva Baiana de Teatro nasceu em
2 de julho de 2004, quando alguns grupos organizaram-se para - unidos - tentarem resolver problemas que tornavam o fazer teatral quase impossível (difícil ele ainda é). Assim, grupos como
Rebanho de Atores (o meu),
Via Palco,
Criaturas Cênicas,
Cia Brasil,
Cia de Teatro Popular.
Ziringuidum Borogodó,
Território Sirius, entre outros, reuniram-se por iniciativa de
João Lima e outros artistas e fundaram, depois de dezenas de encontros, esta cooperativa.
De lá pra cá foram
06 anos de trabalho,
02 Festivais Nacionais de Teatro,
03 Mostras dos trabalhos dos grupos Cooperados, chamadas de
Lá Vem a Cooperativa, Umas boas dezenas de peças em cartaz, entre estréias, "reprises", temporadas, festivais nacionais e internacionais, eventos de comemoração do dia do teatro, palestras, oficinas, mesas redondas, publicação de jornais, só para lembrar de alguns. Tivemos até agora dois presidentes, João Lima (duas gestões) e Karina de Faria que entregará o cargo em julho, muito provavelmente para Deusi Magalhães. mas, nem só de presidentes vive uma cooperativa. Diretores, coordenaores de áreas diversas, profssionais que além do teatro, fazem de um tudo dentro dessa nossa querida cooperativa. A gente toca o sino e reza a missa. Frita o peixe e olha o gato.
Temos parcerias importantes com o Banco do Brasil, através de um projeto chamado DRS - Desenvolvimento Regional Sustentável, onde somos os pioneiros na área de teatro e estamos abrindo caminho para outros negócios com teatro. Outro parceiro importante é o SEBRAE, onde também somos pioneiros num processo de formação de modelo para gestão e geração de renda na área da cultura, junto com um grupo de música e com um de cultura popular. Temos agora nossa sede própria, conseguida através da parceria com a Secretaria de Cultura. É lá no Pelourinho e em breve todo mundo vai pra lá celebrar com a gente o teatro baiano que ainda há e sempre haverá! Quando isso já foi feito antes em Salvador, na Bahia ou mesmo no Brasil?
Muitos cooperados, além de estarem nos palcos da cidade - ainda que alguns insistam em não ver - estão em diferentes espaços onde não apenas se faz teatro, como também se discute o tema. Inúmeros são os cooperados que estão nos programas de pós-graduação, sobretudo de Artes Cênicas, tanto em nível de doutorado como mestrado. E, inevitavelmente, suas pesquisas relacionam-se com sua prática e mesmo com o sentido da cooperativa.
Só para dar dois exemplos, o projeto de Karina de Faria trata da
sustentabilidade dentro do fazer teatral, numa época em que disseram também que não havia teatro na Bahia (oh, mania!!!). O meu, como vcs já sabem, trata do estudo do público e sua adesão ao espetáculo teatral (no meu caso em comparação com o caudaloso público de futebol). No mestrado os projetos de cooperados sobre processos criativos ou análise de espetáculos também são numerosos. Mas, voltemos ao ponto central do post.
Falar que temos uma cooperativa baiana de teatro, significa dizer que temos
outras formas de fazer as coisas, que não aquelas oficializadas. Isso também se diz do teatro, feito nos palcos - todos eles. Diz-se a boca pequena (ou melhor, a boca bem grande) que Salvador não tem mais teatro. São as belas adormecidas que cochilaram no final da década de 90 e ainda não acordaram. Quando acordam, dão uma olhadinha no cenário, não se agradam e dormem de novo. O problema maior de seu sono - com sonhos e pesadelos -
é que eles roncam muito. E esse ronco
tá começando a encher o saco.Yes, nós temos teatro. E dos bons. Não temos teatro europeu, porque se não estou enganada não estamos na Europa e não temos apenas uma matriz cultural (Ah, Darcy Ribeiro, me ajuda!!!) Talvez não seja o que
você queria estar vendo. Ou mesmo o que
você gostaria de estar fazendo. Talvez esteja nas mãos de pessoas que
VOCÊ não considera as melhores, nem as ideais, mas daí a dizer que não há teatro na Bahia, já é até cafona, para não dizer maldoso.
Definir TEATRO como aquilo que você entende por TEATRO é a coisa mais descabida e fora do tom que se pode fazer num momento como o que estamos vivendo. Em todos os sentidos. Todos os estudos culturais, filosóficos, literários, artísticos, sociais e tudo o mais apontam para a compreensão de que os modelos, a padronização e a construção de cânones já era!!! Não reconhecer a força do que estamos fazendo é perder o bonde da história.
Então, ao invés de desconsiderar o trabalho de uma geração inteira que está lutando por um teatro que seja total, posto que aberto a todos os modelos possíveis - inclusive o teatrão dos grandes medalhões: vá às ruas. Vá às escolas. Vá às associações de bairro. Vá ao subúrbio, à cidade baixa, à região metropolitana. Pode não ser, pra você o melhor teatro do mundo: quem sabe lá qual é este tal teatro? Mas é um bocado de gente de verdade, gente do bem, gente batalhadora que levanta muito cedo pra por um outro bocado de gente em contato com o sonho, com o impossível, com o lado da vida que a gente mais quer.
Precisamos avançar? Sim, precisamos. Precisamos discutir as políticas públicas, as formas de distribuição de renda para a cultura e para ARTE, já que não são sinônimos? Sim. Mas discutir estas questões partindo do rancor e do desmerecimento de toda uma geração não poderá nunca dar bons frutos, já que vira briga de uns poucos com um só (quem tiver ouvidos que ouça).
Agora, vou puxar a orelha de quem faz também: Além de fazer, a gente precisa comunicar. A gente precisa estar articulado (e esta é uma das motivações da cooperativa), a gente precisa falar, se colocar. Por que a gente só fala quando é para falar mal? Por que a gente só se une pra descer o cacete em alguém, pra defender, nunca? Quem foi beneficiado com o inúmeros
editais "para pequenos" (como foi acusado) tem mais é que se unir para dizer a importância que foi este "dinheirinho" na trajetória de seu grupo ou de se sua vida profissional. Tem que dar testa aos que choraram com a redução dos editais
"para grandes" e que ficam ignorando solenemente o teatro que a gente faz.
Jamais vou esquecer uma bobagem sem precedentes que o ator
Cacá Carvalho falou quando esteve aqui, logo no início da gestão de Márcio Meirelles. Ele tocou em dois pontos que para mim foram suficientes para ter muitas ressalvas a seu trabalho (porque arte e idologia para mim andam juntas). No final da peça
O Homem com a Flor na Boca, no SESC-SENAC Pelourinho, ele disse que "soube" e lamentava muito que Salvador estava sem atividade teatral e que (agora vem a pedrada) o
baiano só se importava mesmo com o BA-VI. (silêncio constragendor...)
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Sem comentários para Cacá Carvalho e sua caca do tamanho de uma jamanta.
É fazendo e só fazendo que a gente chega no teatro que a gente quer. E quando a gente chegar no teatro que a gente quer, vi ser bom demais descobrir que tem teatro ainda melhor que a gente se quer sonhou querer. E esse processo não vai acabar nunca. E aí, um dia, a gente vai morrer, porque como diria o sábio Chicó
"tudo o que é vivo morre". Mas não vai ter o menor problema, porque morre o homem (e a mulher) e fica a humanidade.
É bolada, fazedor de teatro!